Enquanto no palco o quarteto de cordas ainda agraciava a plateia com suas belas canções, no camarim o clima era bem diferente. Erick e David estavam atracados, trocando socos e ofensas.
A fúria que dominava os dois era tão grande, que eles pareciam búfalos. Thomaz e Eliot tentavam de todas as maneiras separá-los, Alicia, aos berros pedia que parassem, enquanto Laura, desesperada, não entendia o que havia desencadeado tamanha desgraça.
— Rapazes! — Regina usou um tom que chegou a assustar a todos. — Vocês estão destruindo o camarim!
— Eles vão acabar se matando desse jeito... — Laura começou a chorar ao ver o rosto de Erick sujo de sangue.
Eliot aproveitou um momento de distração e agarrou David pelas costas, num ato certeiro, seu porte de lutador de jiu-jitsu acabou por dar a ele certa vantagem.
— Segura o Erick! — ele gritou para Thomaz.
— Não precisa... — Erick levantou os braços, arfando. — Eu não vou mais sujar minhas mãos com esse idiota.
— Beija a minha namorada na frente de toda a cidade, e sou eu o idiota? — David esbravejou, tentando se soltar dos braços de Eliot.
Alicia cobriu o rosto com as mãos, ela estava péssima e o olhar da mãe de Erick para ela, só fez tudo piorar.
— Filho, você não fez isso... —Laura pareceu inconformada.
— Essa... — David interveio, como se tivesse notado a presença da mãe de Erick somente naquele instante. — O que essa mulherzinha está fazendo aqui?
Erick arregalou os olhos e fechou as mãos como se estivesse pronto para um novo embate.
— Veja bem como fala com a minha mãe, posso mudar de ideia e quebrar você inteiro!
— David! — Alicia resolveu falar. — Pare com isso! Aliás, vocês dois...parecem selvagens!
— E você hein, Alicia... — Ele apontou o dedo na direção da namorada. — Eu mandei você ficar longe desse marginal e na primeira oportunidade a encontro se esfregando com ele!
— Cale a boca! — Erick deu dois passos à frente e a pouca distância entre eles era muito perigosa. — Fale com a Alicia desse jeito de novo e eu arrebento você!
David arregalou os olhos, aquela ameaça lhe pareceu verdadeira e ao mesmo tempo intrigante. Eliot também percebeu o perigo iminente e apertou ainda mais os braços de David contra as costas.
— Calma, cara...isso não vai resolver as coisas. — Ele tentava, em vão, acalmar o amigo.
— O que está acontecendo aqui? — Cássio entrou como um raio no camarim e ao observar o cenário destruído e os filhos, ambos com os rostos inchados e feridos, teve sua resposta antes mesmo que alguém tentasse explicar.
Laura abaixou a cabeça, ela sentia uma mistura de vergonha e desconforto, a presença de Cássio no mesmo ambiente que ela, potencializou ainda mais seu mal-estar.
— Que pergunta, pai! Vai me dizer que não viu esse maldito idiota beijando a Alicia? —David reclamou com uma grande dose de ódio em cada palavra. — E o pior... eu achando que faria uma surpresa pra minha namorada!
Cássio colocou a mão no queixo, virou o rosto, tentando entender como as coisas tinham chagado àquele ponto e então viu Laura. Ela estava desejando ter o poder de ficar invisível, a história com o pai de seu filho, mesmo vinte e poucos anos depois, ainda a afetava.
— Laura!? — Ele apenas correu os olhos por ela, sabia que quando Marcela descobrisse que eles dividiam o mesmo metro quadrado, o que já era ruim, ficaria ainda pior. — Eu não sei como isso começou, mas sei como vai terminar. — Ele encarou os dois filhos, um de cada vez.
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Um passo errado
RomantikA vida da bailarina Alicia Santteri na pacata cidade Santo Valle, no sul do Brasil, sempre foi calma e totalmente planejada. No ballet aprendeu a ser disciplinada e cada passo dado, tanto na dança quanto fora dela, era calculado. Tanta dedicação tem...