Entrei em casa às pressas, querendo correr para o meu quarto, mas Roselyn me segurou e me olhou nos olhos.
Não consegui decifrar seu olhar. Imaginei que receberia uma bronca, mas ao invés disso ela me abraçou como se fosse um abraço de despedida.
Ficamos em silêncio por um bom tempo. Me permiti relaxar em seus braços, era confortável, ela transmitia segurança e de alguma forma, aquilo acalmou a minha alma agitada.
- Pensei que fosse perder você. - Roselyn murmurou para ela mesmo.
- Eu estou aqui. - respondi, mas quem queria ter dito aquilo era ela.
Eu vi o jeito que ela olhou o homem que estava me assediando. Não era o jeito que ela costumava olhar para pessoas no qual mataria logo em seguida, tinha algo a mais. Comecei a tremer em seus braços quando me lembrei do sangue escorrendo daqueles homens.
- Eu matei eles. - falei com a voz trêmula e com olhos arregalados.
Roselyn me puxou mais para perto e acariciou meu cabelo. Eu me segurava para não desabar, não queria parecer fraca, ou que eu não dava conta. Eu queria ter um propósito, alguma coisa que me mantesse viva. A adrenalina me deixava alerta, era como um entorpecente.
Apesar das coisas que aconteceram hoje, eu gostei de como interceptei aqueles homens. "Eles são do mal, estão sequestrando e torturando uma pessoa". Lembrei da frase que havia repetido a mim mesma algumas horas antes e me apeguei nelas, tinha sido auto defesa. Eles me matariam se eu não o fizesse.
- Tudo bem chorar. - Roselyn sussurrou para mim acariciando meu pescoço.
Sua fala foi o suficiente para que eu desabasse, aquela maldita frase tinha sido minha ruína. Me afastei dela e a encarei nos olhos, balancei a cabeça em negação. Tentei esconder a vergonha dentro de mim.
- Não quero que pense que eu sou fraca. - falei com a voz trêmula. Eu ainda tremia de ódio, medo, inutilidade. Encarei o chão quando ela levantou meu queixo com um olhar sério.
- Você não é fraca Selene. Você é mais forte do que consegue imaginar, você passou por tantas lutas. - sua voz falhou por um momento. - Eu fiz parte do seu sofrimento, e mesmo assim, você está aqui. - ela acariciou minha bochecha e seus olhos se suavizaram. - Está viva Selene.
Engoli seco. Eu já não sabia se estava realmente viva. Sabia que estava tentando me animar, mas eu não conseguia. Clark nos encarava de longe. Nossos olhares se encontraram antes que ele se aproximasse, abrindo os braços em um abraço coletivo.
Fiquei envolvida nos braços de Roselyn por mais alguns minutos antes de nos afastaramos completamente. Subi as escadas e liguei a banheira. Enquanto a água da banheira enchia, tirei minhas roupas e me encarei nua no espelho.
"Selene Albatroz Brynn, o que aconteceu com você?". Meu reflexo no espelho parecia conversar comigo. Ele começou a falar comigo e me olhar de um jeito desprezível, engoli seco.
"O que seu pai acharia disso?"
"Essa aproximação com Roselyn era carência materna ou fazia parte do plano?"
"Você está mesmo esquecendo o que veio fazer aqui?"
Meu cérebro gritava em resposta. O que estava acontecendo comigo? Era verdade que eu cresci sentindo a falta de uma figura materna. O que Roselyn havia feito por mim hoje, significava muito, apesar de tudo.
Desliguei a torneira e entrei dentro da banheira. Me encolhi dentro dela, apenas meu nariz, boca e olhos ficaram para fora. Encarei o teto. Eu me sentia perdida em mim mesma. Precisava desesperadamente de uma razão, um motivo pelo qual continuar lutando, me afundei na água.
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O garoto da realidade ao lado
FantasySe você estivesse vivendo uma das piores fases da sua vida e pudesse escolher entre: a) Ignorar os problemas até eles irem embora. b) Aceitar, superar e conviver com isso. c) Tentar resolver de todas as maneiras possíveis. d) Dormir e trocar de real...