Capítulo 7 - Sob outra perspectiva

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Audry, um dia antes, noite.

São 8 horas e nenhuma aparição da minha irmã... pode ser a qualquer minuto, porém, eu estava preparada caso houvesse qualquer imprevisto, o bom é que essas patrulhas noturnas demoram, estendendo até a madrugada se duvidar, isso me deixa com uma certa "vantagem", eu tenho medo dela chegar e estragar a surpresa, já conversei com a Arthuria mais cedo para ela orientar as empregadas de arrumarem a estufa depois de tudo estar resolvido; nesse instante estou sentada na escrivaninha cheia de papéis com planejamentos, no canto ao lado do pote de tinta um caderno o qual mostrarei ao Firjan com o bufê que eu preciso: variados quitutes e um delicioso bolo decorado com morangos para fechar bem o dia.

A janela do meu quarto destaca o enorme jardim, as estrelas estão mais brilhantes do que nunca esta noite, e a lua cheia está numa posição que complementa lindamente o cenário, era onde toda nossa família costumava fazer piqueniques quando a mamãe era viva, um evento raro de acontecer, já que minha irmã constantemente se põe ocupada na guarda - até quando não lhe é necessário seus serviços -, para exclusivamente não termos nem a chance de falar com ela sobre; uma sensação nostálgica paira sobre mim, a mãe fazia questão de cozinhar e fazer com que tudo fosse perfeito, mesmo sendo rainha ela nunca deixou de ser prestativa, não suportava ficar parada vendo os outros trabalhando, eu amava isso nela.

Sua morte devastou a todos nós, quando ela se foi, a estrutura que unia nossa família se rompeu, o papai não sorria uma única vez nos primeiros anos, estava fragilizado pela perda, agora, ele está tentando ser o mais forte que consegue, por mim, pela Noora e por todos desse reino, carregando o peso da culpa inteira para si, eu ajudo o máximo que consigo para não lidar com essa dor sozinho, não posso ser rainha por hora, infelizmente estou atrás da minha irmã na linha de sucessão, se bem que... vendo como as coisas estão caminhando, ela não parece muito interessada em ser uma aristocrata, "não é muito a minha cara" diria ela, com certeza.

Eu rabisco algumas notas no meu caderno, desenho nos papéis espalhados pela mesa, ideias e projetos para ocasiões futuras, ainda a admirar o lado de fora, suspiro e estico o meu braço até uma gaveta onde puxo um outro caderno lacrado que costumo esconder num fundo falso, lá ponho meus pensamentos mais profundos, prefiro guardá-los mais em papéis, alguns temores da alma devem ficar nas sombras, passo uns bons minutos dissertando e vez ou outra faço margaridas no canto da folha, temos um campo cheio delas aqui perto, fica muito mais bonito na primavera, é minha estação do ano favorita, o cheiro delas me lembram a mamãe, meus olhos ficam marejados, eu ergo o rosto para conter as lágrimas que teimam a se formar.

Terminando tudo, guardo e arrumo as folhas que estão desorganizadas sobre a escrivaninha, ponho os papéis nas gavetas de cima e os diversos cadernos nos seus respectivos lugares, trancando um deles na gaveta com uma chave pequena que escondo num vasinho de planta no parapeito da janela. Levanto da cadeira e vou em direção a porta com o outro caderno tendo a lista de itens debaixo do braço, puxo a maçaneta dando de encontro com uma das empregadas, o que faz meu coração saltar.

ㅡ Ramona, que susto! ㅡ dou um pulo e ponho a mão sobre o colo ㅡ Já falei para avisar antes de entrar nos lugares assim.

ㅡ Perdão vossa alteza, eu estava prestes a fazê-lo, mas a senhorita já tinha aberto a porta. ㅡ Ramona fala assustada fazendo uma reverencia, levantando a aba da saia murmurando em seguida: ㅡ O cozinheiro a espera, para discutir os preparativos da festa de sua irmã mais velha.

ㅡ Ah, sim, me desculpe. ㅡ eu me recomponho ㅡ Diga a ele que já estou a caminho, tudo bem?

A jovem empregada assente e sorri docemente.

Filhos da Alvorada - Primeira Parte: Lua CrescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora