Anar andava pelos corredores com a elfa em seu encalço.
Percebera em certo ponto que estava empreendendo uma fuga, e que já não possuía destino certo.
Não conseguia acreditar que aquela jovem achava mesmo que eles poderiam ter alguma coisa. Só tinha a vontade de virar-se para ela, olhar bem no fundo daqueles olhos e dizer que ele possuía a idade para ser seu pai. Mas a elfa o seguia convicta de que estava prestes a viver um romance e não o deixava em paz.
— Eu cantarei na noite de hoje — ela disse enquanto o seguia apressada. — Gostaria que estivesse lá.
— Não sei, Riana, ando um pouco ocupado — Anar respondeu.
Aquilo não era bem verdade, mas não queria aceitar aquele convite e dar esperanças a elfa. Ainda mais considerando que Riana não precisava de muitos incentivos para criar esperanças.
— Preparei a canção para você — ela insistiu —, e seria muito triste se você não a ouvisse.
— Sinto muito, mas não poderei — disse ele por fim completamente temoroso de onde aquilo poderia parar. — Lembrei-me agora que combinei de rever algumas atividades com Adan.
O elfo falou antes de perceber o erro. Teria que pedir a Adan que se privasse de estar com a comunidade aquela noite? Por que havia citado o nome dele?
— É uma pena — lamentou ela mostrando-se desapontada. — Mas podemos combinar depois algum momento em que eu possa cantar para você. Dessa forma não ficaria sem me ouvir.
— É... outra hora vemos isso, está bem?
— Mas...
— Riana, estou muito ocupado, está bem? Não posso te dar atenção — declarou Anar e antes que a elfa pudesse dizer qualquer coisa, retirou-se deixando-a sozinha e confusa.
Andou ele a passos firmes pelos corredores em busca de um lugar onde pudesse enfim relaxar sem o risco de uma criança começar a persegui-lo, porque para ele Riana não passava disso, uma criança.
Foi para seu quarto convicto de que lá encontraria sossego. Jogou-se na cama contrariando seus costumes de nunca deitar-se de dia, e olhando para o teto fez o que tentava não fazer a dias: pensar em Laurea.
Tentar afastá-la de seus pensamentos era uma guerra perdida, ele já aceitara, mas podia pelo menos fingir que não mais a considerava, e era o que estava fazendo com muito afinco.
Buscava com todas as suas forças fazer Laurea acreditar, assim como todos os que os cercavam, de que não mais se importava com ela.
O pior de tudo era fingir interesse pelas elfas que se aproximavam dele, e pior ainda era como se sentia depois por saber que estava despertando sentimentos que não pretendia corresponder. Apesar de carregar a secreta esperança de que talvez alguma delas pudesse de fato despertar algo verdadeiro nele e ajudá-lo assim a esquecer Laurea.
Mas até aquele momento não houve nenhuma que fizesse ele se quer pensar que conseguiria virar a página, e aquilo o corroía por dentro.
Por fim deixou-se ficar ali, esquecido na cama e remoendo seus pesares desejando que por um milagre ele pudesse enfim descobrir como agir.
[...]
Laurea despertou pela manhã ainda não conseguindo admitir para si mesma que havia realmente presenciado aquela cena.
Diante de todos aquela menina havia dito com todas as letras que dedicava a canção a Anar e depois teceu com sua bela voz versos de amor.
Onde havia parado o bom senso daquele elfo? Por que ele incentivava aqueles sentimentos numa garota? Concluiu que talvez ela nunca o houvesse conhecido de verdade, e que só agora Anar estava demonstrando quem realmente era.
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Contos de "Além do Bosque"
Short StoryElfos são muito mais suscetíveis as emoções do que podemos imaginar. Eles também se apaixonam, sofrem e cometem erros, sendo muitas vezes cegos o suficiente para não enxergarem o que está bem diante de seus narizes. Mas o que seria a vida sem seus...