Nunca deixaram Magnus falar demais. Ninguém gostava de rapazes tagarelas, que ficavam falando o tempo todo, então ele simplesmente mordia a língua e esperava o tempo passar para poder jogar conversa fora com a melhor amiga, Catarina. Só que às vezes, isso demorava tanto. E assim o tempo passava, dissolvendo-se como espuma na crista das ondas que lambiam a praia.
Magnus sempre quis, quis tanto ter pelo menos um pequeno vislumbre do mundo acima dele. Saber como era lá, sentir calor. Não existe tal sensação no Palácio Real de Asmodeus, bem aqui no fundo do oceano. Magnus suspirou, encarando a relíquia de alguma coisa de um navio que naufragou há alguns meses. Ele adorava colecionar estes objetos interessantes do uso humano.
— É para o seu bem — disse Catarina, toda mal humorada, colocando uma coroa de lírios brancos na sua cabeça. — Você sabe o que o seu pai acha do mundo humano. Não deixe que ele flagre você falando nisso.
Magnus observou uma flor que afundava e a pegou, cuidadosamente, nas duas mãos. Ele odiava que falassem "seu pai aquilo", "seu pai isso", e não pensassem nele. Nele como pessoa. O que Asmodeus dizia, era lei. E isso ninguém questionava. Entretanto, o quarto de Magnus é repleto de achados curiosos que veio acumulando. Objetos de humanos que afundaram do mundo deles para o seu, e os quais ia juntando em sua coleção.
— Você não fica com vontade de saber como é o mundo lá em cima? Com os humanos? Você já esteve na superfície?
— Algumas vezes — admitiu Catarina, sentindo um tremor percorrer seu corpo ao som da palavra humanos.
Ela nunca gostara de humanos, ninguém jamais se atreveria a pensar em gostar de tais criaturas. Tudo dito a respeito deles eram contos de terror para assustar as crianças, mas Magnus possuía uma curiosidade insaciável ardendo dentro dele. Querendo saber como era o mundo lá em cima, na terra. Andando sob duas pernas. A sereia balançou a cabeça, os cabelos obscuros flutuando ao redor do rosto como geralmente acontece embaixo da água.
— Mas pare — disse ela. — De pensar nos seres humanos.
— Eu bem que queria ver... deve ser magnífico! E tem aqueles peixes que cantam no céu, não é?
— Eles chamam de pássaros.
— E deve haver fogo! Eu sempre quis ver fogo de verdade... parece brilhante.
Catarina cruzou os braços, vagamente aborrecida. Estava mais preocupada com a obsessão de Magnus pelo mundo humano. Um mundo que os desprezaria, ou ainda pior.
— Dizem que queima. O fogo.
— Mesmo?
— Uhum — fez. —, extraordinário, não acha?
Magnus inclinou a cabeça pro lado, visivelmente confuso.
— Você está sendo sarcástica?
— Não, imagina. Mags, não quero você pensando em ir lá em cima, na superfície. Primeiramente, porque seu pai ia acabar com você se fosse. Segundamente, para que você não acabe como sua...
Catarina de repente se calou, quando percebeu que estava cruzando determinado limite. Os olhos dourado-esverdeados de Magnus brilharam, como lágrimas não derramadas. Seu pai diria que chorar é uma fraqueza. Ele não queria parecer fraco, embora não soubesse a razão de querer agradar seu pai. Tudo que ele era o contradizia.
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The Little Mermaid ; malec
FanfictionFanfic malec que tem como base o clássico conto de A Pequena Sereia ♡