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Magnus fez uma pausa na frente do quarto de suas irmãs, ouvindo uma discussão entre elas. Estão brigando de novo?, pensou com um suspiro silencioso. Vozes exaltadas e gritinhos de aborrecimentos eram comuns vindos delas.

Esganiçadas, diria seu pai se comportassem-se de tal maneira diante dele. Não que Magnus se atravesse a fazer isso, ele não tinha a coragem. As queridas filhas do Rei dos Mares devem ser boazinhas o tempo todo. O que é difícil, acrescentou Magnus mentalmente. Ninguém deu atenção a ele quando entrou no quarto.

— Esse pente é meu! — disse uma delas, os cabelos castanhos flutuando ao redor do corpo e as bochechas rosadas de aborrecimento. Ela era morena, parecida com Magnus. E talvez uma das menos irritantes de suas irmãs.

— Seu, uma miséria! Você pegou e deixou na sua escrivaninha. É meu!

— Não, este é o meu pente coral. Devolve, antes que eu vá pegar de você!

Talia! — insistiu Polímia, assim que Magnus passou por ela para pegar o pequeno espelho sobre a penteadeira. Ela estava flutuando no meio do quarto, entre as duas, enquanto as outras três observavam atentamente do conforto de suas camas.

— Que foi? Ela pegou o meu pente. O meu!

— Nem tudo pertence à você, sua desavergonhada. Imagine só se o papai visse a gente brigando desse jeito! Somos damas, não tubarões. Então tratem de se comportar. Desse jeito nunca vão arrumar um marido.

— Quem precisa de um marido? — murmurou Magnus, meio para si mesmo.
Todas as irmãs olharam para ele. Polímia, principalmente, parecia absurdamente irritada com o comentário.

— Como assim quem precisa de um marido? Todas nós precisamos! Você é tão ingrato, mesmo agora que está sendo prometido em casamento a Imasu Corais. Ele é o homem perfeito!

Magnus engoliu uma resposta malcriada. Imasu Corais era tudo, menos o homem perfeito. Pelo o que Magnus se lembrava, ele sempre falava coisas desagradáveis e vivia olhando para ele como se fosse um prêmio a ser conquistado.
Pois não sou um prêmio, nem apenas uma coisinha bonita pra ser admirada. Eu sou uma pessoa! Com alma e coração. Babaca...

Magnus não quis responder. Não ia se dar ao trabalho de se envolver em um debate com a irmã mais velha, sabendo que em algum momento não teria argumentos para combatê-la. Ele apenas se encarou diante do espelho, usando a escova perolada para pentear o cabelo.

— Não estávamos falando do Lorde Corales. Me devolva meu pente! — Talia o pegou da mão de Amaral, ignorando todos os protestos dela para pegá-lo de volta.

O espaço do quarto era imenso; os tetos abobadados forrados pelas algas marinhas verdejantes e o chão pavimentado com mármore azulado. Polímia reclamou a posse da cama da irmã Talia, perto da janela de pedrinhas coloridas de vidro do mar.

— Se ela vai ficar com meu pente, eu fico com a sua cama! Será minha até o dia em que eu deixar o palácio para morar com meu marido — alegou com veemência. A mais nova depois de Magnus, no entanto, não fazia comentários do tipo. Nenhuma das outras irmãs entendia bem o motivo. Nenhuma delas se comunicava direito. Magnus queria que, pelo menos por um dia, elas fossem uma família feliz. Mas isso não era possível.

Magnus costumava ter uma cama neste quarto também, adormecendo com a mão estendida para segurar a de Polímia. Ela era uma boa irmã. Era. Naquela época, Magnus vivia tendo pesadelos, sentindo a dor angustiante que sua mãe poderia ter sofrido quando os humanos a capturaram, e Polímia sempre o acordava, garantindo que estava tudo bem.

The Little Mermaid ; malecOnde histórias criam vida. Descubra agora