𝓛𝓲𝓻𝓲𝓸 𝓑𝓻𝓪𝓷𝓬𝓸

123 42 8
                                    


Saí da minha cama de veludo abrindo as cortinas de seda que escorriam do teto em uma segunda feira as quatro da madrugada, dava para ver o sol ameaçando nascer no imenso vitral do meu quarto, de frente para o mar Mas a lua ainda refletia nos dois candelabros de prata e iluminavam consideravelmente o quarto. Andei com minha camisola de seda branca sabendo que estava prestes a enfrentar uma longa viagem de carro. Quando andei com meus pés descalços no chão húmido, descendo as escadas entapetadas da minha mansão, ainda de pijama fui até a sala de estar, os cozinheiros e as empregadas já haviam se prontificado e preparado um banquete de café da manhã sobre luz de lampiões nas toalhas trançadas, como estava sem fome, só consegui comer a tortilha de merengue com suco de uvas feitas a partir da vinícola Bonviver, que está sobre posse da família Morgan a gerações. Vesti o uniforme preto e luxuoso, que havia sido feito sobre encomenda para mim, com botas de couro e uma jaqueta. Wilbert, meu motorista particular estava de prontidão na porta.
Eu estava com muito frio, o casaco preto que fazia parte do uniforme não era grosso o bastante para me manter aquecida. As janelas do carro prateado do meu pai estavam abertas e meu motorista conduzia o carro, que tinha impregnado o seu aromatizante de amêndoas secas. Era um dia frio de chuva intensa, mal dava para ver a copa das arvores devido ao céu negro coberto por nuvens carregadas, aquela era uma das manhãs mais escuras da minha vida. Na rua quase nenhum outro carro passava pela gente, passamos por um velho cemitério que me chamou a atenção. Havia muita neblina que parecia ter vida, se misturando com o chão devido a altitude do lugar onde estávamos, o topo da serra das leoas. Com pinheiros secos e velhas carcaças de arvores mortas, quebradas e retorcidas. Eu estava com um tedio sem fim e minha boca estava seca. Dentro do veículo, comecei a folhear revistas de moda, enquanto o motorista, sério com barba bem-feita e óculos de vidro com armação fina me olhava pelo retrovisor embaçado, para ver se estava tudo bem.
-Já faz duas horas que estamos na estrada! Eu preciso beber alguma coisa!

-Já estamos chegando, senhorita Morgan!
Ele disse com voz serena. Voltei a folhear a revista

-Que saco.... Achei que meus pais iam querer se despedir de mim, já que eles só vão me ver de novo no semestre que vem! Aliás, eu não entendi direito por que me matricularam no colégio integral Lírio branco. Essa escola não fica lá no fim do mundo? Aposto que dá para ver o abismo na borda terrestre com as estrelas no limite da terra!

-Você sabe o motivo, senhorita Morgan! Não quero ser indelicado, mas seus pais já lhe explicaram mil vezes. Você não é uma garota comum!

-Eu sei, eu sei! Eu sou uma portadora e portadores são monstros perigosos que ameaçam a vida das pessoas comuns, não é o que ia dizer?

-Não, senhorita Morgan!
-Senhor Wilbert! Calado! Você é pago apenas para dirigir! Eu não pedi para que falasse!

-Ora... foi a senhorita que me perguntou sobre a escola....

Sussurrou o meu motorista. A viagem de carro durou mais meia hora em uma tranquilidade entediante, a paisagem não mudou. Cada vez que avançávamos ficava mais difícil continuar na estrada, de tão deserta, estreita e mal iluminada. Tínhamos que desviar de galhos e arbustos crescendo agarrados no cimento, que ninguém cuidava por ser um caminho muito pouco percorrido pelos carros.

Deitei na cadeira de trás cheia de sono, mas o frio me impediu de adormecer. A viagem foi longa e calma sobre estradas lisas, húmidas, escorregadias e perigosas. Me sentei no banco de trás e nos aproximamos de um grande portão de ferro, muito antigo, mas bem preservado. Sua base de metal estava submersa nas folhas secas. Fui recebida por uma senhora com cabelos brancos e um vestido que deveria ser branco, mas estava cinza pelo tempo de uso do tecido. Ela parecia desagradável, e seu humor estava péssimo. Ela abriu o grande portão e pude ver o palácio onde iria estudar, dava para ver que era velho, mas não estava abandonado. A gigante construção toda branca, rustica e um pouco tenebrosa, com arbustos mortos em volta da entrada do palácio branco que aparentava mais de trezentos anos de existência. Um lugar magnifico com janelas de vidro e três largos andares. A velha senhora Amada me guiou até uma cabana de madeira no lado exterior ao palácio adaptado como escola.

𝔓𝔬𝔯𝔱𝔞𝔡𝔬𝔯𝔢𝔰Onde histórias criam vida. Descubra agora