Erick dirigiu em silêncio, havia tanto a ser dito, no entanto, ele não sabia por onde começar. Evitava olhar para Alicia, que também não abriu a boca, exceto para roer as unhas. Ora ou outra ela corria os olhos rapidamente por ele, o rosto estava sério, a mandíbula contraída.
Alicia achou que Erick estivesse indo para o haras, mas ele acabou entrando uma rua antes. Era um lugar ermo, a estrada mais estreita que o comum e cercada por uma mata baixa.
Ele estacionou sob uma árvore de copa larga, queria aproveitar a sombra. Fixou os olhos no volante do jipe, tentando organizar todas as explicações que pretendia dar.
— Me desculpe... — começou do jeito mais simples. — Eu sei o quanto errei e tudo o que preciso é que tente me entender. — Soltou o cinto de segurança e virou completamente o corpo na direção de Alicia.
—Tem ideia de como eu me senti ouvindo você dizer aquelas coisas? — Ela não encarou Erick, os olhos queimavam, mas não queria chorar. — Você me colou na fogueira, me humilhou na frente dos meus amigos, dos meus conhecidos...
Ele esticou o braço e delicadamente segurou o queixo dela, trazendo-o para sua direção.
— Acha que estou feliz por ter feito isso? Eu estou me sentindo um idiota!
Com o olhar ainda baixo, lágrimas silenciosas começaram a rolar pelo rosto de Alica, Erick se sentiu ainda pior.
— Eu confiei tanto em você, Erick. — Ela fungou. — Acreditei cegamente em tudo o que me disse...
— Então acha mesmo que eu usei você? Acha que eu cheguei nesta cidade e pensei: "Vou procurar a namorada do meu irmão e fingir que me apaixonei por ela...?"
Alicia respirou fundo e então olhou para Erick.
— Não exatamente isso, mas sabe o que é pior? — Ela passou os dedos pelo rosto, tentando enxugar as lágrimas. —É imaginar que você pensou aquelas coisas sobre mim...Que fui fácil, que nem precisou se esforçar para me conquistar.
Erick ergueu as mãos, ele não acreditava nas conclusões que ela estava tirando.
— Sério...Acha que eu pensei mesmo isso sobre você? Alicia, eu falei da boca pra fora...David me tirou do sério com toda sua soberba. Viu como ele foi hostil com a minha mãe?
Ela balançou a cabeça...Achava que de todos ali, David era o menos errado.
— Já se colocou, ao menos por um segundo, no lugar dele? — Ela cruzou os braços. — O cara sai para uma viagem de trabalho e menos de quinze dias depois, volta e encontra a namorada dele aos beijos com o seu irmão, em cima de um palco, diante de centenas de pessoas que o conhecem ...— Estalou os lábios. — Parece pior quando é dito em voz alta, não é?
Erick ficou em silêncio por alguns instantes, tentava praticar a empatia.
— É...parece pior.
— Pois é...comigo funcionou do mesmo jeito. Eu sabia que estava fazendo uma coisa errada, tinha plena convicção disso, mas ouvir em voz alta, ainda mais, dito por você...Erick, só ali eu percebi a proporção do meu erro.
Ele manteve os olhos nela, que se mostrava explicitamente atormentada por ter sucumbido àquela paixão; Erick começou e entender que não seria tão simples se acertar com Alicia, porque no final das contas, não era só o que ele tinha feito na noite anterior, havia muito mais. Convicções e valores, certo e errado, tudo isso estava em jogo.
— Como eu posso consertar as coisas? — Ele segurou a mão dela, que não se retraiu.
— Eu estou tão confusa...Preciso de um tempo para me reorganizar, voltar à minha orbita, porque, foi isso que fez comigo; Erick Carter, você me tirou de órbita. — Entrelaçou os dedos nos dele e ficou um tempo observando como aquela mão máscula, se encaixava tão perfeitamente em seus dedos finos e delicados.
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Um passo errado
RomanceA vida da bailarina Alicia Santteri na pacata cidade Santo Valle, no sul do Brasil, sempre foi calma e totalmente planejada. No ballet aprendeu a ser disciplinada e cada passo dado, tanto na dança quanto fora dela, era calculado. Tanta dedicação tem...