2. O grande anúncio

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Palmas e assovios receberam Axel Lindberg no palco. Aquele homem robusto era mesmo muito respeitado, e eu, com certeza, estava incluída na ampla gama de admiradores que ele conservava. Afinal, qual grande patrão realmente preocupava-se em conversar com funcionários menores sob contratação? O senhor Lindberg mantinha o Teatro Tragedi muito bem protegido sob suas asas e isso incluía cada um que ali trabalhava. 

Ele pediu silêncio em um gesto simpático com as mãos e todos obedeceram. Sua voz branda ecoou pelo teatro. Ele caminhava de um lado para o outro, em toda a extensão do palco, gesticulando elegantemente.

- Meus amigos! É uma grande honra estar aqui e poder compartilhar uma grande notícia com vocês. Mesmo em sua magnificência, sabemos que o Teatro Tragedi não está em seus melhores dias. Isso acontece, não é mesmo? Todos temos altos e baixos. Encaramos esta baixa temporada com sucesso, posso afirmar. 

Olhei para Olena de modo brincalhão, lembrando do comentário que ela fizera mais cedo sobre a peça atualmente em cartaz ser insossa. Ela não retribuiu, estava ocupada demais com a boca entreaberta de arrebatamento pelos movimentos do senhor Lindberg. Ri para mim mesma, compartilhando da felicidade dela. 

 - Primeiramente - continuou Axel Lindberg - eu gostaria de agradecer a cada um aqui presente. Vocês fazem parte disso. Mas agora, vamos ao que interessa: é hora de um grande anúncio. 

As pessoas remexeram-se nas poltronas. Estavam inquietos e curiosos. O braço de Hector tocou o meu sem querer, com um pouco de força, mas ele nem se deu conta. 

- Ficaremos fechados durante vinte dias. - muxoxos de espanto e indignação tomaram conta do ambiente, mas não duraram, pois a expressão de Lindberg não transmitia tristeza. Logo deduzi que a notícia não era aquela, havia ainda mais por vir.

- Tenham calma. A princípio parece ruim. Pois bem. Mas não serão vinte dias de descaso ou falta de trabalho. Serão os vinte dias mais intensos que já tivemos até hoje. A partir de amanhã, vocês sabem, não acontecerão mais apresentações da peça em cartaz atualmente. A extensa temporada chegou ao fim. Portanto, comecem a se preparar para a maior e mais bem sucedida época do Teatro Tragedi. A próxima peça a ser recebida aqui é... "De volta às origens". 

Naquele momento, fiquei cega, surda e muda. O mundo parou e eu não via mais ninguém ao meu redor, nem era capaz de escutar os gritos de espanto e comemoração que tomaram conta do ambiente, muito menos de participar deles.

De volta às origens.

Isso queria dizer... Jacob Frost. 

Foi como um grande flashback. Eu vendo fotos de Jacob Frost nas bancas na volta do trabalho, há não muito tempo. Os jornais mostravam sempre matérias com títulos como "Frost e a revolução no teatro" e "Grande ator muda o conceito de interpretação". Meu interesse pelo Tragedi se intensificou ao ver que existiam profissionais que interferiam positivamente para o crescimento de um teatro como aquele. 

Já havíamos recebido diversas grandes peças, com atores e atrizes renomados, roteiristas premiados, diretores com bagagem de anos. Mas Jacob Frost... bem, aquilo era diferente. Ele era um fenômeno. Eu nunca pudera assistir a uma peça sua pessoalmente, mas acompanhava avidamente todas as críticas que saíam sobre ele. Tinha, em casa, uma pasta cheia de recortes, com fotos dele e todas aquelas reportagens. Não me esquecia de ler uma descrição sobre sua voz: "profunda e grave, de modo que captar a atenção do espectador é uma tarefa quase banal para Frost". E eu não me cansava de imaginar como ela seria. Alimentara por um bom tempo aquele amor platônico sem dar a devida atenção a ele, alheia à possibilidade real de receber Jacob Frost em meu próprio local de trabalho. Era bom demais para ser verdade.

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