HERÓI? - Capítulo 1

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- Cara, você é rápido. - Um homem de roupão abre a porta, parece que não sai da cama há dias, ele tira algumas notas do bolso e me entrega.

- Eu tento. - Dou de ombros, entregando as sacolas de remédios para ele. -Melhoras. - Acrescento quando ele faz uma cara estranha, talvez com vontade de espirrar.

- Valeu. Minha namorada meio que me arrastou para fazer aquelas trilhas malucas, mas aparentemente, ela se esqueceu de olhar se ia chover no dia. Você acredita que ela teve a cara de pau de virar para mim com um: pelo menos ficamos doentes juntos? - Ele balança as sacolas revirando os olhos.

- Ela parece divertida. - Comento por não saber o que falar.

- Ela é, tenho sorte de tê-la como namorada, estamos juntos faz dois anos. Enfim, valeu pelo serviço, cara.

Faço um sinal com a mão, indicando que estou a dispor e me despeço. Desde que comecei a trabalhar como entregador para um aplicativo de entregas – que vão desde comidas até peças de carros – descobri que existem dois tipos de pessoas: as que pegam suas entregas e simplesmente voltam para suas vidas; e as que matracam sobre qualquer coisa como se me conhecessem há séculos. Apesar de o primeiro tipo acelerar o meu trabalho, as do segundo são as que me animam mais. Um pouco de simpatia é sempre bom.

Sem contar que o atraso não é um problema quando se tem a velocidade da luz.

Não, você não leu errado.

Cinco anos atrás, nesse mesmo dia, o cometa Corvus passou pela Terra e, aparentemente, fui "O escolhido" pelo meteorito que se desprendeu dele. Foi a experiência mais bizarra que já tive em minha vida – e eu estou levando em conta a vez cai de cara no cocô de cavalo durante a excursão para o rancho na frente da turma inteira, na oitava série.

Lembro-me tão perfeitamente daquela madrugada que se fechar os olhos talvez consiga ver o brilho do meteorito atravessando o céu em direção ao chão.

Meu pai trabalhava muito e queria estar totalmente desligado da cidade, foi quando um parente do interior, avisou-lhe sobre um sítio em que os donos estavam alugando para o feriado. Meus pais ficaram super empolgados e eu... Bem, que garoto de 19 anos fica animado em ser arrastado para longe da civilização?

Enfim, eu fui.

Admito que eu até estava me divertindo fazendo as atividades malucas que meus pais inventavam. Mas naquela noite, quando eles resolveram jogar cartas na casa do tio John, que havia nos avisado do sítio, resolvi ficar na propriedade alugada.

Um raio tinha caído em uma das antenas, logo, eu não tinha televisão ou internet naquele dia e acabei me rendendo em sentar na rede e revezar entre o violão velho e a coleção de gibis empoeirados que eu havia encontrado. Com um balde de salgadinhos e uma lata de refrigerante o cenário parecia até bem agradável, por tanto nem me preocupei quando meus pais ligaram avisando que dormiriam na casa do tio John.

Quer dizer, bem estúpido, afinal, quem nunca viu um bom filme de terror?

Mas esse não é o ponto.

Eu estava tão relaxado ali, iluminado apenas por algumas lamparinas e abençoado com o som calma dos grilos e corujas, que por um momento, quando vi o cometa, pensei que fosse coisa da minha cabeça e voltei a dedilhar alguma canção hippie dos anos 60 que havia escutado tocar no rádio do carro durante o percurso de ida.

Só percebi que havia algo de errado quando a iluminação do local mudou e eu comecei a ouvir um som estranho. No momento em que os meus olhos encontraram o meteorito se aproximando do chão bem próximo de onde eu estava, senti-me paralisar. Uma sensação estranha percorreu o meu corpo, como se eu precisasse urgentemente ir de encontro àquilo.

Herói ou Vilão?Onde histórias criam vida. Descubra agora