O Casamento

II

Quando TH acordou no dia seguinte já estava claro, o sol devia estar alto porque o quarto estava iluminado e morno. JM estava dormindo a seu lado. TH se levantou, tentando não acordá-lo. Mesmo que fosse tarde, eles dormiram pouco.

Vestiu o quimono de seda que estava sobre a cadeira. Olhou-se mais uma vez no espelho de corpo todo. Viu seu rosto sem brilho e cansado, como se há dias sem dormir. Lavou o rosto, ajeitou o cabelo com a mão trêmula. Pensou que pelo menos a angústia passaria logo pois ele iria encontrar JK antes do meio dia. E então saberia como ia ser. Só então.

Jin tinha dito que de jeito nenhum eles fariam alguma coisa com JM ou HS. O que ele poderia pedir além disso?, pensou, olhando JM se mexer sob as cobertas, as mechas louras espalhadas pelo travesseiro, refletindo o sol. Sem querer mais lutar contra o inevitável, virou-se e começou a ser aprontar.

***

A Residência Oficial do Príncipe era uma edificação de madeira ricamente trabalhada no centro da cidade, tão imponente quanto a sede do governo, eram os únicos a terem dois andares. JK se lembrava bem. De sua porta de entrada, o grande salão onde seu pai recebia nobres e funcionários.

Esses últimos três dias, desde que chegara a Andrus, não deixava de pensar no passado e muitas coisas de que não lembrava mais retornavam a sua mente, aumentando seu tormento. NJ, YG e outros chefes de clã estavam com ele enquanto subia as escadas do átrio, mas era como se estivesse sozinho. Ao invés de satisfação pelo que conquistou, sentia-se é cada vez mais triste, vendo o fantasma de seus pais entre as portas dos aposentos, seu irmão mais velho vestido para sair a cavalo, antigos servos e conhecidos perto de uma porta, uma escada, a luz e a sensação da casa, da infância. Tudo que lhe foi tirado. Tudo que nunca mais ia ter de volta.

NJ pôs a mão em seu ombro e apertou gentilmente. Conhecia JK muito bem. E ele estava se distraindo.

Na frente deles, no centro do átrio, algumas pessoas aguardavam os novos moradores da residência. Kim TH provavelmente entre elas. JK procurou identificar o filho de Doochul. 'Vinte quatro anos', dissera NJ, 'muito bonito'.

Só havia dois ômegas ali. Um deles tinha cabelos claros e traços bem distintos dos de Doochul. O outro tinha o mesmo tom de cabelo e pele do assassino de sua mãe. 'Mas os olhos são diferentes', percebeu logo, quando examinou TH. Os olhos riscados do outro penetraram os seus sem hesitação, confirmando quem ele era. Seu rosto impassível, sem entregar nenhuma emoção. Os dois se olharam por vários instantes, como se não houvesse mais ninguém.

Ao ver isso, que se olhavam e nada diziam, enquanto aguardavam, Jin tomou a palavra: "Alteza, este é o Príncipe Jeon Jungkook, filho mais novo do Príncipe Jeon Rho, marido de sua tia, irmã de sua mãe. Jeon JungKook é o legítimo príncipe governante de Andrus, e seu futuro esposo" acrescentou.

Todos se curvaram, menos TH, naturalmente. Era o que se devia esperar, mas mesmo assim isso irritou JK, como se faltasse só um gesto para recordar que uma parte de Doochul vencera.

TH também se manteve fixado em JK, desde que o vira caminhando em direção à residência. Notou suas calças de couro pretas, bem feitas. As botas também pretas. Os cabelos presos, que soltos possivelmente cobririam a nuca. O contorno harmônico do seu corpo. Forte, como disseram, mas bem mais esguio que imaginara. O rosto parecia mesmo o de um menino de vinte e dois anos, em que o maxilar apenas começava a aparecer, com olhos pretos ainda muito expressivos, atentos e desconfiados de TH.

Finalmente, ele tinha sido concedido a alguém. Depois de esperar e temer por isso a vida inteira, sabendo que não poderia escolher. Pedindo para que esse dia nunca chegasse. Ia então se casar, com um lobo que não conhecia, com quem convivera havia catorze anos, apenas crianças. Alguém que agora tinha todos os motivos para odiá-lo, e parecia odiar mesmo, de acordo com o que ouvira dos relatos da reunião com o conselho dos clãs. JK concordou com o casamento a contragosto, aceitou porque também não teve escolha. Ele queria um outro fim para TH.