Laurea olhou a Anar indignada.
Enquanto todos se moviam e corriam de um lado ao outro buscando formas e se preparando para irem a procura de Maria, o elfo permanecia impassível.
— Não vai ajudar? Aryon precisa de você! Isso pode gerar uma guerra e você age como se nada estivesse acontecendo!
Anar deixou de fitar o fogo que crepitava na lareira para olhar a elfa que se colocava diante dele e o interrogava. Laurea havia ido até ele, invadido seu quarto e naquele momento pedia explicações sobre sua inércia.
— Não colaborarei com isso — ele decretou. — Já considerou a hipótese dela ter partido por vontade própria? Dela ter aceitado a proposta que Losar fez? Não seria muito diferente do pai.
— Não acredito no que estou ouvindo! — Laurea esbravejou indo até ele, mas detendo-se na busca por controlar a vontade que tinha de esbofeteá-lo. — Pare com essa conspiração absurda! Já ficou mais do que claro que a Maria não passa de uma menina inocente e que sofreu muito por causa da nossa incompreensão!
— Meu irmão foi assassinado pelo pai dela e você me pede para ser compreensivo — Anar comentou descrente soltando uma risada totalmente sem humor.
— Pelo pai dela, Anar! Não por ela!
A elfa tentou fazê-lo entender o absurdo das conjecturas que ele se permitia.
— Não há diferença! São todos humanos e mais cedo ou mais tarde irão te apunhalar pelas costas — ele a rebateu. — Se você soubesse do que eu sei não seria tão bondosa com essa humana — Anar soltou na fúria que começava a tomá-lo.
Não conseguia ver-se sendo tão injustamente julgado pela elfa e continuar impassível.
Laurea o olhou intensamente absorvendo aquelas palavras vendo instantaneamente a mudança no elfo ao dar-se conta do que havia dito.
— Do que está falando? — perguntou ela com voz baixa.
Anar retribuiu o olhar e afastou-se sacudindo a cabeça diante do que fizera. Ele jamais poderia dizer aquilo a Laurea. Não suportaria vê-la sofrer tanto.
— Não é nada... esquece o que eu disse!
— Anar, fale imediatamente ou nunca mais o olharei nos olhos — ela o ameaçou e começou a segui-lo pelo quarto não permitindo que ele se afastasse. — Nunca pensei que esconderia coisas de mim!
Anar voltou-se inquieto detendo-a com mãos firmes em seus ombros e rogou sentindo a pior sensação que já sentira tomá-lo por inteiro:
— Por favor, não faça isso!
— Me diga! — exigiu.
— Não direi nada, Laurea! — o elfo respondeu pesaroso.
A elfa afastou-se com olhos lancinantes.
Com metódicos passos para trás se afastou dirigindo-se a porta e disse:
— Tenha-me como morta então.
— Laurea! — Anar chamou-a, mas ela já havia se retirado.
[...]
Após alguns dias quando tudo já havia se acalmado, Anar não suportava mais a indiferença de que era alvo por parte de Laurea. A elfa tratava-o como se ele não existisse e o não concedia nem o mais breve dos olhares para consolá-lo.
Sonhava com ela todas a noites, entre coisas que aconteceram no passado e coisas que ele sonhara toda a sua vida que acontecesse.
Era como se todos aqueles acontecimentos que trouxeram de volta toda a desgraça de Caelor tivessem agitado os sentimentos que ele cuidadosamente havia assentado e que agora o corroía por dentro fazendo-o lembrar do quanto sua vida não passara de uma única página de resignação.
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Contos de "Além do Bosque"
Historia CortaElfos são muito mais suscetíveis as emoções do que podemos imaginar. Eles também se apaixonam, sofrem e cometem erros, sendo muitas vezes cegos o suficiente para não enxergarem o que está bem diante de seus narizes. Mas o que seria a vida sem seus...