Herói? - Capítulo 5

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Percorro a cidade em alta velocidade. O sol ainda não nasceu, já que são três da manhã, então as ruas estão iluminadas apenas pelas luzes amarelas dos postes.

Tudo parece meio melancólico a essa hora.

Quando tinha 17 anos eu costumava dirigir de madrugada com bastante frequência. Andar pelas ruas escuras era assustador quando eu estava a pé, sempre parecia que a qualquer momento um assassino louco viria e me esfaquearia pelas costas, ou talvez uma assombração decidisse que era o melhor momento de puxar meu pé. Por isso andar de carro a essa hora era tão incrível. O trás uma segurança enganadora confortável demais, eu sentia como se ninguém fosse capaz de me alcançar ali dentro.

Era como se eu estivesse invisível para todos os males. Era como ser um super-herói em uma época que eu era só um garoto qualquer.

Então, por várias madrugadas eu pegava o carro dos meus pais emprestado e dirigia pelas ruas quase vazias da cidade. Passando pela iluminação amarelada/alaranjada com a música alta no carro. As vezes só com o velho e bom amigo silêncio.

Faz tempo que não dirijo. Não sei por que. Acho que com tudo isso simplesmente não parece muito prático e, talvez, eu não tenha momentos suficientes de lazer para gastá-los sozinho.

Bem, acho que isso não importa muito agora.

Forço-me a me concentrar novamente no caminho até o pedido de ajuda.

Concentração definitivamente não é o meu forte. Sabe quando você está num dia daqueles e deseja com todas as forças que ele tenha 48h para que você consiga resolver toda a sua vida?

Pois bem, isso também significa mais tempo para o seu cérebro se afundar num poço de pensamentos.

- Não! Eu juro, não liguei para polícia! Não fui eu! Por favor, me deixe viver. Eu imploro!

Chego no endereço e observo a garota ajoelhada no asfalto, bem no meio da rua. Seus cabelos pretos estão bagunçados, os olhos marcados por olheiras profundas, os braços e pernas com manchas vermelhas, também consigo enxergar sangue seco na lateral da cabeça, como se tivesse sido arremessada de rosto no chão.

Além das lágrimas grossas que lhe escorrem o rosto, ela começa a soluçar e implorar por sua vida ao ver a arma que é perfeitamente mirada em sua direção.

Há um grupo grande envolta da garota, oito ou dez pessoas. Claramente uma gangue. As garotas do grupo apoiam os saltos nas costas da morena no asfalto, puxam seu cabelo e até cospem nela, gritando ofensas.

- Eu não fiz nada. Eu juro!

- Que isso, galera? Onde estão os modos? – Materializo-me de forma a parecer que só me aproximei como uma pessoal qualquer. Eles se viram e me encaram. Um cara com uma tatuagem horrível na bochecha, aparentemente o líder, dá uma risada e aponta a arma para mim.

- Quem é você, idiota?

- O Batman, ta passada? – Debocho. – Vamos lá, cara, deixa a garota em paz, ela já disse que não fez nada.

Eles gargalham.

- Ouviram isso? O garoto veio pedir doce, onde vocês acham que eu dou a bala, na mão ou no pé? – O líder sorri maniacamente, sendo acompanhando por um monte de opiniões. Encaro a garota no chão, ela está encolhida como se isso a fizesse ser invisível.

- Ah, pelo amor, todo mundo sabe que você não vai atirar de verdade. – Reviro os olhos e estendo a mão para ele, fazendo um sinal para que me dê logo sua arma. Ser desafiado na frente da gangue o deixa furioso e ele atira na minha mão.

Herói ou Vilão?Onde histórias criam vida. Descubra agora