Cap. 23

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   Saio do salão. A governanta vem ao meu encontro.

   - Senhorita Selene. - ela me chama.

   - Sim?
 
   - Creio que você não sabe da sala de estar para as pretendentes, não é? - ela me pergunta.

   - Sala de estar? - indago confusa.

   - Fizemos um tour pelo castelo logo após a aula na qual vocês pintaram o quadro. - explica.

   - Que azar o meu, acabei ficando no meu quarto a tarde inteira. - minto. Ela ri.

   - Eu sei o que tem feito senhorita Selene. Sei que já se encontrou com o príncipe mais de uma vez. - minha cara fica pálida. - Você é uma garota sortuda Selene, as meninas morreriam para estar no seu lugar. - ela pega na minha mão. - Espero que tenha mudado de idéia, você seria uma ótima rainha. - engulo seco. - As meninas passam o resto do dia em alguns dos espaços que foram liberados para vocês além de ficarem no seus quartos. - explica.

   - Obrigada governanta, mas só quero ir para meu quarto agora. - ela abaixa levemente a cabeça e morde os lábios.

   - Vá de preto hoje a noite. - ela me fala. Arqueio a sombrancelha.

   - Qual motivo especial? - pergunto.

   - É a cor que o príncipe mais odeia. Isso se não quiser ser rainha, claro. - sorrio e faço uma leve reverência.

Sigo para o meu quarto. Procuro por vestidos pretos. O vestido possuia um decote nas costas, era colado no corpo com uma abertura em um dos lados, no qual mostraria uma de minhas pernas, sorrio. Seria esse mesmo.

Deito na cama e encaro o teto por alguns minutos. Tédio. Deveria ter perguntando sobre os lugares permitidos para as pretendentes. Saio do quarto e dou de cara com ele.

   - Selene. - ele faz uma leve reverência. Eu o olho com ódio.

   - O que você colocou na minha bebida? - cuspo as palavras enquanto sinto vontade de estrangulá-lo.

   - Perdão Selene, fiz isso para que pudesse descansar. - ele mente. Sei que não era sua real intenção.

   - Você tem noção do que eu passei quando acordei na minha realidade? - aponto para ele e depois para mim. A lembrança me consome.

   - Me desculpe Selene. - Rhyan mal faz esforço para esconder. Ele não estava arrependido do que tinha feito.

   - Você sabia que eu não queria voltar Rhyan! - digo alto demais. Alguns guardas nos olham. - Eu te contei a verdade porque confiei em você. - me aproximo dele.

   - Não fiz por mal Selene, eu estava preocupado com a sua saúde. - ele abaixa a cabeça.

   - Me olhe nos olhos Rhyan. - ele levanta o rosto e me encara. - Diga que foi para o meu bem apenas. - seus olhos vacilam. Ele volta a me encarar.

   - Foi para o seu bem Selene. - sua voz treme. Está mentindo. Tenho certeza disso.

   - Tanto faz. - digo indo para a direção oposta a que ele estava indo. Sinto o olhar de Rhyan sobre mim assim como o dos outros guardas.

Respiro fundo. Para onde vou agora? Pense Selene, pense. Vejo uma porta aberta. Decido entrar. Uma sala de música. Fecho a porta atrás de mim. Um grande piano fica no meio daquele salão de música. Outros instrumentos estão presentes na sala, mas o meu foco está no piano.

Vou até ele e sento no banco dele. Passo os dedos pelas teclas. Encaro a parede. Respiro. Fecho os olhos. Uma melodia começa a se formar em meus dedos. Vou tocando aleatoriamente as teclas, mas o som fica harmônico. Parecia ser uma música que eu havia criado há muito tempo atrás. Começo a aumentar a sequência.

Sinto a presença de mais alguem no banco, mas não abro os olhos. Essa pessoa começa a tocar comigo. Ela acompanha meus movimentos e complementa a canção. Uma lágrima escorre dos meus olhos, mesmo fechados. Sorrio. A melodia soava como uma canção que demonstrava saudade de algo que já viveu.

Decido abrir os olhos e me viro para a pessoa do meu lado. Vou para trás com o susto mas ele segura meu braço.

   - Parece que deixo alguém desestabilizada sempre que estou por perto. - Folkis diz com um sorriso discreto em seus lábios. Dou um tapa em seu rosto com força demais.

Me levanto do banco arrependida, meus olhos se arregalam. Sinto a culpa sob meus ombros. Ele me encara sério. Minha respiração falha. Não sei se saio correndo ou se tento arrumar a merda que eu tinha feito.

   - Majestade... alteza... vossa... - me atrapalho ao falar. O nervosismo me preenche. Coloco a mão em seu rosto.

Ele levanta rapidamente e segura meu rosto. Sou surpreendida com um beijo. Ele me envolve em seus braços mas ainda estou surpresa demais para aproveitar o momento.

"Feche os olhos Selene, feche a droga dos olhos!" meu subconsciente briga comigo. Fecho os olhos e me deixo levar pelo seus encantos. Eu nunca havia beijado ninguém. Seus lábios eram macios, o seu gosto era melhor ainda.

Seus braços puxam meu corpo para mais perto do dele. Não sei ao certo o que fazer com os meus. Decido tocar o seu pescoço enquanto minha outra mão passa pelos fios de seus cabelos. Ele desliza sua mão pelas minhas costas. Minhas pernas tremem um pouco, e eu sei que ele percebe. Ele me pega no colo e enrosco minhas pernas em sua cintura.

Ele adentra minha boca com a sua língua, e juntos dançamos. Ele morde meu lábio inferior e puxa meu cabelo. O que é que você está fazendo Selene? A parte racional do meu cérebro grita. Abro os olhos. Empurro ele para longe de mim. Seus lábios estão borrados de batom. Passo meus dedos ao redor da minha boca. Meu batom saiu do lugar.

   - Como ousa? - murmuro enquanto o encaro.

   - Te beijar? - ele ri. - Não diga que não gostou Selene. - ele se aproxima de mim e me prende na parede enquanto segura meus braços contra ela.

   - Acha que pode fazer o que quiser comigo? - meus olhos estão em uma mistura de sentimentos. Borboletas surgem no meu estômago.

   - Quer saber o que eu acho Selene? - ele sussurra. Meus pelos se arrepiam. - Acho que não irá demorar muito para você pedir para que eu te faça minha. - seus lábios se aproximam da minha orelha. Viro o rosto.

Ele não me segura com força. Eu posso sair dali se eu realmente quisesse. Ele também sabe. Por isso sorri. Estou ali porque quero. Raiva sinto de mim mesma. O que aquele homem fazia comigo era inexplicável.

   - Espere sentado. - sussurro de volta. Ele larga meus braços e ergue meu queixo levemente para que eu encare aqueles lindos olhos esmeraldas.

   - Olhe nos meus olhos e diga que não gostou. - meus lábios ficam secos. Imploram por mais daqueles lábios dele. Seus olhos brilham, sei que os meus também.

   - Eu... - as palavras não saem. Ele encara meus lábios. Eu travo. Ainda olhando para meus lábios ele sorri com a vitória. Minhas pernas vacilam. Ele segura no meu pescoço.

   - Você não consegue Selene, sabe por quê? - seus lábios se aproximam dos meus novamente. - Porque no fundo, você sabe que me quer. - merda. Me movo em sua direção. Meu corpo implora pelo seu beijo novamente.

Ele se afasta e me deixa sozinha na sala. Toco meus lábios. Consigo sentir os deles ainda se eu pressionar meus dedos na medida certa. Respiro fundo. Sinto como se asas batessem dentro do meu estômago. Minhas pernas ainda estavam bambas.

Me olho em um espelho. Meu batom está borrado e meu cabelo bagunçado. Limpo o borrado ao redor da minha boca e ajeito meu cabelo. O que eu estava sentindo? Meu coração estava acelerado mais que o normal.

Horas se passam. Olho pela a janela, está escurecendo. Decido voltar para os meus aposentos.

Se eu tivesse sorte, não teria que encarar o rosto de Folkis novamente.

O garoto da realidade ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora