O Plano

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Quando chegou na sua tenda, Kayin foi até a sua esteira, se deitou e começou a pensar em como colocaria seu plano em prática, e finalmente chegou a uma decisão, era arriscada, mas era a única possível naquela situação.

Manifa foi até ele e o chamou para comer:

— Kayin, venha comer! Seu baba te espera.

Os Mandhís plantavam seus alimentos, mas a chuva era pouca, então muitas vezes o alimento não era suficiente.
A Tradição dizia que o alimento era servido dos mais velhos aos mais novos, então Kayin comia antes de seus irmãos, que por muitas vezes só recebiam migalhas.

— Aí está ele! Meu herdeiro! – Wambua parecia feliz com o acordo de casamento de Kayin – Hoje os deuses olharam por ti Kayin!

Kayin seguia comendo calado, e pensando no que teria que fazer mais tarde, e com medo que tudo desse errado, mas ele não iria desistir, faria isso por Jafani.

— Baba – Kayin se ajeitou na esteira – Hoje a noite, durante o meu noivado, posso presentar a noiva?

Wambua olhou para seu filho, presentes eram dados durante a cerimônia de casamento, e não durante o noivado, mas não via mal algum no fato do filho querer agradar a noiva.

— Pode sim Kayin!
— Obrigada baba

Manifa que não falava a não ser que seu marido pedisse sua opinião, permaneceu calada, observando Kayin.

Wambua se levantou, e disse que iria até a grande árvore, pedir conselhos aos anciões, ele gostava de ouvir os mais velhos.

Assim que saiu, Manifa se levantou e disse:

— Que história é essa de presente Kayin? Você conhece bem a tradição, sabe que não se dá presentes no dia do noivado!
— Radhiya parecia triste – Kayin falava enquanto mastigava – e eu só quero alegrar o dia dela.

Manifa balançou a cabeça em negativa, conhecia bem o filho, e sabia que alguma coisa ele estava aprontando, mas antes que ela podesse dizer algo, Kayin já saia correndo pela tribo, enquanto comia um pedaço de milho.

Kayin sabia onde ir agora, precisava ter certeza que tudo sairia como ele queria, ele só teria uma única chance, então decidiu ir falar com quem mais sabia na tribo, o Ancião Gahiji.

— Gahiji, com a benção dos deuses, posso te fazer algumas perguntas?

Gahiji ficava sentado, quase o tempo todo, ele já tinha completado muitas estações chuvosas, seus olhos cor de mel, tinham uma névoa, que não permitia que ele visse com clareza, a não ser quando os deuses lhe mostravam visões:

— Jovem Kayin, herdeiro dos Mandhís, o que aflige seu coração?
— Eu queria saber mais sobre o casamento, meu baba pouco me falou, e minha mama, se sente envergonhada com tais perguntas.

Gahiji pegou seu cajado, e apontou para a porta da tenda e disse:

— Kayin, filho de Wambua, filho de Zwanga, os deuses conhecem o desejo do seu coração, e sabem a sua intenção, então preste atenção – Gahiji pegou um punhado de folhas secas e começou a esfregar – Aquele que é corajoso, e que primeiro entrega seu coração, também é o primeiro a chegar nos braços dos deuses, e a ter direito de comer na grande mesa.

Kayin já sabia o que fazer, agradeceu ao ancião e foi em direção a grande árvore, falar com o seu Baba.

— Chefe!

Kayin agora parecia determinado, mas antes que ele podesse falar, Wambua o interrompeu:

— Estava te procurando, pedi que Manifa te fizesse colares de sementes, e que Amina prepare-se a tinta para a sua pintura cerimonial...
— Baba, eu preciso falar com você..
— Isso pode esperar Kayin, vá até a tenda de Amina buscar a tinta, e traga até mim, eu mesmo quero te pintar.

O Príncipe - Saga Filho da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora