O Diário de Amity Blight

Dia 10 - As Rainhas do Baile

Querido diário,

Provavelmente hoje eu nem vou dormir, sério. Lembra o que eu falei do Males e da Luz? Então, se prepara que hoje TEM CONTEÚDO AQUI.

     Eu fiquei de me encontrar hoje de manhã com a Luz, e fui até a casa da coruja. Eu confesso que estou amando ficar mais próxima da Luz, mas aquele PESTE que fica na porta da casa é um demônio.

     Eu já tava daquele jeito né, estressada com um pássaro, não me interna, eu juro que sou normal. Entrei no quarto da Luz e tals. Eu até me permitiria de reparar mais nas coisas e conversar com ela, afinal não é todo dia que se entra na casa da namo... Melhor amiga.

     Ela tava escolhendo roupas, eu fiquei meio estressada porque tipo, ela podia morrer com aquilo, e eu ali tão preocupada que não conseguia nem pensar direito. Tinha até uma fantasia de lontra, combina muito com a idade mental daquela tonta.

     Quando eu comecei a dar uma bronca nela, apareceu o desgraçado do Corujito, sério, eu voei bem na cara de um jeito que até agora deve estar a marca da minha unha no pescoço daquele projeto de casa falante metido a coruja.

     Nós saímos para o lado de fora, Emira e Edric tinham me levado para lá, e ficaram pra treinar conosco. Eu expliquei pra Luz que tinha de nos falar o seu maior medo, pra gente se preparar. Mas é a Luz, ela disse coisas tolas, isso chega a ser fofo as vezes. Os gêmeos materializaram os medos dela com magia também.

     Eu consegui arrancar o real medo dela, que era ser repreendida pela Eda, aparentemente. Ver ela desesperada daquele jeito me deixou extremamente perturbada, eu desmonto completamente quando ela chora. Ela quer tanto ser uma bruxa, eu quero muito muito que ela consiga também...

     Depois daquilo a gente foi embora, ela não estava totalmente pronta mas o tempo tinha acabado. Eu me arrumei em casa, pois é, até banho eu tomei. Brincadeira eu tomo banho viu?

     Mas enfim, eu fui pro baile e fiquei na porta pra aguardar a Luz. O Augustus fez a introdução e apresentação do diretor, sinceramente a voz daquele menino me irrita. Finalmente a Luz tinha chegado, e ela estava muito bonita.

     Não tive muito tempo pra elogiar ela, entenda, tinha um monstro se remexendo debaixo dos nossos pés e eu estava totalmente transtornada pra ir lá e ficar só paparicando a Luz.

     Eu agradeci ela por ter feito aquilo por mim. Foi realmente muito corajoso da parte dela. Ela sorriu de volta pra mim, sim doutor esse foi o motivo do meu colapso. Eu até ia abraçar ela. Quer abraçar? Abraça. É de bom tom? Não, não é de bom tom. Até porque ela tinha uma missão ali e eu estava atrasando tudo.

     Eu tava me tremendo de um jeito, você não tem nem noção. Adivinha? Deu tudo errado, realmente. No começo quando a Luz entrou na câmara do monstro, conseguiu conter ele por um tempinho, com uma arma e os feitiços de papel dela. Ela é tão forte...

     Mas quando ele se transformou na sua mãe, ela saiu correndo de lá. Me partiu o coração ter feito aquilo e corri atrás dela junto com a Eda. Na hora, eu fiquei tão mal por aquilo, minha Luz, enfrentando os medos dela só porque eu não enfrentei os meus.

     Encontramos ela fugindo do Males no meio da floresta. O que aconteceu? Eu pirei na batatinha, lógico. Pulei na frente do monstro, e ele me pegou. Dessa parte eu sinceramente não me lembro muita coisa, chega a ser bem estranho, como se eu tivesse desmaiado ou sei lá.

     Tudo que me lembro é que quando eu acordei, o monstro se transformou... Nela. Minhas inseguranças, todas juntas, sobre a pessoa que eu amo. Luz Noceda, a humana. Foi extremamente cruel o jeito que ele teve a audácia de se transformar nela, muito apelo por sinal. Pegou o convite do meu bolso e rasgou.

     Eu fiquei morrendo de medo da Luz ler, mas foi por pura sorte que eu peguei do chão o pedaço que tava escrito o nome dela. Nessa hora, ela se ofereceu pra ser meu par no baile. Imagina minha cabeça? Os divertidamente tava se batendo uns com os outros, tá doido.

    Mas como eu sou mestra em disfarçar essas coisas, eu só estendi a mão pra Luz.

Daí ela me chamou de melhor amiga. Aham. É. Legal né. Eu consegui, eeee... Como faz pra sumir mesmo? Eu não sabia se chorava ou ficava feliz por estar próxima dela.

     Eu tive a coragem de chamar ela pra dançar ainda, literalmente dançar em cima do perigo. Aquilo foi mágico, eu me lembro de cada detalhe.

     Os olhos brilhantes dela encontrando os meus, com a luz da Lua batendo nas nossas peles. O sorriso enorme dela, aquilo mexeu com minha alma, de todas as formas. O toque suave das mãos dela nas minhas, dando cambalhotas e girando comigo por aí. Me segurando no colo, eu não sabia se era um sonho, mas se fosse certamente eu odiaria que o despertador tocasse.

     Ah sim, por falar nisso a gente derrotou o monstro sim. Mas isso é o de menos, apareceram duas coroas lindas de rainhas pra gente, combinavam até, se bem que ela já era minha rainha mesmo sem coroa.

     Todos apareceram e bateram palmas pra gente, essas coisas. Foi muito bom hoje. Eu espero que um dia ela me veja como algo mais... Agora eu estou aqui. Olhando pra Lua. Conversando com ela, contando sobre um amor que eu jamais saberei explicar com as bilhões palavras do dicionário.

     Tem uma caixa na minha mão agora, eu resolvi guardar aqui coisas importantes pra mim. Tem algumas fotos minhas com a Luz, eu só espero que quando eu as veja todo dia, seja motivo pra inspiração, não para lágrimas.

     Assim como ela, que pinta meu mundo como aquarela. Que faz meu coração palpitar como uma bomba relógio, prestes a explodir de amores. Que faz o jardim da minha vida florescer, com o orvalho da manhã escorrendo por cada folha esverdeada das árvores.

     Essa noite foi inesquecível, e mesmo que talvez ela não goste de mim, eu fico feliz de ter conhecido ela, e de ter a oportunidade de falar com ela todos os dias. Eu vou dormir agora, o dia hoje foi bem cansativo. Até amanhã, diário!