One

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Nota:

Essa história é, primeiramente, dedicada a Doda, um anjinho na terra.
Espero que a ideia que você queria possa se materializar nessa fic.
Em segundo lugar, a história se estabelece quando Castiel se torna humano, logo depois de ser expulso do bunker.
Espero que goste, Doda. E feliz aniversário.

Boa viagem!
Stay weird, stay gay.

No princípio, criou Deus os céus e a Terra. (Gênesis 1:1)

Ele lê a primeira frase, seus dedos acariciando a folha de seda como se fosse algo delicado e com vida.

Façamos o homem à nossa imagem. (Gênesis 1:26)

"À nossa imagem", ele repete em voz alta.

E Deus os abençoou, e Deus lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a... E a todo animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde lhes será para mantimento. E assim foi. (Gênesis 1:28-30)

"E assim... foi?"

Castiel redireciona seu olhar ao alto, à uma altura insuficiente, a uma imagem que não condiz com a realidade. A imagem de Deus que os humanos são tão apegados é longe de ser fiel ao retrato verdadeiro do Todo Poderoso... ele se pergunta o que seria da maior criação de seu pai caso descobrissem quem realmente era. Mas afinal, será que ele mesmo conhecia seu criador?

Talvez por isso eles, os humanos, criaram algo em suas cabeças que chega ao nível da perfeição. Os humanos precisam de alguém que seja melhor que eles mesmos porque precisam de alguém que não os decepcione, não os fira diretamente.

Mas Cas para seus pensamentos. Ele percebe que não precisa mais se referir aos seres humanos como "eles", pois agora, sem suas asas, sem sua graça, nada mais o diferencia das milhares de criaturas habitantes da Terra.

E agora, mais do que nunca, ele entende o porquê as pessoas escolhem o Deus perfeito para acreditar.

Quando foi expulso do paraíso, foi difícil.

Quando seu pai não lhe dava sinais, qualquer ajuda, foi difícil - e ainda é.

Quando apropriou-se dos poderes de seu pai, achando que faria o bem, achando que salvaria aqueles que considerou importantes em sua vida, Castiel se reprimiu, se decepcionou consigo mesmo, principalmente quando tivera de mentir a Dean.

Mas nada disso doeu fisicamente. Nada disso abriu feridas invisíveis em seu peito.

Agora, como humano, ele sente a dor mais verdadeira e a conhece de perto.

"Escuta, cara... você não pode ficar."

Castiel sente a dor, mais do que nunca. Está sozinho, abandonado, expulso, e não sabe como lidar com tanta coisa em seu coração - agora humano - sem a ajuda do único homem que ainda acreditava ser sua esperança. Por isso, em noites como aquela, como a que foi afastado do bunker, ele vai até um templo, buscando se agarrar a qualquer resquício de esperança.


Seus dias como Steve são de aprendizado. Apesar de se perder ainda em muitas tarefas, não entender muito do que os clientes pedem, Castiel gosta de estar ali, de fazer algo simples e de cometer erros que sabe que têm consertos.

O problema de levar uma vida como anjo foi que todos os seus erros nunca teriam volta. Nunca. E isso também dói agora, mais do que antes. Uma dor que surge sem aviso em seu peito, e quanto mais pensa em seu passado, em tudo que perdeu, mais forte ela se torna.

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