deux

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• perrie edwards •

Jornalismo sempre foi o meu sonho, minha mãe adora contar, para qualquer um disposto a ouvir, como eu sempre li muitos livros, adorava escrever histórias  e acima de tudo, como sempre me realizei em contar novidades para as pessoas. Não que eu fosse muito extrovertida, isso eu nunca fui, era tímida demais e tinha vergonha até mesmo de pedir um lanche sozinha, mas com as pessoas próximas, era extremamente comunicativa.

Quando passei em uma das melhores universidades do país, foi uma alegria só, pelo menos nos primeiros dois anos, quando as únicas novidades que eu tinha para contar eram sobre as minhas ótimas notas e acontecimentos cotidianos da faculdade.

No começo do terceiro do curso, depois de três meses de negação e sem tpm alguma, os dois risquinhos vermelhos vieram e eu entrei em desespero. Lembro como se fosse ontem de pegar um trem para South Shields, chorando, com a mão na barriga, sem saber o que esperar da reação dos meus pais.

Depois de muita ajuda, consegui terminar a faculdade com um bebê de um ano e meio batendo palmas para a mamãe na formatura. Mas mesmo com apoio e muita sorte, boa parte do meu tempo era ocupado pelo trabalho, valia a pena, é claro, para alguém que não tinha contatos na área antes, ocupar um cargo importante aos vinte e seis anos era um feito quase impossível, e provavelmente seria para mim também, se a minha vida não se resumisse literalmente em trabalhar e cuidar de Maeve. Sem festas. Sem muitos amigos. Sem qualquer vida social.

Eu sabia descobrir fatos inéditos para notícias, também sabia negociar com fontes exigentes, responder emails de políticos bravos após a publicação de algum fato que eles matariam para esconder para sempre, sabia contatar cada uma das minhas testemunhas de um jeito diferente para conseguir declarações de qualidade, e fazia tudo isso criando um pequeno ser humano, e algumas plantas, mas não conseguia manter uma conversa cotidiana.

A idéia de ter que manter uma conversa, sempre garantindo que tenham brechas para novos assuntos e com respostas vagas mas ainda assim interessantes, me assombrava. Minha filha, no entanto, era como uma versão minha extremamente tagarela.

— Tchauzinho, senhor Roger! – ela acenou para o porteiro, sorridente, e começou a procurar quem viera buscá-la.

A verdade é que o seu pequeno discurso no último evento escolar me deixou realmente pensativa e por isso, dei um jeito de sair do jornal a tempo de vir, ao invés de pedir para Lauren ou Harry, como de costume.

— Olá?! – questionei, me abaixando para cumprimentar minha pequena.

— Mamãe?! – arregalou os olhinhos surpresa, e como de costume, correu até onde eu estava.

— Perrie? – me virei de forma desajeitada, tentando identificar quem estava me chamando, e dei de cara com um par de calças sociais pretas.

— Jade Thirlwall. – lhe lancei um pequeno sorriso, mostrando que lembrava dela.

— Me desculpe por não ter mandado mensagem, eu realmente esqueci e só lembrei quando te vi pessoalmente. – se explicou de maneira breve, e aproveitei para ficar de pé e desamassar minhas roupas.

— Jade! – minha filha exclamou surpresa, abraçando o quadril da morena a nossa frente. — Estou com saudades dos seus sushis. – comentou,  soltando a mais velha.

— Ah é?! Isso é ótimo, pois eu estava prestes a tentar combinar um dia para você e a Blair brincarem lá em casa. – sorriu gentilmente, ganhando um sorriso enorme como resposta.

— Pode, mamãe? Prometo me comportar, e não comer doces se não for sexta feira, e comer salada, frutas e coisas nutridas! – a menor disparou e me encarou com olhos de cachorro abandonado.

— O certo a se falar é "nutritivas", meu anjo, mas a princípio tudo bem. – tirei algumas mechas de cabelo do rosto da minha pequena e voltei meu olhar para Thirlwall. — Mae tem algumas aulas extracurriculares durante a semana, mas me avise que data tem em mente e eu me programo para deixá-la na sua casa.

— Mamãe. – Maeve puxou a ponta da manga do meu sobretudo. — Está falando com jeito de senhorita Edwards, igual no trabalho. – suspirou frustrada e sorri culpada para ela. Era mais forte que eu.

— Eu tinha pensado na sexta, e você busca ela no sábado de manhã, pode ser? – Jade se pronunciou, alternando o olhar entre o rosto da minha filha e o meu.

— Ótimo, Mae não tem nada na sexta, preciso mandar uma autorização para que possa buscá-la na escola ou prefere que ela vá em algum outro horário?

— Senhorita Edwards. – a mais nova resmungou, puxando meu casaco novamente e a encarei séria. — Desculpa. – sussurrou ainda mais baixo, sabendo que não deveria interromper conversas.

— Eu busco elas, pensei em passar no supermercado para comprar algumas porcarias e na manhã seguinte você busca, ou eu posso levar ela até a sua casa. – Jade informou, alternando o olhar entre minha filha e eu.

— Meu amor. – chamei, me abaixando para ficar da altura dela. — Por que não vai avisar o Senhor Roger que a mãe da Blair já está aqui? – ela assentiu animada e eu me levantei para observar ela correr para longe. — Acho que não consegui realmente dizer o quão grata eu fico por isso, Jade, nem sei como expressar e se precisar de qualquer coisa-

— CHEGAMOOOS! –a vozinha ofegante da Maeve anunciou, sorridente, e soltou a mão da amiga para que a mesma pudesse abraçar a mãe. — Olha quem veio me buscar hoje, B! E elas estavam combinando uma festa do pijama!

— Oi, B! – me abaixei novamente, recebendo um sorriso tímido em resposta. — Não acredito! Esse broche na sua mochila, é do Aladdin? – questionei, mais entusiasmada do que o necessário.

— Sim! Esse é o tigre da princesa Jasmine, o Rajah. – respondeu baixinho,  apontando para o local.

— Ele é adorável! – sorri de volta e estava mais uma vez levantando, com certa dificuldade por conta da dor nos pés causada pelos saltos.

Jade estendeu a mão e me ajudou a ficar em pé, sua mão era macia e quente. Me puxou para cima em um movimento delicado, mas firme.

— Obrigada, denovo. – apertei a mão dela brevemente, antes de desvencilhar meus dedos de seu toque.

— Então, sábado? – ela se apressou em dizer, antes que o silêncio constrangedor preenchesse o ar que nos cercava.

— Pode apostar que sim, Thirlwall. – sorri para e estendi a mão para ir embora com a minha pequena.

— Estarei esperando, Edwards.

E então nos encaramos, não se passaram mais de três segundos. Não era o suficiente para observar a ponto de perder a curiosidade, mas era tempo de sobra para me fascinar, me fazer sentir que precisava observar aquele rosto, pelo menos mais uma vez.

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