Fengqing de Meio Outono

Festival de Meio Outono

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Era o Festival de Meio Outono. Todos os deuses conversavam entre si, animados e levemente embriagados. Feng Xin encarou Mu Qing por alguns segundos antes de desviar abruptamente o olhar. Essa ação não passou despercebida pelo outro homem, que revirou os olhos e caminhou, com passos vagarosos e suaves, em sua direção.

— O que você quer? — Feng Xin perguntou quando sentiu a presença da outra pessoa perto de si. Ele nem ao menos precisava se virar para saber quem havia se aproximado. Afinal, eles haviam passado oitocentos anos juntos, mesmo que a maior parte deles tenham sido cheios de brigas, discussões, desentendimentos e mal entendidos, ainda eram oitocentos anos.

Ambos conheciam cada detalhe um do outro. Desde as coisas mais casuais aos detalhes mais íntimos. Sabiam dizer, com apenas um olhar, quando estavam bravos, tristes ou felizes. Conheciam o cheiro um do outro, mesmo que estivessem a vários metros de distância. Acima de tudo, eles sentiam a presença um do outro.

— Eu que te pergunto. Você não para de me encarar desde que cheguei, General Ju Yang. — Mu Qing fazia um leve biquinho para falar e isso era adorável, mas em contraste, suas sobrancelhas estavam franzidas em uma carranca.

Feng Xin bufou quando Mu Qing o chamou de Ju Yang. Aquele título era ridículo e vergonhoso, mas quando saía dos lábios vermelhos e finos de Mu Qing, vibrava pelo ambiente e pousava em seus ouvidos, soava diferente de alguma forma.

— Está vendo coisas, General Xuan Zhen.

— Você sabe que não estou. — Mu Qing revirou os olhos e olhou para o horizonte, Feng Xin acompanhou esse movimento. Revirar os olhos era um hábito de Mu Qing que ele achava irritante ao extremo. Ele sempre se perguntou como o outro não ficava tonto ao fim do dia após girar suas próprias orbes tantas vezes.

— Porra, você é chato pra caralho. — Apesar das palavras que Feng Xin soprou serem duras, o deus marcial fez o possível para que elas soassem carinhosas quando as pronunciou. Mu Qing felizmente entendeu.

Depois dos acontecimentos do Monte Tonglu, Feng Xin e Mu Qing conversaram e deram uma trégua nas brigas. Foi um caos na corte celestial que, por muito tempo, não estava acostumada a ficar tão em paz quando tinham aqueles dois no mesmo ambiente.

Com o passar do tempo eles começaram a se aproximar cada vez mais. Quando ressentimentos são resolvidos verdadeiramente, barreiras antes impostas se quebram e sentimentos, uma vez escondidos, ressurgem.

Foi o que aconteceu com os deuses marciais. Um beijo levou a outro, que levou a mais coisas, várias vezes. Mas eles não ousavam conversar sobre o que sentiam. Isso seria como tirar a casca de uma laranja e deixar só a pele exposta, a parte mais sensível. Eles ainda tinham medo disso.

— Sou chato e você ama. — Mu Qing disse em afirmação, mordendo o canto dos lábios.

Essa palavra, amor, parece simples, mas quando Mu Qing a disse, ela retumbou pelo ambiente como um trovão, deixando todo aquele barulho e confusão de festa como um efeito sonoro de fundo, sem importância.

Mu Qing e Feng Xin precisaram abaixar levemente suas cabeças para esconder os sorrisos bobos que insistiam em tomar conta de seus lábios. Eles diziam por dentro que essa ação era para que nenhum outro deus ao redor percebesse o clima que pairava entre eles, mas na realidade, eles não queriam encarar os próprios sentimentos refletidos nos olhos um do outro. Eles dois sabiam que, caso se olhassem, os olhares cheios de calor iam entregar aqueles sentimentos enraizados no âmago de suas almas.

Mu Qing se achava bom em esconder aquilo que sentia. Até conhecer Feng Xin.

Os olhos dos dois, perdidos à frente, fitaram as milhares de lanternas que permeavam o céu. As chamas que queimavam no peito dos dois deuses marciais eram como as que faziam aqueles objetos voarem, quentes e prestes a fazer um estrago se não fossem bem manuseadas.

Feng Xin respirou fundo, tomou coragem e discretamente alcançou a mão de Mu Qing e entrelaçou seus dedos quentes nos dedos frios do outro, olhando ao redor para garantir que ninguém prestava atenção neles.

— Sim, Mu Qing. Eu te amo.

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