O Príncipe - Saga Filho da Liberdade

A Caçada

O sono de Kayin e Jafani, foi interrompido por barulhos noturnos, dormir na selva não era a mesma coisa que dormir na tribo. Sentaram-se e ficaram atentos aos barulhos, não morrer na primeira noite, era essencial.

— Está ouvindo? - Kayin sussurrava - parece ser um leopardo, pelo visto matou algum animal.
— Estou, ele pegou um macaco, dá para ouvir os gritos, parece ser um filhote.

O barulho na savana era constante, então resolveram  terminar de pernoitar acordados, não queriam ser a próxima refeição noturna de algum felino.

A noite parecia durar uma eternidade, mas, finalmente, os primeiros raios de sol começaram a aparecer no horizonte.

Era sinal de que deviam começar a se preparar para a caçada.

—Como vamos fazer? - Jafani contava a quantidade de alimentos que tinham, pela segunda vez - Emboscada ou armadilhas?
— Não trouxemos cordas.
— Mas podemos fazer com fibras de palmeiras
— Teríamos muito mais trabalho, faremos uma emboscada com arcos e lanças. Só precisamos de um bom local de observação.
— Podemos subir aquele morro, tem alguns arbustos, e ali ao lado, parece ser a trilha que os animais usam para chegar até o rio, provavelmente para beberem água.

Jafani apontara para um morro, poucos metros a frente, a visão era boa do rio, e teriam um lugar com sombra para aguardar os animais que viriam beber água no raso. O plano parecia bom.

— Então vamos comer, beber um pouco de água e vamos explorar o lugar.
— Jafani olha ali - Kayin apontava a beira do rio - nessa parte aparenta ter crocodilos, talvez os animais não venham ate esse ponto.
— Teremos que esperar, só saberemos se ficarmos aqui durante o dia todo.

Kayin percebeu que, embora desejassem muito, não voltariam para casa tão logo quanto imaginavam, não era tão fácil assim.

Juntaram suas frutas, e esconderam sob a areia, não queriam que macacos e outros animais comessem as suas únicas fontes de alimentos, pegaram suas flechas, o arco e suas lanças, e seguiram em direção ao morro.

— O lugar parece bom, podemos ficar ali - Kayin apontava uma pequena moita, que ficava embaixo de uma árvore - Nós teremos sombra e uma boa visão, e os animais não nos verão ali.
— Precisamos disfarçar nosso cheiro, se ficarmos aqui, ficaremos a favor do vento, as impalas vão nos sentir de longe e nem descerão até o rio.
— Podemos passar lama, ou usar cocô de elefante, ou então misturamos cinza com água e passamos em nós.

Jafani não gostava da ideia de ficar a favor o vento, além de afugentar os animais, ainda corriam o risco de serem caçados por outros animais. Abaixados, como estavam, poderiam ser facilmente confundidos com um javali, por um leão ou uma hiena, ele, definitivamente, queria sair dali.

— Tem certeza que é a melhor ideia? - ele resolveu questionar o amigo- ainda estamos no território de Osu, e se as leoas dele, acreditarem que somos algum animal?
— As leoas viriam por lá - Kayin apontava pro outro lado do rio - contra o vento, não a favor, nós as veríamos de longe. Agora abaixe e fique calado.

Já passava do meio-dia e até agora nenhum animal havia descido pela trilha em direção ao rio, ou não iam até ali, devido os crocodilos. Os meninos já estavam com sede, e muito cansados de ficarem na mesma posição por tanto tempo seguido, foi quando um pequeno javali apareceu no topo da trilha, obviamente era um filhote, pelo tamanho, e provavelmente havia se perdido de seu bando. Ele parecia exausto, e claramente estava com sede, e iria até o rio beber água. Não era uma caça digna, mas poderia facilmente matar a fome que Kayin e Jafani sentiam naquele momento.

Kayin estirou seu arco, e mirou com precisão no filhote, tinha certeza que não erraria o animal, foi quando um crocodilo enorme surgiu do nada, e abocanhou o pequeno javali de uma única vez, arrastando-o para dentro do rio, em meio a gritos e sangue. Eles viram o crocodilo rodar algumas vezes seguidas na água, e depois sumir com o almoço deles para o fundo do Rio Ubangi.