Por Narrador
Dois anos após o casamento
O tempo passava e a cada novo dia, a convivência entre Fernanda e Nicole era de novas descobertas, mas até mesmo as preferências e manias de ambas, pareciam deixa-las ainda mais encantadas uma pela outra. No entanto, a relação arranhada entre Fernanda e Elizabeth, eram como um fantasma para o coração bondoso de Nicole, que sempre acreditou que uma das coisas mais sagradas da vida, era o laço entre pais e filhos. Ela não conseguia conviver com a realidade que o amor que ela sentia por Fernanda, de alguma forma, fosse responsável pela desunião da família da sua amada.
Por sua vez, Fernanda não conseguia entender como depois de tudo o que sua mãe fez, Nicole ainda desejava vê-la voltar conviver com Elizabeth. Fernanda possuía muitas qualidades, mas um defeito que poderia ultrapassar todas elas... O orgulho. E era justamente contra isso que Nicole tentava lutar todos os dias quando argumentava que pessoas podem errar, mas que nunca é tarde para consertar seus erros e se tornar alguém melhor do que acreditamos ser possível. Ninguém é só bondade ou apenas maldade. Os dois estremos vivem em constante encontro em nosso coração. Com isso, Nicole tentava fazer a esposa ver que Elizabeth tinha sim um lado ruim, mas em algum lugar de seu coração a bondade estava oculta.
Demorou, mas finalmente Nicole conseguiu convencer Fernanda se permitir voltar a conviver com a mãe. Tudo bem, ela sabia que as coisas não seriam mais as mesmas entre mãe e filha que tinha personalidades tão diferentes, e para ser sincera, ela não pedir isso, ela apenas desejava vê-las conseguindo conviver em paz.
No entanto, o que Nicole não imaginava, era que no coração de Elizabeth, só existia mágoa e espaço para o desprezo. A mais velha não verbalizava, afinal, ela não queria ver a filha se afastar novamente, mas ela sempre responsabilizou Nicole pela ruina da sua família, pois naquela época, Elizabeth não perdeu apenas o convívio com a filha, mas também viu seu casamento ser destruído. Sim, a mais velha não se permitia enxergar e se responsabilizar pelo o próprio fracasso familiar. Isso porque nós seres humanos somos tão falhos que sequer conseguimos perceber o quanto a família moderna tem se tornado um grupo de estranhos. Cada um com seus erros, manias, problemas, solidão... Cada um ilhado em um mundo próprio. Muitas vezes a família chega acabar e sequer nos damos conta, mas quando isso finalmente é percebido, é mais fácil encontrar culpados, do que encarar nossa própria culpa e nos responsabilizarmos por nossos caos.
No pensamento atormentado de Elizabeth, seus dias andavam difíceis, solitários... Se no passado Elizabeth havia enfrentado uma guerra com Fernanda, naquele presente ela se via em uma segunda guerra, porém dessa vez com seus outros dois filhos. Enquanto se debatia com Mirella, por descobrir que a mesma havia decidido ir contra sua vontade, e agora preparava-se para assumir seu lugar em uma corporação de bombeiros do Rio de Janeiro, tinha que conviver também com a decisão de Arthur de abrir sua própria clínica, isentando-se assim, de administrar o hospital que carregava o sobrenome da sua família. Para a mais velha, aqueles eram dias difíceis, aos quais ela não conseguia entender que ela só estava colhendo aquilo que havia plantado.
Bom, pelo menos para alguma coisa Nicole havia servido, afinal, com sua influência sobre a esposa, ela havia conseguido convencê-la a fazer as pazes com a mãe e assumir o hospital Morelle ao lado dos pais, que apesar de divorciados, amigavelmente continuam sendo os únicos donos majoritários do empreendimento. A relação entre elas ainda não era nada boa, tão pouco Elizabeth conseguia ver com bons olhos o casamento da filha com a mulher que tanto desprezava, pois para ela, Nicole era sinônimo de vergonha e jamais estaria ao nível de carregar o sobrenome da sua família. No entanto, só em ter Fernanda comandando o hospital junto com ela e Otávio, já era um bom começo, e lhe fazia acreditar que em algum momento Fernanda voltaria atrás da decisão daquele casamento.
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Dois extremos
Storie d'amoreReza a lenda que o sol e a lua sempre foram apaixonados um pelo outro, mas nunca podiam ficar juntos, pois a lua só nascia ao pôr-do-sol, e o sol só renascia quando a lua voltava adormecer, vivendo assim um ciclo continuo de desencontros. Sendo assi...