O espelho.

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Bati a porta de casa fazendo cair uma boa quantidade de neve sobre minha toca e minha bolsa enquanto saia de casa. Era inverno em Zurique já há algumas semanas e sempre nevava. Minha escola cancelou as aulas nos próximos dias até que o clima amenizasse um pouco, pois em alguns lugares a neve chegava a quinze centímetros ou mais.

Em minha bolsa amarela levava meu esqui de neve, pá e baldes para brincar em um jardim da qual eu gostava muito. Comecei a caminhar enquanto minhas botas também amarelas se afundavam levemente na neve. Andei até chegar no jardim e encontrar o portão de acesso trancado, mas por sorte eu conhecia uma passagem. Com a pá removi o excesso de neve que bloqueava o buraco no muro, da qual era grande o suficiente para que eu pudesse passar. 

Fui para perto do lago que agora se encontrava congelado. O inverno era a estação mais bonita e a minha favorita. Comecei a cavar fazendo uma fortaleza de neve, uma rampa de neve bem longa e bonecos de neve ao redor.

- Tudo pronto para a decida!

Eu disse no topo da rampa usando meu esqui. Então por fim desci deslizando enquanto segurava as varas de direção do esqui. Acabei me desequilibrando e caindo encima de um boneco de neve. Ao me recompor tive minha atenção voltada a um brilho que vinha próximo a uma arvore estranha e contorcida. Me levantei e fui até lá. Me deparei com um espelho de mão prateado.

- Uau! Que espelho bonito!

Eu disse o pegando e o olhando mais de perto. Ele era todo detalhado e refletia bem a luz solar com seu metal reluzente. Com um grito de susto instantâneo o larguei na neve ao ver em seu reflexo uma pessoa encapuzada de branco me encarando com seus olhos brilhantes em azul. Me virei rapidamente, mas não havia ninguém. 

Cautelosamente me abaixei e o peguei novamente. Ao olhar com mais atenção em seu reflexo pude ver um ônibus deslizando na rua e batendo em um poste. Fiquei sem entender e pensei ter batido a cabeça com a queda, então o guardei em minha bolsa e juntei minhas coisas para ir embora. Pouco antes de sair do jardim me assustei ao ver aquela mesma pessoa saindo de trás de uma árvore. Era uma mulher de pele pálida e capuz longo e branco. Ela me encarou por alguns segundos, porem seus olhos não brilhavam como no espelho.

- O que uma garota tão pequena como você faz sozinha num lugar como este?

Perguntou ela parando em minha frente com uma voz calma.

- Eu estou indo para minha casa, com licença.

Disse passando por ela de cabeça baixa e segurando as alças da minha bolsa.

- Você não teria encontrado algo por aqui, teria? Algo bonito e reluzente.

Perguntou ela sem se virar para mim. Parei de andar e respondi:

- Não encontrei nada.

Após me abaixei e passei pelo buraco. Eu andava a passos largos quando de repente um ônibus deslizou em uma poça de agua congelada na estrada e bateu sua parte da frente em um poste. Olhei assustada do outro lado da rua e comecei a correr para minha casa. Sem que eu soubesse aquela mulher me observava de dentro do jardim com seus olhos brilhando levemente em azul. 

O Espelho de Nora (Relíquias de Albem)✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora