Apollo.

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Cada vez mais eu tinha a certeza de que ele roubaria o espelho e a flauta de mim e me deixaria abandonada em alguma dessas dimensões. Eu o olhava incrédula.

- Quero dizer. Não podemos simplesmente deixar em objeto tão poderoso desse exposto aqui. Aqui neste cemitério é onde está o próximo portal, seria perigoso demais se Merlin passasse por aqui e o visse. Sem constar que precisamos de mais recursos para enfrenta-la quando necessário.

Engoli em seco oque ele dissera.

- Quem é Amélia?

Perguntei olhando para o túmulo. Ele equipou o anel e disse:

- Eu não sei. Deve ter sido uma das portadoras do anel.

Olhei em procura da senhora, mas não a avistei.

- Vamos?

Perguntou ele.

Andamos até duas rochas enormes apoiadas uma na outra.

- Deixa eu adivinhar. O portal esta entre essas duas rochas.

Eu disse ironizando para descontrair.

- Não é tão obvio assim.

Respondeu ele.

- Merlin sabe onde encontrar todos os portais?

Perguntei antes de entrarmos.

- Sim. E pelo visto sabe de mais coisas do que nós.

- Então por que não destruímos este portal? Assim ela não vai conseguir nos seguir.

- Se destruirmos, como vamos passar por ele?

Fiquei sem respostas.

- A única forma de fazer isso é tendo um colar da lua, para viajar pelas dimensões sem restrições. Mas estes colares são tão raros quanto as relíquias.

Finalizou ele. Dei uma ultima olhada naquele deserto antes de entrarmos no portal. Passamos então saindo em uma floresta. Ele começou a andar.

- Quantas vezes você já passou por estes portais e de qual dimensão você é?

Perguntei.

- Quanto menos você souber sobre mim, melhor.

Respondeu ele continuando a andar.

(Estou com saudades de casa. Nunca pensei que uma aventura deste tipo pudesse me deixar tão deprimida. Vi elfos, bruxas, feiticeiras e objetos mágicos. Mas... não está sendo como eu pensei...)

- Apollo.

Disse ele de repente.

- Seu nome?

Perguntei confusa.

- É. Eu era da antiterra, até meu mundo ser completamente destruído.

- O que destruiu o seu mundo?

- Não sei... Pouquíssimas pessoas conseguiram fugir. Tive a sorte de ser um portador do relógio e pude fugir pelo portal de Albem, mas... Não consegui levar ninguém comigo. Minha família, meus amigos, todos que eu conhecia...

Me senti culpada e triste, então, disse:

- Sinto muito...

- Satisfeita? Era oque você queria saber?

Perguntou ele enquanto andávamos. Suspirei.

- Melhor descansarmos. Já estamos andando há muito tempo.

Disse ele. Com o anel, teletransportamos o caminho inteiro, poupando nossa energia e chagando bem mais rápido em uma hospedagem. Os moradores de lá eram... Estranhos. Altos, pele extremamente branca, olhos grandes e julgadores, suas casas eram por inteiro brancas, móveis e objetos. As ruas eram limpas e tudo era organizado. Seus cabelos eram grandes e grisalhos, quase sempre presos em um coque. Aparentemente, quase todos ali andavam pelas ruas lendo livros ou os carregando em suas mãos.

- Que dimensão é essa?

Perguntei.

- Gremiesine. Estes são nativos daqui, os greminídeos. Viciados em conhecimento e sabedoria, adoram ouvir estórias e viajantes, mas odeiam dividir seus conhecimentos com espécies diferentes, então evite sair perguntando para eles oque vier a sua mente.

Explicou Apollo.

- Dois quartos.

Disse ele a um greminídeo balconista. O ser esticou a mão esperando o pagamento.

- Trocaremos hospedagem por trabalho.

Disse Apollo. Olhei surpresa, pois não estava esperando isso. O balconista nos entregou as chaves e um papel com as tarefas. Subimos para o andar de cima. Me perguntei oque teríamos que fazer lá, pois o local era impecavelmente limpo e organizado. Abri meu quarto e ele era bonito, cheio de livros em uma estante, taças em uma mesa com frutas e água, uma banheira com varias opções de aromatizantes e ervas cheirosas. Uma cortina de seda na janela de vidro e um tapete felpudo que ocupava o chão.

- Não tente roubar nada daqui, se tentar vai ficar paralisada ao sair da hospedagem. Já me ocorreu.

Disse ele antes de entrarmos. Fechei a porta e me sentei na grande cama pegando meu espelho.

- Espelho... Quando... Quando eu vou finalmente voltar para casa?

Perguntei o olhando. No reflexo vi algo inusitado. Um homem curvado carregava uma foice em sua mão e na outra ele iluminava o caminho com uma lamparina prateada.

- Não! Chega! Eu quero voltar!

Joguei o espelho na parede e me deitei chorando até adormecer.


O Espelho de Nora (Relíquias de Albem)✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora