Não é Minha Boneca - (Capítulo 3)

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"Não vá! Eu não posso deixar você ir...!"

"A solidão dói, Donna. Eu entendo; realmente, eu entendo. Quando eu era criança, fiquei sozinho por... bem, muito tempo. Você já passou por coisas piores. Você perdeu seus pais, com certeza. E então veio a Mãe Miranda. Ela quebrou sua mente. Pegou uma garota já fraturada e torceu você até que sua mente simplesmente... não pudesse... aguentar. Então você se escondeu. Tudo bem. Você já sofreu o suficiente. Mais do que o suficiente. Você não precisa fazer mais nada. Basta dizer o que está pensando. Vá em frente. Não tenha pressa. Vou esperar."

...

...

"... não vá."

~ O futuro.

Não é Minha Boneca

Bonecas eram gentis.

Elas não mentiram, não planejaram e elas com certeza, não deixaram você. Elas eram imortais. Eternas. Elas eram boas, eram gentis e estavam seguras. Claro que sim. Ela se certificou disso; espalhou seu parasita Cadou através de cada uma delas de uma forma que permitiu seu controle total. Bonecas eram como plantas. Eles nunca a trairiam. Nunca. Ela poderia usá-las como bem entendesse e, se quebrassem, ela apenas os costuraria novamente. Ela poderia até falar através delas se tentasse muito, muito mesmo.

Donna Beneviento ficou bastante orgulhosa dessa última parte.

Às vezes, ela se perguntava se não era ela que estava quebrada; se sua boneca Angie não fosse apenas a manifestação de seu eu mais sombrio. Às vezes parecia que ela tinha vida própria, personificando as piores partes dela. Porque os humanos eram cruéis. E ela também. Eles mentiram, planejaram e traíram. Espera. Ela já tinha dito isso? Ela não tinha certeza. Ela estava tão esquecida atualmente.

O que ela estava pensando de novo?

Certo, o passado dela.

Ela ficou tão sozinha depois que seus pais morreram. Então veio a Mãe Miranda. Mãe Miranda, que a tirou daquele horrível poço de miséria. Ela a ajudou. Ela a fez forte. Ela a deixou acreditar novamente. Até que, de repente, ela não o fez. Até o bebê nascer; até que a pequena Rose Winters fosse encontrada. Agora a mãe não precisava mais delas. Ela não as queria. Não ligava, desde que protegessem os frascos. No final, apesar de todas as suas conversas e histórias fantásticas, a Mãe também a traiu. Melhor ter bonecas como Angie e as outras. Suas criações a amavam. Eles nunca a trairiam.

Uma pontada repentina de dor percorreu sua mão, trazendo a mestre das marionetes de volta à realidade.

Donna piscou com o olho bom e franziu a testa quando percebeu que havia inadvertidamente cortado a palma da mão de alguma forma; ela deve ter prendido em alguma coisa enquanto consertava as bonecas. Era tão fácil para ela nos dias de hoje que ela simplesmente se perdeu no trabalho mais uma vez. Não mais. Agora seu espírito melindroso recuou com a visão; pois, ao contrário da querida Dimitrescu, ela detestava a aparência de sangue; quase tanto quanto desprezava a própria violência. Isso a lembrou da morte de seus pais, de tudo que ela perdeu, e tudo que ela ainda tinha a perder.

O sangue era horrível. Assim como sua cicatriz.

Seus dedos se cerraram ao redor de sua mão, forçando a ferida a fechar. A dor trouxe esclarecimento. Foco. Raiva. O sangue era horrível. O sangue era ruim. Assim como seu rosto arruinado. Melhor que uma de suas vítimas morresse em uma alucinação, antes mesmo de colocar os olhos nela; ou melhor ainda, ser tratada por suas bonecas fora de vista.

Fora de vista. Fora da mente. Igual a ela.

Ela mordeu o lábio inferior com um gemido manso. Fique aqui, disse a Mãe. Guarde o frasco, disse ela. Não faça mais nada. Não seja outra coisa. Lágrimas amargas escorreram do rosto arruinado da menina, escorrendo por suas bochechas e tamborilando na mesa de trabalho abaixo. Seus instrumentos não ofereceram consolo, nem os olhos sem vida de Angie. Nada. Nenhuma palavra. Nada mesmo.

Não é Minha Dama - (Not My Lady)Onde histórias criam vida. Descubra agora