Alicia só tinha visto um revolver em filmes e eles eram decididamente bem mais assustadores quando apontados para sua cabeça. Estremeceu ao sentir o cano metálico e frio ser colocado rente à sua têmpora.
Tamanha tormenta poderia ser um pesadelo – e seria ótimo se fosse –, só que nem mesmo sua imaginação mais fértil conseguiria criar uma situação tão pavorosa.
Aquele rapaz que cheirava uma mistura de tabaco e álcool, mantinha seu pescoço imobilizado numa gravata que estava quase a sufocando.
— Deixe-a ir! — Erick rosnou entre os dentes. — Esse é um problema entre nós dois.
Estranhamente o rapaz pareceu ter ouvido o apelo de Erick, aos poucos foi afrouxando seu braço e afastando o revolver da cabeça de Alicia. Empurrou-a então, fazendo com que ela caísse ao chão.
Erick correu para perto dela, sentia-se tão preocupado que nem pensou qual seria o próximo passo daquele que um dia fora seu amigo. Ele tomou Alicia em seus braços, e ela começou a chorar.
O algoz os observou por um tempo, parecia deliciar-se com todo o pavor que causava e quis ir além.
— Vamos fazer uma brincadeira...Já ouviram falar em roleta russa? — falou com uma entonação que parecia fugir do contexto da situação. Sua voz soou calma e suave, como se estivesse propondo que fossem passear num parque.
O barulho de metal batendo no asfalto fez o casal estremecer.
Uma, duas, três...Cada bala que tocava o concreto da calçada tornava maiores a tensão e o terror de toda aquela situação. O medo dominava cada milímetro dos corpos de Erick e Alicia, ambos suavam frio, já o rapaz que esvaziava o tambor do revolver, parecia estar se divertindo.
— Pronto! Uma bala e... Isso significa que o destino de um de vocês vai ser decidido na sorte. — Ele apontou a arma na direção da jovem, ele vinha percebendo que torturá-la afetava a Erick, muito mais do que se aquele revolver estivesse apontado para ele. — Se quiserem, podem se despedir, afinal, eu não sou tão mau assim.
Nesse momento, enquanto Alicia agarrava-se a Erick, abraçando-o como se realmente aquele fosse o último contato dos dois, o rapaz amaldiçoava-se internamente. Tudo o que pensava era que, se pudesse voltar no tempo, jamais teria entrado em seu jipe e dirigido até Santo Valle, nunca teria abordado Alicia e assim eles não haveriam se conhecido, isso evitaria que estivessem agora, dentro de uma cena de um filme de terror.
— Eu te amo! — ela afirmou em seu ouvido e tal declaração o fez sentir ainda pior.
Erick respirou, se respondesse que também a amava – porque sim, isso era mesmo verdade –, estaria concordando que a história deles terminava ali, então, sem saber como impedir o sadismo daquele, que só podia estar louco, ele fechou os olhos e apertou Alicia dentro de seus braços assim que ouviu o revolver ser engatilhado.
Ela também preferiu não ver o que aconteceria, começou a rezar e percebeu que ainda estava viva quando o primeiro tiro fora efetuado sem munição.
— Menos um... — O rapaz gargalhou de modo frenético. — Agora é sua vez, amigo. Será você o contemplado? — Ele encarou Erick, estreitou os olhos e logo apertou o gatilho.
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Deu pra perceber que essa história vai ter grandes emoções, né?
O clipe que deixei lá em cima, combina muito essa cena, espero que gostem!

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Um passo errado
RomanceA vida da bailarina Alicia Santteri na pacata cidade Santo Valle, no sul do Brasil, sempre foi calma e totalmente planejada. No ballet aprendeu a ser disciplinada e cada passo dado, tanto na dança quanto fora dela, era calculado. Tanta dedicação tem...