Filhos da Alvorada - Primeira Parte: Lua Crescente

Capítulo 2 - Visita

° ° °

Volto ao salão principal e passo pela porta do outro lado, indo até a cozinha com saída direta para o estábulo, cumprimentando os cozinheiros como sempre faço. Da fumaça vejo Firjan vindo com uma bandeja enorme, suado pelo calor do forno à lenha.

ㅡ E ai garotinha?! Qual vai ser o pedido hoje? ㅡ bagunça meu cabelo de modo afetoso, ele é bem forte, parece um brutamontes, mas é habilidoso e faz a melhor torta de maçã que já comi, ele só não gosta muito das visitas até a cozinha quando ele está preparando algo, por conta dos meus "mini-furtos".

Arrumo as mechas caídas no meu rosto dando uma leve risada e o cumprimento de volta, a aura dele é brilhante como uma imensa labareda. Logo minha atenção se volta aos biscoitos; vejo Firjan os tirar do outro forno.

ㅡ O de sempre e pode adicionar os biscoitos? ㅡ meus olhos chegam a brilhar.

ㅡ Você não é fácil, esses aqui foram pedido direto de sua irmã, são para sua fes... ㅡ ele se interrompe ㅡ Chá! Isso, festa do chá dela.

Ele ri alto, com uma tosse nada convincente e disfarça.

ㅡ Ca-ham... Não é como se eu estivesse escondendo algo, não, não! É... então, biscoitos né? ㅡ recebo dois tapinhas nas costas, ele ajeita a alça do avental, passando por mim com a bandeja.

ㅡ Festa? Mas ela não falou nada...

ㅡ Ah, verdade? Mas que cabeça a minha, é tipo uma reuniãozinha, muito tempo trancado aqui acaba afetando a gente sabe? Esse lugar é uma sauna nesse calor!

ㅡ Sei...

Eu finjo que não notei nada estranho, ele não sabe mentir.

ㅡ Deixa eu ver... ㅡ coço minha nuca pensando no que levar.

Faço minha lista: uma garrafa de suco, uma duzia de biscoitos e alguns sanduíches, os ponho numa bolsa, vou até a porta e pego a mochila, com diversos apetrechos além de poções, equipamentos médicos e meu fiel arco, eu sempre o deixo por lá quando saio pra passear com o Hank, ali tem tudo que preciso, digo "passeio", mas no caso é um código para... "aventuras que provavelmente vamos morrer se deixarmos tudo na mão do Hank", tudo bem, pelo menos ele sabe onde temos que ir, como sair para não sermos pegos logo na fronteira, acredite, toda fortaleza bem guardada tem algum ponto fraco, a parte de quase morrermos é que sempre sobra para a idiota aqui nos livrar de algum imprevisto.

Me ponho em frente de Firjan. Dou um soco no ombro dele de forma amigável e digo:

ㅡ Eu trago uns ingredientes pra você quando voltar. ㅡ mostro um sorriso gentil e ponho a mochila nas costas, avalio o arco e conto as flechas, para ver se está tudo bem antes de partir.

ㅡ Já tenho até um pedido: pele de Vortog, não... mel das favas do leste! ㅡ levando a mão até o rosto, ele esfrega os dedos como se estivesse com algo neles, inspirando profundamente e solta dizendo: ㅡ Ah... O melhor que existe.

ㅡ Considere feito meu amigo. ㅡ ando e aceno virada de costas e ele repete o gesto me vendo passar pela porta.

Eu gosto de trazer objetos de minhas pequenas viagens pelos reinos, posso dizer que é o único ato de afeto entre mim e meus amigos, seja achar, receber ou dar uma lembrancinha por cada lugar que vamos explorar, deu problema uma vez e meu pai interveio, pois quase fomos presos, ele teve que falar com a alta corte de Zartaj. A única viagem que é, sem dúvida, a melhor que fiz foi quando fomos aos picos de Altremon, senti que podia tocar os céus... vivo numa bolha por parecer tão limitada em Galadrid, por mais que a guarda me dê liberdade, ainda me sinto presa de alguma forma, seja pelo rei com suas regras, em parte pelo meu próprio medo de encarar sua autoridade.