Capítulo 8 - Na calada da noite

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Subo as escadas com o peito apertado, carregando um medo sem proporções, não gosto de sentir isso sempre que vou falar com a minha irmã, ainda não aprendi a conviver com essa personalidade reclusa e exclusivamente individual, nós não precisamos ser sozinhos o tempo todo, levar conosco todo o peso, a dor, a solidão, fingindo que nada nos atinge ou nos afeta, assim como compartilhamos de nossa alegria com as pessoas, precisamos nos apoiar nos momentos mais densos e profundos de nossa existência, descobrir nosso verdadeiro valor, pois é no ponto mais baixo encontramos nossa maior força.

A ansiedade faz o corredor parecer mais longo que o normal, caminho a passos curtos e nervosos, estava decidida, mas ao botar meu pé no último degrau, toda minha coragem de antes foi ladeira abaixo, forço minhas pernas a seguirem em frente, porque quanto mais rápido eu a acabar com isso, melhor pode ser, não é? É nisso que eu me agarro, na esperança de que tudo dê certo, e que nós possamos passar por toda essa dificuldade, juntas.

Chego na minha encruzilhada, estou parada rente a porta, fecho os olhos, inspiro profundamente e expiro, faço a mesma ação algumas vezes para me convencer de que está tudo bem, abro os olhos de novo e encaro a maçaneta, "chega de rodeios, vamos lá" digo para mim mesma estendendo a mão e abro o trinco.

ㅡ Noora, precisamos conversar. ㅡ digo diretamente e fecho a porta.

ㅡ Não tô podendo, volta depois. ㅡ diz com a voz arrastada enquanto tira seu equipamento.

ㅡ Ah... a gente vai conversar e vai ser agora. ㅡ estou decidida, isso acaba hoje.

De costas para mim, ela me olha por cima do ombro com eles baixos e exaustos, então dá o seu suspiro costumeiro.

ㅡ Que 'cê veio fazer aqui em? ㅡ ela ajeita a armadura no manequim e pega uma fita na gaveta para amarrar os longos e prateados cabelos cacheados.

Eu bufo.

ㅡ Você é minha irmã, não preciso de motivos... ㅡ eu estreito o olhar ㅡ Mas nesse caso o assunto aqui é bastante relevante, tem a ver com a gente. ㅡ com o indicador eu aponto para nós duas.

Ela se surpreende e comprime os lábios, como se soubesse tudo que eu fosse dizer do início ao fim, enrugando a testa e cruzando os braços claramente desconfortável, já sinto o clima pesar, mas não posso voltar atrás, e estou com os nervos gritando.

ㅡ Então, vamos mesmo falar... daquilo. ㅡ tanto ela e quanto eu sabemos que esse assunto foi adiado por tempo suficiente.

ㅡ Sim, sobre a morte da mamãe. ㅡ os ombros da Noora automaticamente se encolhem.

ㅡ Olha, você não precisa fazer isso... ㅡ eu a interrompo colocando as mãos sobre os ombros dela, seus olhos continuam baixos.

ㅡ Noora, ela era a minha mãe também, para de agir como se você tivesse que carregar o mundo nas costas, para com esse egoísmo, eu não quero ver você sofrer calada desse jeito, você pensa que não tá me machucando, mas está sim! ㅡ ela aperta os olhos com força, mas não adianta, as lágrimas descem conforme conversamos ㅡ Uma hora você não vai aguentar, tem que se permitir sentir... deixar isso fluir para depois poder viver em paz consigo mesma, mas você... só coloca a raiva em tudo a sua volta e não avança, não tá certo comigo, com o papai e principalmente com você!

Ela engole em seco.

ㅡ Audry, você tem que entender que tudo que eu faço é pra ser forte, por nossa família, não tem ninguém por nós aqui. ㅡ finalmente vejo os olhos alaranjados, porém sem brilho, seu semblante tenta transparecer firme para me confortar, ao terminar de falar ela fraqueja, o que me desestabiliza.

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⏰ Última atualização: May 01, 2022 ⏰

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