Cap. 44

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  Peguei uma mochila e enfiei o necessário para enfrentar o frio congelante.

Vesti uma calça legging, duas blusas de mangas compridas, um cachecol vermelho, luvas pretas, uma bota que ia até o joelho e um casaco de pelo que cobria meu corpo inteiro.

Dentro dele, coloquei uma quantia em dinheiro, duas pistolas penduradas na cintura, uma faca escondida na bota e uma arma elétrica no meu bolso esquerdo. Tudo isso eu havia roubado do arsenal não tão secreto dos capangas de papai.

Desci as escadas e fui para a cozinha. Encima da bancada, panquecas de mirtilo e uma maçã. Comi as panquecas em poucos minutos e guardei a maçã para a viagem. Samantha desceu correndo pelas as escadas atrás de mim.

   - Você não vai. - ela disse ríspida. Eu ri e a encarei.

   - Você não vai me impedir. - respondi guardando a maçã e mais alguns alimentos que eu tinha separado.

   - Está sobre minha responsabilidade. - Samantha disse cruzando os braços.

   - Se acha mesmo que pode me dar ordens está enganada. - coloquei a mochila nos ombros e me direcionei a porta do enorme castelo casa.

   - Ordens de seu pai Selene, devo cumprilas. - ela correu e se meteu na minha frente.

   - Nada vai me impedir, nem mesmo você Samantha. - falei entre os dentes e fechando os punhos.

   - Vai fazer o que? Chegar lá e atirar na sua mãe? E depois, vai sair correndo gritando vitória? Você pode morrer Selene. - cada uma de suas palavras foram sabiamente escolhidas, pra me afetar.

   - Ela não é minha mãe, nunca foi. Vou mata-la, nisso você acertou, e se eu morrer, terá valido a pena. - consegui me desvencilhar de Samantha e fui até a porta.

   - E seu pai Selene, vai abandona-lo? - ela gritou. Respirei fundo e olhei por cima do ombro.

   - Diga que mandei lembranças. - respondi e sai pela porta.

Roselyn estava na Suiça. De alguma forma ela havia implantado um chip de rastreamento até mim. Talvez no meu coma anterior. Usaria isso de isca para ela. Se visse que estou em movimento, ela viria. Ela tinha que vir.

Eu não sabia ao certo o que eu estava pensando, mas ódio e vingança circulavam pelas minhas veias. Se eu não pudesse mudar o passado, mudaria o presente. Eu tinha um celular, tinha o número dela. Mas antes, precisava pensar em algo.

Liguei para ela, e engoli seco. Esperei e esperei. Conforme o celular tocava, corri para fora dos muros do castelo. Ousei olhar para trás. Uma talvez última vez. Flocos de neves caiam sobre meus cílios. Esfreguei meu rosto os afastando. A neve seria algo que eu teria que aprender a lidar.

   - Alô filha querida. - Roselyn atendeu o celular do outro lado da linha com irônia, engoli em seco. Qualquer que fosse meu próximo passo, teria de ser certeiro, sem falhas, sem descuido. Respirei fundo.

   - Mãe? - minha voz tremeu ao chama-la assim. Senti ela respirar mais rápido do outro lado da linha.

   - Minha filha querida... - ela soluçou, e pelos próximos gruinhos que ela soltou, estava chorando. Respirei mais uma vez.

   - Preciso de ajuda, acredito em você... - minha voz falhou. "Vamos Selene, não tem mais volta". - ...ele é um monstro mamãe. - fingi chorar.

Meu sangue fervilhava por baixo das roupas quentes. Correr, eu precisava correr para longe.

   - O que ele fez Sely? - o apelido arrepiou minha espinha, senti vontade de vomitar.

   - Ele me trancafiou e disse que mataria você, eu não podia deixar... - meu coração batia cada vez mais rápido, como se não entendesse o real motivo daquelas palavras.

O garoto da realidade ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora