Livro 1 - Capítulo 1.

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— Lisa! Mesa quatro! — vi o borrão da Sra. Torry a minha frente gesticulando sem parar com o bloquinho e a caneta nas mãos.

— Me perdoe, o que disse Sra. Torry? — voltei minha atenção nela.

— Lisa, não fale espanhol comigo, eu não entendo nada! Mesa quatro! Agora! — gritou, ela tinha olhos azuis profundos, e os cabelos já envelhecidos mal pintados de loiros, já que o branco insistia em aparecer. Me irritava profundamente quando ela confundia meu português com o espanhol, na verdade o fato de não a poder corrigir me irritava ainda mais.

Meu turno acabou na lanchonete BIG BIG, localizada no pior lugar de Nova Iorque. Eu sei, um nome patético, para uma lanchonete patética. Estava indo para casa... bom se é que pôde-se chamar assim, estava indo para a casa que habitava há um anos e três meses. Lar, família... isso já não me pertencia mais. Pare com isso Lisa, você não pode reclamar, a garota com quem você mora, sua melhor amiga Diana é sua família. Seu vizinho e melhor amigo Pablo é sua família.

— Lisa! — escutei Pablo me chamando junto de sua caminhonete velha, falando no diabo.

— Ei! — sorri.

— Venha te dou uma carona — ele abriu a porta do passageiro e eu entrei.

— Arrumou sua máquina? — zombei.

— Ei, não zoei meu bebê! — fez cara feia e eu ri. Pablo é um típico latino, tirando a pele bronzeada, afinal era tão pálido quanto eu, mas suas sobrancelhas marcantes, sua boca carnuda e suas tatuagens nos braços mostravam seu sangue latino, e obvio seu sotaque muito engraçado.

— Desculpe Sr. Sensível, seu bebê é uma gracinha!

— Cortou os cabelos? — perguntou os observando, enjoei dos cabelos excessivamente compridos, e cortei um pouco abaixo dos seios, o que ainda fazia com que estivessem grandes. Pensei em fazer uma piadinha sem graça, mas minha educação falou mais alto.

— É, cortei.

— Por que tirou as mechas rosa? Gostava delas.

— Dirija! E não fique observando meus cabelos, que coisa desagradável! — resmunguei, ele riu.

— Sempre obscura Sra. Nunca conto o meu passado! — eu fechei a cara, odeio falar do meu passado, por mais que eu confie no Pablo e na Diana, nunca contei nada sobre minha vida antes de conhecê-los — Desculpa, não devia ter dito isso, foi uma brincadeira.

— É, tá — olhei pela janela — Pelo frio, acho que vai nevar — passei o dedo indicador no vidro frio.

— Espero que não — ele tirou um panfleto do bolsa da jaqueta jeans e me entregando.

— Festa clandestina: Latinos no comando — li rindo imediatamente do título ridículo e de duplo sentido — Sério? Não tinha um nome melhorzinho, não?

— Ei, foi o melhor que conseguimos, tá? — resmungou magoado.

— Por que essa festa agora? — ele bufou como se pensasse em algo ruim.

— Lembra que eu contei que o milionário dono da fábrica em que eu trabalho morreu? — fiz que sim — Então, o único filho dele vai assumir a presidência, não só dessa fábrica, mas de todas as outras, são muitas, na verdade é uma grande empresa... — murmurou tentando me explicar, mas meu cérebro não estava filtrando nada, esse papo estava tedioso.

— Hum e aí? — tentei encurta a conversa, não me interessa nada um velho ocupando o lugar do pai em suas empresas.

— O cara não curte nem um pouco latinos, a boatos que ele prefere contratar americanos, e se isso acontecer muitos como eu ficarão sem empregos — fiquei triste por ele — Mas estamos no comando lembra? — piscou, agora entendi o título da festa.

Última chance - Degustação.Onde histórias criam vida. Descubra agora