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Pela primeira vez em muito tempo viu a lua e as estrelas por uma pequena janela, mas era melhor do que nada. Lucifer revelou-se um sujeito irritante com piadas baratas. Mesmo assim ele era sinónimo de liberdade mesmo que não saísse desse quarto. Quando ele fala é como se não estivesse ali fechada, mas sim lá fora vendo e vivendo coisas novas.

Olhou para ele tendo apenas a luz da lua a definir os contornos do seu rosto, ele era bonito. Cabelo selvagem, olhos castanhos, um sorriso brilhante e muito inteligente. É um desperdício para manter ali fechado, mesmo que esses homens dissessem que ele é o diabo.

Ele remexeu-se. "Lucifer?" Ela sussurra. Ele não responde. Um sinal para ela dormir, deitou-se no seu lado da cama e esperou para adormecer.

Lucifer apenas acordou com o som do tabuleiro a arrastar por baixo da porta e então percebeu que Chloe estava encostada a ele enquanto dorme. Ela é bonita, mas a magreza dela preocupa-o.

"Chloe?" Ele chama-a baixinho.

Ela abre levemente os olhos. Então ela percebe como está próxima e afasta-se.

"Está tudo bem, podes dormir perto de mim."

"Eu... eu não queria desculpa. Não dei conta." Diz ela.

"O pequeno-almoço está à nossa espera." Levantou-se para recolher o tabuleiro para a cama. Ela agarra na taça de cereais e come com avidez. Lucifer comeu apenas uma colherada e enojou-se com o sabor. "Queres o resto?" Ele pergunta.

"Não Lucifer."

"Bom eu não vou comer isto... é horrível."

"O meu está bom." Ela diz.

"Ainda bem que gostas, eu insisto tens de comer mais."

Ela acaba por aceitar a sua oferta e come o resto tão rápido quanto o anterior.

"Dormiste bem?" Lucifer pergunta-lhe.

"Dormi, quando não te estavas a agitar." Diz ela. "Por um momento pensei que estavas a ter um ataque enquanto dormias, depois ficou irritante. Tive vontade de te chutar da cama."

"Eu às vezes tenho visões do inferno e recebo orações de fanáticos."

"Então essa alucinação com o inferno começou quando?"

"Não é uma alucinação. É real."

"Então... tens chifres e asas? Pele vermelha?"

"Ohh não... não tenho chifre nem cauda. Asas cortei-as e pele vermelha... bem diria mais que é uma figura queimada de tendões e músculos."

"Então podes me mostrar? Posso ver as tuas cicatrizes... eu mostro as minhas." Ela puxa as mangas do vestido para destacar as marcas que tinha em vários pontos.

"Chloe... eu não acho boa ideia." Ela parecia frágil, mentalmente instável e descompensada fisicamente. "As pessoas ficam assustadas. Apenas os pecadores a devem ver."

"Bom nem todas as pessoas já viram o que eu vi, fizeram o que eu fiz ou viveram o que eu vivo." Ela diz simplesmente. "Eu não sou tão frágil... não precisas ter pena de mim." Ela deixou-se deitar na cama. "A companhia está bem."

Ele olhou-a nos olhos, ela parece cansada. "Queres dormir mais um pouco?"

Ela concordou. Então ele puxou-a para si, deitando-se com ela até adormece com a cabeça encostada ao seu peito e os braços em volta da sua cintura.

*

Ela gemeu ao acordar.

"Olá." diz Lucifer.

"Olá. Já é muito tarde?" Pergunta olhando para a janela.

"Não, mas já trouxeram o almoço."

"Já?"

"Tens fome?"

"Nem por isso, mas é melhor comer de qualquer maneira." A verdade é que estava faminta, mas não queria que Lucifer repartisse a comida dele com ela. Comeram sem grandes cerimónias. A porta abre e o cientista que ela viu no dia anterior entra com uma arma na mão. "Tens de vir comigo." Diz ele referindo-se a ela.

Ela levanta-se calmamente para o seguir. O Lucifer agarra-lhe a mão firmemente para não a deixar sair. "Onde é que ela vai?" Ele pergunta ao homem ficando também de pé. Tinha a oportunidade de sair dali muito rápido, ele é imortal, mas ela tem de estar segura.

"Não tens nada a ver com isso e é melhor ficares longe..." Diz o cientista.

"Senão?" Lucifer pergunta.

"Estas balas são feitas de metal celestial. Podem matar o diabo." O homem sorri doentiamente. A cara dele ficou séria e os olhos dele piscaram vermelhos. "Eu não tenho medo disso."

Chloe olhou para ele com uma cara chocada. Ela viu. Foi então que Lucifer avançou para o homem, mas foi travado por um disparo na perna. Chloe gritou. "Eu vou, por favor..." Ela avançou para o homem.

Então ela saiu com o cientista e Lucifer ficou ali sangrando da perna.

*

Chloe segue o cientista até um gabinete e senta-se na cadeira como ele mandou. Os olhos de Lucifer não saíram da sua mente. Ela só podia estar maluca.

Depois de lhe fazer várias perguntas sobre a comida, sobre o seu tempo de sono e se já tinha tido relações com Lucifer ou não. Ele auscultou-a, pesou-a e deu-lhe alguns comprimidos que ele dizia ser vitaminas para a ajudar a adaptar melhor. Tomou sem protestar. No final levou-a de volta.

Entrou no quarto num empurrão e o homem fechou imediatamente a porta. Nesse momento o Lucifer estava na cadeira olhando para a perna ensanguentada, mas já não parecia haver um ferimento. A bala estava na mão dele.

"O que eles fizeram? Estás bem?" Ele pergunta.

"Sim Lucifer, foi só para ver se eu estava bem."

"E está tudo bem?"

"Acho que sim." Responde.

"Ainda bem."

"Lucifer? Porque te preocupas tanto comigo? Porque fizeste aquilo?" Ela ficou afastada dele.

"Bom eu não acho que mereças tudo isto Chloe. Mesmo nestas circunstâncias tu ainda és gentil. Ainda há algo dentro de ti."

Chloe sorri. "Pelo menos tenho o diabo do meu lado. Tu és bom para mim."

*

No dia seguinte

A Chloe parecia muito mais enérgica e divertida do que o dia anterior. Felizmente perceberam que ela não estava bem e trouxeram mais comida nessa manhã.

Enquanto ela estava no banho e ele estava deitado na cama a olhar para o teto. Ao fim de poucos minutos ouve Chloe cantar baixinho. Nesse momento passa um saco pela abertura da porta, lá dentro tinha algumas roupas novas. Ele não usaria essa camisa barata e aquelas jeans desbotadas nem morto. Já para Chloe era um vestido simples preto.

Ele bate à porta da casa-de-banho. "O que se passa Lucifer?" Ela pergunta.

"Mandaram roupas novas, eu pensei que as podias querer."

"Podes entrar Lucifer."

Ele abre a porta com cuidado ficando espantado com a nuvem de vapor que está no interior. Quando olha melhor lá está ela completamente nua por baixo do chuveiro.

"Chloe... eu..." Era uma bela visão mesmo com a magreza e as marcas.

Ela sorri. "Está tudo bem Lucifer, podes deixar as roupas aí na bancada."

"Claro..." Deixa as roupas onde ela disse e sai rapidamente. Ele não devia pensar nela dessa maneira. Ele sentia-se nojento pois ela estava frágil.

Alguns minutos depois ela sai vestindo o novo vestido e com um sorriso no rosto. "É a tua vez." Diz ela.

Lucifer entra na casa-de-banho sem dizer nada. Tenho de limpar a minha mente. Um banho frio vai servir.

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