5 // i know i hurt you, tony

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"Consigo ouvir seus pensamentos."

"Vou tentar fazer silêncio, então", murmuro em um tom neutro, lutando para me concentrar nos reparos em minha armadura. É uma tarefa árdua com Rogers me encarando sem parar há pelo menos uma hora, contudo.

Pelo visto havia acontecido algo sério o bastante que absolutamente todos os vingadores precisaram estar envolvidos em uma missão em Boston, enquanto Capitão e eu cuidávamos do complexo caso ele fosse invadido. Quase tive um colapso nervoso quando ouvi as ordens saindo da boca de Rhodes, pois ele era o único que me faria fazer qualquer coisa contra minha vontade — ainda mais na companhia de Rogers — àquela altura da minha vida. Apesar dos pesares, simplesmente assenti como um bom soldado e ergui a mão para fazer um high-five com meu colega de equipe, recebendo em resposta um sorriso tímido que já me era costumeiro nos últimos tempos.

Agora aqui estávamos nós dois, sentados um de frente para o outro sem trocar mais de três palavras em quase cinquenta minutos. Rogers não havia tocado no assunto do beijo novamente, para o meu alívio pessoal; e não por conta de Pepper. Acabei terminando com ela há algumas semanas, pois a culpa estava me corroendo a ponto de tirar minhas raras noites de sono, então não vi outra alternativa a não ser deixá-la à par da minha traição. Na verdade minhas ressalvas com o Capitão agora se resumiam meramente ao pânico que ainda sentia quando pensava demais naquele maldito beijo. E sinceramente, talvez fosse bom pra mim ficar sozinho por um tempo, aprender a lidar com a minha própria companhia e tudo mais. Ao menos foi o que li num desses livros de autoajuda uma vez.

Eu ainda era amigo de Pepper e a desejava tudo de bom, ademais. Ela, coitada, foi mais compreensiva até do que eu provavelmente merecia, pondo um fim definitivo em nossa história com uma piadinha sem graça sobre Rogers e eu. "Vocês ainda vão ser conhecidos como super-maridos por aí, pode ter certeza", disse ela, abrindo um sorriso enigmático que a fazia parecer uma vidente ou coisa parecida. Mas acredito que no fim das contas foi uma decisão em prol de nós dois. Potts precisava de alguém com o mínimo de controle sobre a própria vida e eu definitivamente ainda não era essa pessoa.

Chequei as horas no computador e suspirei, tentando voltar o foco para o protótipo em minhas mãos. Passava das cinco da tarde e nada de vilão algum dar o ar da graça. Por pior que soasse, eu já estava quase implorando por uma invasão; especificamente para tirar o Capitão do meu cangote. Não me recordava daquela sua insistência tão ferrenha em me deixar de cabelos em pé somente com a sua presença ali perto, contudo parando para analisar, não era lá muito fora da sua personalidade. Amor exacerbado pela liberdade e coisa e tal. Era esse o seu lema, se não me engano. Não fazia a mínima ideia e estava muito bem assim, obrigado.

"Acho que você tinha razão esse tempo todo, Tony", Rogers me tira dos meus devaneios e paro o que estava fazendo para lançá-lo um olhar confuso.

"O quê?", pergunto, franzindo a testa com tanta força que provavelmente teria criado mais rugas ali.

Ele contempla meu rosto por um momento, então dá alguns passos na minha direção. Engulo em seco com a atitude. "Sobre o acordo, você tinha razão sobre o acordo."

"Eu..."

"É diferente pra nós", começa, suas írises viajando por todo o cômodo como se buscassem as palavras certas. "Como americanos estamos acostumados a controlar o mundo, protegê-lo", ele suspira, parando os olhos sobre mim. "Nós nunca perguntamos se o mundo queria ser controlado ou protegido por nós, em primeiro lugar. Então não importa quão boas sejam nossas intenções, sempre seremos um bando de desconhecidos com superpoderes indiretamente causando mortes pelo mundo afora." Cada som que sai de sua boca chega aos meus ouvidos quase que em câmera lenta, enquanto tento processar aquelas informações. "As pessoas têm medo e com razão."

Limpo a garganta, incerto sobre o que responder. "Cap...", largo minhas ferramentas, ficando de pé. "Eu concordo com o que está dizendo, mas você deve saber que não foi por isso que eu assinei o acordo. Não por isso, de qualquer forma", murmuro enfim, a sinceridade em minha voz me pegando desprevenido.

"Eu sei", Rogers balbucia, cortando a distância que ainda havia entre nós. "Tony, eu sei", ele então toca meu ombro e abre um pequeno sorriso. Encontro no azul de seus olhos algo que nunca vi, ao menos não direcionado a mim.

Compreensão.

ACCORDS | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora