Capítulo 2

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Laura gostava de ajudar a mãe com o almoço, mas sua mãe não gostava muito

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Laura gostava de ajudar a mãe com o almoço, mas sua mãe não gostava muito. Senhora Rita tinha uma tendência a ser extremamente protetora com as filhas. Claro, pais costumavam zelar demais, pais de crianças que tinham alguma deficiência, bom... Eles exageravam! Com Laura sendo cinco anos mais nova do que Alice, era de se esperar que Rita tivesse se habituado e entendido que não precisava se preocupar tanto, mas, pelo contrário, ficava sempre em cima da caçula.

As filhas, entretanto, tomavam o cuidado de ignorar a preocupação exagerada. Iam de sair escondido porque os pais não acreditavam que elas poderiam sair sozinhas até... Bom, fazer absolutamente qualquer coisa, porque os pais as achavam incapazes de basicamente tudo.

— Tá pronto. – Laura sorriu, desligando o fogo. O aroma do feijão se espalhava pela cozinha.

— Tem certeza que não precisa de mais tempo? – Rita questionou.

— Absoluta.

— Hum...

Rita olhou desconfiada para a panela antes de soltar um suspiro de rendição e dar um beijo no rosto da filha.

Laura e a mãe não conversavam muito, mas isso não importava. Cozinhavam juntas, isso bastava. Ela se sentia bem em passar esses momentos com a mãe enquanto pudesse. Em sua mente, tinha um plano todo traçado: esconder sua sexualidade até sair de casa, se tivesse sorte, conseguiria trabalho em alguma outra cidade; assim só teria que esconder sua sexualidade em dias especiais, quando tivesse que vir visitar os pais.

Até lá, aproveitava cada momento, cada carinho, cada beijo dos dois.

Adorava como sempre que chegava um pouco mais triste da escola, o pai ia deitar-se com ela na cama e fazia carinho em seu cabelo, dando beijos em seu rosto até convencê-la a contar o que aconteceu. Amava ouvir a mãe cantar na cozinha e se repreender em voz alta por esquecer alguma coisa. Ela verdadeiramente amava os pais, mas odiava quando junho chegava, e a mãe começava a rezar por "aquelas pobres almas perdidas" todos os dias até o fim do mês. Odiava as rápidas frases que o pai soltava em dados momentos, mas que eram carregadas de preconceitos que deixavam bem claro que ela devia temer.

Respirou fundo, afastando o pensamento.

— Cadê a Alice?

— Lição. Coisas da faculdade. – Laura deu de ombros.

Alice fazia faculdade de advocacia, o orgulho da família. Laura estava no último ano do ensino médio e não tinha bem certeza do que tentaria fazer se chegasse a fazer faculdade. Talvez psicologia? Ou quem sabe moda? Ela adorava roupas... Ou quem sabe sociologia? Talvez algo voltado para crianças... O serviço social? Sua cabeça doía sempre que pensava no que escolher. Eram coisas demais que gostaria de fazer e se sentia frustrada por não poder fazer tudo ao mesmo tempo.

"A vida é um mar de escolhas", as pessoas diziam. De que adiantava se ela podia escolher qualquer coisa se quando o fizesse todas as outras portas iriam fechar? Se não teria todas aquelas escolhas mais? Laura respirou fundo para afastar os pensamentos.

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