Um passo de cada vez

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Meu coração para por um instante... Não consigo respirar. Olho Júlio nos olhos, estou com medo, morrendo de medo de ter perdido minha melhor amiga.
Saio da cozinha correndo para saber o que aconteceu, mas a vontade é de ficar parada ali mesmo, com medo de não obter uma resposta positiva. Sinto Júlio correndo atrás de mim...

(Recomendo que nesta cena você escute a música when the party's over da Billie Eilish)

Quando passo pelos balcões e viro para a esquerda, paro involuntáriamente. Vejo Juliana sentada no chão e seu rosto, suas mãos e braços estão lavados em sangue fresco, mas não é dela.... É da... MARINA.
Juliana levanta o rosto, que estava até agora olhando para aquela criança pálida e sem vida, e me encara. Ao me olhar é como se nós duas soubéssemos que finalmente tudo acabou. Seus olhos estão vermelhos, lágrimas escorrem e sem pensar duas vezes eu vou ao encontro da minha amiga.
- Por favor mocinha, não se aproxime da vítima, isso é uma cena de crime - diz uma policial.
Não ligo, me sento ao seu lado. Ela me olha.
- LUANA EU... EU NÃO SEI POR QUE ELA FEZ ISSO - grita ela. Nunca tinha visto a Ju tão abalada e chorando tanto.
- Como assim? - Pergunto sem entender.
- O tiro era pra mim, PRA MIM - diz apertando a menina em seus braços.
Nesse momento eu sinto meu coração despedaçado. Óbvio que estou feliz pela minha melhor amiga estar viva, mas isso não diminui o fato de que uma criança cheia de vida pela frente ter morrido no seu lugar.
- Calma, shi, vai ficar tudo bem - dou um abraço nela por trás. Tento ser forte por ela, mas não consigo e começo a chorar com ela.
- Era para ser eu... Era para ser eu... - diz Ju.
Ela ficou repetindo isso, até que a mãe da criança chega.
- Senhora fique calma - diz outro policial.
- NÃO QUERO FICAR CALMA - diz a mãe empurrando o policial.
- Senhora se contenha - diz ele.
A mulher consegue passar pela multidão de curiosos olhando os feridos e os dois políciais. Alguns estão chorando e outros só querem matar sua curiosidade... Desalmados.
- NÃOOOOO - diz a mãe - MINHA FILHA... POR QUE DEUS - ela se ajoelha e se aproxima de nós.
- Ju, entregue ela para a mãe - digo em meio as lágrimas, mas é como se ela não estivesse ali - JULIANA - ela me encara assustada - não há mais nada que possamos fazer... ela se foi.
Ela foi soltando a menina e a mãe a pegou nos braços.
- Desculpa, desculpa moça, desculpa - falava Ju sem parar em meio a soluços.
Sua roupa estava vermelha, ela estava em estado de choque. Nós levantamos e fomos para perto do Júlio.
- Lu, é tudo culpa minha - disse Ju.
- NÃO, ESCUTA AQUI, ISSO FOI UMA FATALIDADE, NINGUÉM PEDIU PARA ISSO ACONTECER - falei alto para todos ouvirem - SE TEM ALGUM CULPADO É AQUELE MONSTRO - a abracei.

Enquanto a mãe chorava e gritava com a filha nos braços, a policial veio até nós.
- Desculpa meninas, sei que vocês devem estar em choque com tudo que ocorreu aqui,as precisamos que todos que estavam no supermercado vão até a delegacia.
- Isso é realmente necessário? - Pergunta Júlio.
- Infelizmente sim, é o protocolo.
Juliana, Júlio e eu fomos em uma viatura com a policial, que seus colegas chamavam de Borges. Até o momento não vi mais nenhum dos bandidos... NEM MESMO ELE. Comecei a lembrar dele em cima de mim, me tocando, sua respiração no meu pescoço, ele dizendo o que ia fazer comigo e...
- Luana você está bem? - diz Júlio me tirando do transe. Não posso fraquejar, Juliana precisa de mim.
Estava até o momento com as mãos nas da Ju, mas solto uma e ele a segura no mesmo instante. Entrelaça seus dedos nos meus, o olho nos olhos, ele consegue me acalmar de alguma forma e afastar aquelas lembranças terríveis. Eu não sei nada desse homem além do seu nome, não sei o que ele estava fazendo ali ou da onde ele veio... só sei que ele salvou minha vida, e esse tipo de coisa a gente nunca esquece.
- Obrigada - sussurro para ele. No momento é a única coisa que consigo dizer. Ele sorri, um sorriso lindo, mas o sorriso não parece ser verdadeiro, seu olhar é triste. Todos estamos tristes pela Marina.
Finalmente chegamos a delegacia, saímos da viatura e ficamos na recepção com todas as outras pessoas que estavam no supermercado, mais as que já estavam lá. Estava muito cheia, tinha no mínimo umas 60 pessoas que estavam naquele momento fazendo suas compras.
O relógio marcava 13:20 quando a Ju foi chamada para dar seu depoimento e fazer o reconhecimento DELE.
- Lu eu não vou conseguir, eu não vou - disse ela em um tom fraco, quase inaudível.
Ela já tinha parado de chorar, mas estava muito abalada.
- Polícial Borges será que eu posso entrar com ela? - pergunto - ela não está bem.
- Tudo bem, tudo bem, pelo menos poupamos tempo e já fazem as duas também - ela olha para Júlio do meu outro lado - venha você também.
Fomos até a sala do delegado.
- Muito prazer, Delegado Peçanha.
Contamos toda a história cada um de nós. Quando chegou a vez de Júlio, eu já não aguentava mais, ia ouvir a mesma história pela terceira vez.
- Nome - disse o delegado, enquanto o escrivão começava a escrever.
- Júlio de la Cruz.
- Conte exatamente o que estava fazendo ali - diz o delegado.
- Meu pai é alcoólatra senhor e minha mãe está com câncer de mama - disse Julio. Todos o olharam com pena - eu já sou homem doutor, na verdade, tive que ser desde muito cedo - sua voz estava meio embargada, ele fungou e enxugou uma lágrima.
- Sinto muito meu jovem, que bom que sua mãe tem você - disse o delegado o confortando.
- É, que bom - ele disse com uma amargura na voz.
- Continue - pede o delegado.
- Eu havia acordado cedo, e resolvi ir no supermercado fazer nossas compras da semana, no dia a dia eu não tenho tempo, trabalho como motoboy, tinha acabado de chegar e minutos depois anunciaram o assalto, me escondi nos fundos, mas aí avistei minha amiga e fui ajudá-la...
O resto da história já conheço, estávamos juntos o tempo todo. O escrivão fez que "sim" com a cabeça para o delegado.
- Bom, a história de vocês batem, agora vou precisar que vocês sejam fortes para fazer o reconhecimento do chefe - diz o delegado - acredito que foi o único que tirou a máscara - ele diz me olhando. Foi muito difícil ter que contar em detalhes tudo o que vivi ali naquela cozinha, foi como se eu revivesse tudo outra vez.
Saímos da sua sala e andamos pelo corredor.
- São 10 no total, prendemos todos não se preocupem - diz ele como se estivesse lendo meus pensamentos. Viramos para um corredor a esquerda e entramos numa porta que dizia Interrogação. Entramos num pequeno corredor que tinha uma porta de vidro. Nós sentamos, o delegado pediu a Julio que ficasse e só me permitiu entrar com Juliana pq estávamos abaladas, uma precisava da outra.
Passamos pela porta e estávamos numa sala escura que tinha a visão de uma sala branca, e iluminada, vimos todos os 10 ali... Inclusive ele. Meu coração gelou, comecei a suar frio, novamente as malditas lembranças.
"... Você tem um cheiro tão bom..."
"... Vou meter em você..."
"... GOSTOSA..."
- Calma, eles não vão lhe fazer nenhum mal, eles não conseguem nos ver e nem ouvir - disse o delegado me salvando do meu loop de lembranças, estou me tremendo dos pés a cabeça, mas acho que disfarço bem, Ju não percebeu.
- SEU DESGRAÇADO, EU VOU TE MATAR - Ju se desvencilhou de mim e correu para o vidro e começou a bater forte - MONSTRO, ELA ERA SÓ UMA CRIANÇA, SEU FILHO DA PUTA - a tristeza aos poucos foi se transformando em raiva, nunca vi Juliana assim.
- Ju, calma - em vez do delegado me ajudar a repreender ela e tirá-la dali, ele apertou um botão na parede, acendeu uma luz vermelha em cima da porta que dava acesso a sala onde eles estavam.
- DESCULPA, e-eu não tinha intenção de matá-la - dizia ele, o chefe da quadrilha enquanto Juliana o xingava dos piores nomes - eu tenho uma filha, jamais mataria uma criança... Não sei o que deu em mim, lembro de subir em cima da garota gostosinha, eu queria comer ela, sim, isso eu queria...
- Seu desgraçado, eu espero que façam o mesmo que você tentou fazer comigo na prisão, que é para onde você vai seu MONSTRO - digo indignada em ver como ele fala com tanta calma que queria me fazer mal.
- Eu te queria sua vadia - ele se levanta e recuo para trás, me afastando do vidro, porém ele não avança, só agora percebi que todos então algemados e presos nas suas respectivas cadeiras - mas não queria ferir a menina, parece que eu apaguei, depois de subir em cima de ti eu não lembro de mais nada... Já lembro do momento em que eu vi a menina sangrando no colo da sua amiguinha aí - apesar da raiva e de não demostrar arrependimento pelo que fez comigo e ter matado outras pessoas, ele realmente não queria ter matado Marina, seu olhar está perdido, confuso, como se ele não lembrasse de nada do que fez naqueles minutos... Como se estivesse em transe, mas isso não é possível.
- Então? - pergunta o delegado - é ele?
- É sim!!! - dizemos eu e Ju ao mesmo tempo.
Jamais vou me esquecer do rosto do homem que me fez tando mal. Careca, olhos negros, branco e dentes amarelados. O homem mais asqueroso que já vi em toda minha vida.
- Então é só, obrigado. Estão liberadas.
- ah, não, vamos esperar o Júlio - digo.
- sim, claro. Mande seu namorado entrar.
Fico sem reação e sem saber o que falar... Parecemos um casal? Dou um leve sorrisinho com a ideia.
- Ah não, não somos um casal - digo sem jeito.
Saímos pela porta de vidro e nos sentamos.
- Sua vez - digo.
- Okay, lá vou eu.
Ele passa pela porta e sinto Juliana me puxar.
- Ele vai demorar muito amiga?
- Eu espero que não.
Nossos telefones tocam.
- É o Lucas - digo.
- É o José - diz Ju.
Me levanto para dar privacidade para Ju e fico perto da porta, aproveito para dar uma espiada.
- ALÔ, LUANA, ALÔ - gritava Lucas ao telefone.
- Oi Lucas.
- Amiga como vocês estão? Já sabemos de tudo, vimos pela TV - disse ele.
- TV? Aí meu Deus, espero que não chegue aos ouvidos ou olhos dos meus pais - digo fechando os olhos e respirando fundo, meu celular apita, vejo que é uma mensagem do whatsapp do Lucas, é uma foto da TV deles, está passando no Jornal a notícia do roubo do supermercado... Vou ter que ligar para previnir os meus pais, antes que eles surtem e me mandem voltar para o Rio - estamos bem sim, agora estamos, a Ju ainda tá muito abalada.
- Claro, óbvio. Ficamos muito preocupados com vocês, pode contar conosco.
- Obrigada migo - digo feliz por já termos amigos aqui, segurar essa barra sozinhas ia ser pior.
- Vocês querem que a gente vá buscar vocês, afinal vocês devem estar perdidas - pergunta ele.
- Não, obrigada, o Júlio vai com a gente - digo.
- JÚLIO??? Humkk kkkk - estava demorando rsrs.
- Só você pra me fazer rir numa hora dessas.
- Claro, para isso que servem os amigos e vizinhos - diz Lucas - mas afinal, como ele entra nessa história?
- Foi uma feliz coincidência ele estar no mesmo supermercado, na mesma hora - digo - Ele salvou minha vida Lucas.
- Nossa ele sempre está por perto quando você precisa né? INCRÍVEL - diz ele insinuando alguma coisa.
- O quê você está insinu... - paro de falar e foco na cena de terror que vejo pela porta de vidro.
O delegado Peçanha imóvel, como se estivesse congelado no tempo, os bandidos também, viro para trás e a Ju também não se mexe. Não escuto mais barulho, porém, Júlio e o Chefe estão se mexendo normalmente como eu, ou melhor, o bandido está em Pânico.
- Foi você, foi você que sussurrou alguma coisa no meu ouvido... Você disse que eu deveria lhe dar outra alma, a amiga, você mandou em matar a amiga da garota, aí a criança se jogou na frente... É-é como se você tivesse me hipnotizado, EU MATEI AQUELA CRIANÇA POR SUA CULPA SEU DESGRAÇADO.
- NÃO, você matou porque é uma pessoa perversa e tem que pagar...
- Eu não entendo, você disse que eu deveria matar a garota, depois mudou de idéia, você é louco? - pergunto o bandido com raiva e alterado.
- MAS NÃO MANDEI ESTUPRA-LÁ - gritou Julio, eu não me mexia, não respirava, não estava conseguindo processar o que estava ouvindo. O Júlio, ele não era meu salvador, mas sim o mandante!? Comecei a ficar sem ar. Merda, agora não, preciso ouvir tudo, TODA A VERDADE - confesso, vocês são bem úteis - dizia ele com as mãos para trás encarando o bandido, dava para ver sua face pelo reflexo do vidro que dividia a sala em que estavam - fazem a maior parte do trabalho, só direcionamos vocês para as pessoas que queremos que morram - diz ele friamente, meu coração dói, ele se passo por meu amigo e queria ver a mim e a minha amiga mortas.
- Qual a diferença de matar ou estuprar. Você queria ver ela morta eu queria aproveitar um pouquinho antes, necrofilia não me atrai muito sabe.
- CALA A BOCA PARA FALAR DELA - ele estava sem controle, fora de si... Era um Júlio desconhecido... SOMBRIO - Eu mudei de ideia, não queria mais que ela morresse.
- Ahhhh, você está comendo ela né? - diz o bandido.
- SILÊNCIOOOO - diz Júlio, mas não é a sua voz... É uma voz forte, quase como um trovão... Chegou a ser monstruosa.
- Meu Deus - Disse o bandido enquanto se encolhia na sua cadeira - o que é você? - ele suava frio, chorava, se tremia inteiro.
Nesse momento eu foquei no rosto de Júlio, seus olhos, seus lindos olhos cor de mel, se tornaram completamente negros, ao redor da cavidade dos olhos surgiram rachaduras negras na sua pele, que iam se ramificando a medida que tomavam conta do rosto. Me sentia fraca, com medo, aquela sensação que tenho perto dele... Nunca esteve tão forte, como se nunca mais fosse ser feliz, como se a vida estivesse se esvaindo entre meus dedos e ele estivesse sugando minha alma... Ele, n-não era h-humano.
Foquei no que via, comecei a me sentir fraca e a minha visão foi embaçando... Não posso desmaiar agora.
Uma fumaça negra saiu das suas mãos e foi em direção do bandido.
- NÃO, NÃOOOOOO, SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDA - disse o chefe gritando por ajuda, mas ninguém veio - O quê você quer de mim? Me deixa ir preso, eu v-vou pagar pelo que fiz - implorou ele.
- Não, chegou a SUA hora, aqui neste plano não vão te punir como deve ser punido, sofrendo - disse Júlio e nesse momento a fumaça penetrou o vidro e tomou conta do bandido, entrou nos seus olhos, nariz, boca e ouvidos.
- Ahhhhh - gritou ele enquanto seu corpo era erguido no ar envolto na fumaça negra. Segundos depois sei corpo cai na cadeira, frio e cinzento, completamente sem vida, mas ainda é possível escutar os gritos dentro da fumaça que ainda sobrevoa o corpo do bandido... ELE RETIROU A ALMA DELE, isso só pode ser um pesadelo, e-eu estou sonhando...
- NÃOOOOOO - ele grita enquanto Júlio mantém a fumaça com uma mão e com a outra ele abre uma espécie de portal e joga a alma para dentro.
Nesse momento minha cabeça gira e eu caio no chão. Tento abrir os olhos, mas não vejo nada nítido, minha cabeça dói muito, vejo um vulto correr até mim.
- LUANAAAA - escuto sua voz longe, só consigo ver seus olhos, amarelos intensos... Júlio... Está normal de novo... Apago.
Vou abrindo os olhos aos poucos, olho minha mão, está com acesso venoso, estou com roupa de hospital, num leito de hospital... A não, eu estou num hospital.
Tento levantar, mas minha cabeça dói muito.
- Aí - digo.
- Calma aí mocinha, devagar com a dor - diz Ju.
Olho para a direita, ela está do meu lado, sentada numa poltrona.
- O que houve? Porque estou aqui? - pergunto.
- Você não lembra de nada?
- lembro de estar falando com o Lucas perto da porta, você estava sentada falando com o José e... Não lembro de mais nada.
- O Chefe dos bandidos morreu e você viu tudo! - disse ela.
- O QUÊ? AI.
- Calma, não sabemos o que ouve, enquanto Júlio o reconhecia o delegado falou que ele começou a falar coisas estranhas, que o Júlio não era humano e começou a bater a cabeça no vidro até que quebrou... Ele..
- Fala Juliana.
- Pegou um caco de vidro e cortou o próprio pescoço, você viu tudo, deixou o telefone cair e desmaiou, Júlio veio te socorrer, te trouxemos para a UPA - disse ela.
- Como eu não lembro de nada... Apaguei por quantas horas?
- Três dias!
- O quê? Como assim? E-eu tenho a minha entrevista marcada segunda - feira...
- Amiga hoje é terça - feira, são 12:30. O médico disse que o sono demorado foi devido ao estresse pós traumático - disse ela se levantando e se aproximando - eu fiquei com tanto medo de te perder também - ela ficou com a voz embargada e me abraçou.
- Você não vai me perder... Já eu, perdi minha única entrevista de emprego.
- Ihhhh, já tá boa pelo visto - disse ela com um sorrisinho debochado - Eu...
- É sério Ju, como vou ajudar nas despesas do apartamento, eu...
- CALA A BOCA - gritou ela - eu liguei para lá, a gerente super entendeu e remarcou.
Olhei para ela com um sorriso no rosto.
- Sei que sou perfeita, já pode me agradecer kkk - eu sei que ela não estava bem, mas parecia melhor.
- Você é a melhor pessoa do mundo.
Olhei para a esquerda e vi um buquê de Rosas num vaso.
- Quem me trouxe flores?
- Hora quem, JÚLIO né? - disse Ju e eu fiquei encantada, ele é tão meigo e carinhoso, foi tão gentil comigo, segurou minha mão na viatura - ele veio te visitar todos os dias, até pediu para revezar comigo, mas o Lucas fez isso.
- Tem bilhete!?
- Sim - ela foi colocou a mão no bolso e me entregou... ABERTO.
- VOCÊ LEU? AH EU NÃO ACREDITO - falei enraivecida.
- Foi mau, não resisti, ele é tão fofo - disse me entregando.
De: Júlio
Para: Lu
Fiquei morto de preocupação contigo, espero que melhore logo, se você está lendo é por que acordou, então já fico feliz por isso, espero que se recupere rápido. Um beijo.
Não consigo controlar um sorriso, ele é muito fofo e carinhoso.
- Hummmm alguém está apaixonadah - diz Ju.
- Cala a boca, eu sinto algo bom por ele, meu coração fica quentinho perto dele sabe, mas não sei se é amor ou paixão... Talvez seja amizade.
- Que amizade o que, trata de sair dessa cama e vai beijar aquele homem - diz ela rindo.
- Credo Juliana, eu sinto tudo isso por você e é amizade, ou eu tenho que te beijar também? - falo com deboche.
- Por mim tudo bem - diz ela fazendo biquinho e querendo me beijar kkk.
- Sai sua doida kkk.
De repente o médico entra no quarto.
- Finalmente acordou - disse ele - Dr. Rúbens, muito prazer - ele sorriu. Tinha cabelos negros meio grisalhos nas pontas, olhos azuis e pele parda, muito lindo de fato.
- Dr. Como ela está? - pergunta Ju.
- Sente alguma coisa Luana?
- Só a cabeça que ainda dói.
- Normal, é devido a queda, mas está tudo certo com seu crânio - diz sorrindo - vou examiná-la agora - ele se aproximou - sente-se por favor.
Sento e ele coloca o estetoscópio para realizar a minha ausculta pulmonar.
- Respire... Respire... Respire... - faço o que ele pede enquanto muda a posição do objeto para ouvir - Bom não há ruídos nem chiados, a enfermeira aferiu sua pressão hoje cedo e estava regular. Você está liberada.
- Graças a Deus - diz Ju - Não aguento mais essa cadeira velha, estou toda quebrada aqui. Eu acho graça, o Dr. Também.
- Tem alguma medida ou cuidados que eu preciso tomar Dr.? - digo.
- Não, só se alimentar bem, beber bastante líquido e repouso... Eu indicaria que ambas marcassem um consulta com o psicólogo da UBS do bairro de vocês, o trauma que vocês passaram é ...
- Estamos bem - dizemos ao mesmo tempo.
- Okay então.
- É, Juliana você disse que me daria seu número antes de ir - disse ele a olhando com segundas intenções.
- Há claro, de repente ela passa mal de madrugada - diz ela pegando o celular do médico e anotando seu número - muito obrigada Dr. Rúbens.
- Que isso, me chame de Rúbens...
Eu pigarreio.
- Eu vou indo agora - diz ele.
- Obrigada Dr. - digo.
- Quando posso te ligar? - ele perguntou já na porta.
- Me liga no Sábado ou no Domingo.
- Ótimo - ele sai.
- Só eu que arraso com os corações é? - digo sorrindo.
- Cala a boca, vamos logo embora.
20 minutos depois, estávamos na entrada do hospital.
- Nem acredito que vamos voltar para casa - disse Ju.
- Nem eu - digo no momento em que o nosso carro particular chega.
Entramos e seguimos para casa.
De repente, eu me lembro.
- MEU DEUS, JULIANA.
- O quê foi? Você tá se sentindo mal? Tá doendo onde? FALA MULHER.
- Eu lembrei que a matrícula era até segunda também - digo assustada, puta merda, só falta eu perder a vaga na universidade.
- FILHA DA MÃE... eu achei que era algo sério.
- Isso é sério.
- Tá, eu liguei para lá, expliquei a situação e eles falaram que não podem adiar, então tinha que ser segunda.
- Merda, merda, MERDA - o motorista olha pelo espelho meio assustado por estarmos gritando.
- Massssss, eu peguei um documento no hospital e levei como sua representante e eles aceitaram e me deixaram fazer sua matrícula por você.
- AHHHHHHH, TE AMO - pulei em cima dela e lhe abracei.
- Para doida, o motorista vai achar que sou lésbica kkk.
Hahaha não tem como ficar séria com ela. Chegamos. Passei pela hall e fui cumprimentada por Breno.
- Que bom que você está bem, seja bem vinda e bom dia - disse ele com um belo sorriso no rosto.
Já no nosso apartamento eu corri para o banheiro e tomei um banho, enquanto Ju preparava o almoço.
Enquanto tomava banho pensei no Júlio e nas flores...
Terminei o banho e fui para meu quarto colocar a primeira roupa que encontrei.
- Como é bom estar de volta - digo sentando na mesa.
Ela coloca um prato de carne com legumes na minha frente, acho que ela TENTOU fazer um cozido kkk, Ju mal frita um ovo, que dirá preparar cozido.
- Obrigada, eu acho - digo rindo.
- Come logo que tá bom - diz Ju se sentando na minha frente.
- Eai, como você está? - pergunto. Ela tem evitado falar sobre a Marina. Provo o caldo, meu Deus, tá horrível kkk.
- Eu estou bem amiga - ela passa a colher no prato.
- Ju, fala a verdade...
- EU TÔ BEM - ela quase nunca grita comigo, na verdade é contado nos dedos as vezes que brigamos na vida - eu, eu vou ficar bem - ela prova sua comida e faz uma cara horrível - puta merda isso tá horrível.
- Hahahaha.
- Ah, não ri, eu fiz com boa vontade.
- Eu sei, mas tá horrível - digo - vai descansar que vou preparar alguma coisa pra gente comer.
- Mas você precisa descansar...
- Eu tô bem, você também precisa descansar.
Ela relutou e desistiu, foi se deitar. Quando terminei já eram 14h, ela estava tão cansada, não quis chamar. Tive uma ideia para ajudar ela a superar a morte da Marina.
- Alô, Breno. Lembra que você falou que podia pedir qualquer coisa? Tem como você comprar umas coisas para mim e deixar lá na área da piscina.
Liguei também para Lucas e José. Contei o plano e eles super toparam. Marquei as 20:00 horas todos na piscina. Eles iriam adiantar as coisas por lá TB.
Breno bateu na porta, passei para ele o que era preciso comprar, ele subiu e pegou o dinheiro. No momento em que eu fechei a porta ela acordou.
- Nossa que cheiro bom, isso é macarronada?
- Sim, de frango com molho 4 queijos, sua preferida.
- Te amo - disse correndo e se servindo.
Depois que comemos... Ficamos no sofá assistindo Netflix.
- Esqueci de te falar, eu liguei para meus pais para contar tudo, aí eles acabaram ligando para os seus... Seria bom você ligar para eles mais tarde ou amanhã.
- Tudo bem, eu queria ter contado, mas se eles estão calmos já está ótimo, você sabe como eles são - digo.
Umas 17:00 recebi uma mensagem de texto do Breno " Tudo ok, já está lá em cima, depois pega seu trouco comigo". Digitei discretamente " você é um anjo, obrigada".
Anoiteceu, jantamos e disse:
- Vai tomar banho.
- Porquê? - perguntou ela.
- Vamos sair e vai ser importante.
- Lu eu não tô no clima e...
- Por favor, por mim, não dá para continuar assim, você não é mais você - digo seria e ela não me olha nos olhos - se você estivesse bem, já teria até transado com o médico bonitão e estaria mandando eu fazer o mesmo.
Ela me olha e começa a chorar.
- Você vai gostar, vai fazer você se sentir melhor, a nos sentir melhor.
- Ok, o que não faço por você - diz ela enxugando as lágrimas e indo tomar banho.
- Coloca uma roupa bonita, vai ser especial.
- Aí meu Deus, que mistério - diz ela de dentro do banheiro - não dá para adiantar nem um pouquinho?
- Nahhhh.
- Tá, chata.
Já era 19:40 quando estávamos prontas.
- Vamos? - pergunto.
- Bora logo que eu não tô me aguentando de curiosidade.
Saímos e pegamos o elevador. Ela já ia apertar o botão para descer...
- Não, vamos subir.
- Quê? - diz me vendo apertar o botão do 10 andar - vai ser festa na piscina é?
- Você vai descobrir quando chegarmos lá.

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