Laura se jogou na cama, exausta, com o livro na mão, a fim de tentar ler. Trazia o livro para bem perto do rosto e cerrava os olhos, tentando discernir bem as letras. A lupa eletrônica descarregada.
O que era antes um quartinho de bagunça na casa de seus avós já começava a poder ser visto como seu quarto. No canto, um armário amarelo lhe servia de guarda-roupa e alguns dos livros que Alice lhe havia trago se encontravam sobre uma das prateleiras.
A cama que avô Mateo tinha comprado para ela não era grande, mas o colchão novo era confortável e avó Lurdes a havia deixado escolher alguns lençóis e colchas, além de tê-la comprado um travesseiro realmente muito macio. As caixas com quinquilharias que uma vez estiveram ali foram colocadas pra fora e em boa parte foi dada um fim.
Embora começasse a se sentir mais em casa e já nem mesmo tivesse dificuldade de se guiar pelos cômodos, ainda não sentia-se completamente no lugar ali.
Suspirou para os próprios pensamentos, fechando o livro. Sentou-se na cama, alcançou o celular e reviu as mensagens que trocava com Alice. Não se falavam muito desde que veio morar com a avó. Não gostava disso. Sentia falta da presença irritante da irmã a provocando com piadinhas, trazendo salgados, discutindo e fazendo-a passar noites em claro enquanto recitava longas apresentações e trabalhos.
Também sentia falta de cozinhar com a mãe e dos momentos em que seu pai deitava ao seu lado quando estava triste. Respirou fundo, tentando conter a súbita vontade de cair no choro.
Era tanta tristeza e tanta raiva...
***
"Vocês estão indo com calma?"
"Sim, pai." – Giovana sorriu forçadamente no banco do passageiro.
"E está tudo indo bem?"
"Sim, pai."
"E tão se protegendo?"
"Pai!" – rolou os olhos tentando disfarçar a vergonha.
— Só estou dizendo que... É... Você sabe... Relações entre mulheres também têm... a possibilidade, sabe? Infecções e doenças.
— Pai!
— Eu só estou dizendo que, mesmo a chance sendo mais baixa, ainda existe...
— Pai, por favor, o sinal já abriu!
O carro voltou ao silêncio enquanto seu José mantinha sua atenção no trânsito.
"Desculpe." – ele falou após uns instantes. — Você sabe... Suas mães ficam com o trabalho... Helen cuida da sua autoestima e pra você não fazer as dietas doidas da sua mãe. Sua mãe cuida de você manter suas notas e ficar atenta ao trabalho. Não sobra muito pra mim além de chamar sua atenção.
— Não precisa se preocupar com isso.
— Eu me preocupo. E quero que fique bem. E quero que fale comigo também.
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Nosso Deslumbre
RomanceLaura e Giovana começaram a conversar pela internet através de um fandom de livros que gostavam. Mesmo antes de se verem pessoalmente, sentimentos começaram a surgir entre ambas, o que não seria problema algum, não fosse o detalhe de Giovana ter def...