XIX

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Mal HS terminou de falar, TH se dirigiu para a frente do templo pelo terreno ao lado. O chão lotado de folhas alaranjadas, amontoadas desde a última parte do outono. Uma chuva fria e fina começou a cair, umedecendo ao redor, mas TH se movia a passos rápidos, sem se importar.

JK estava sozinho no pavilhão de entrada, uma edificação vazada, apenas coberta pelo telhado de madeira curvada próprio da religião. No teto, o desenho de uma das faces da Deusa menos conhecidas no Sul. Estava tirando o casaco molhado e torcendo o cabelo para afastar o excesso de água que escorria pelo pescoço. Vestia as roupas de couro que costumava usar antes de se tornar príncipe e que TH só vira uma vez.

"JK" chamou, sem pensar. Desde que HS confirmara que JK não tivera nada a ver com o atentado e que viera até ali atrás dele, TH nem raciocinou mais, deixou as emoções tomarem conta. Ele era só vontade de alcançar o marido.

O outro levantou o rosto, seus olhos se encontraram.

O lobo dentro de TH deu um salto, tentando forçar a transformação. TH ficou confuso por alguns instantes. Não havia risco de isso acontecer, mas o lobo também nunca havia tentado.

"Você veio até aqui?... HS me contou o que aconteceu em Andrus...com Lee Soo-man... Eu sinto muito..." Não conseguiu continuar, intimidado pelo semblante fechado do outro.

"Sente muito pelo quê?"

Sabia que devia se explicar, para que tudo ficasse bem, mas não era fácil encontrar palavras. "Por ter presumido que você... Por ter ido embora sem antes falar com você" tentou.

"Soo-man podia ter conseguido o que queria ou então machucar alguém mais...YG ou NJ...ou JM..." Pela frieza da voz, ficou evidente que JK estava como muita raiva. TH hesitou.

"Como vocês souberam que era ele?" perguntou, enquanto buscava se recompor.

"SJ mostrou a pulseira que você mandou"

Jin confiou em JK, e TH não — estava no ar, sem ser dito.

"Eu sei que você deve estar chateado. Eu fiz um mau julgamento da situação. Fazia sentido para mim que você quisesse que eu...fazia sentido porque era sempre assim que meu pai resolvia os problemas dele. Mas agora vejo que eu estava totalmente errado"

"Errado?... Quem disse que não vim aqui para terminar eu mesmo o serviço?" JK deu dois passos em direção a TH, e ele se moveu para trás, aparentemente assustado.

JK ficou com mais raiva ainda ao pensar que TH acreditou. "Saiba que eu não faria com ninguém o que fizeram comigo. E nem deixaria que outros fizessem. Eu não sou mentiroso, nem desleal, muito menos covarde como seu pai"

"Desculpa JK. Eu entendi" O que mais ele podia fazer? O que dizer? "Eu errei, eu julguei mal, perdoa"

"Desculpa? Desculpa?!" JK repetiu, alterado. "Você pensou o pior de mim... o pior! Que eu te disse todas aquelas coisas na floresta para dias depois mandar de matar. Deusa! Mandar te matar e ainda sair da cidade para ninguém desconfiar. Como você pode pensar isso? É evidente que você não me conhece nenhum pouco, não sabe nada de mim"

"Eu tive medo" admitiu em voz baixa.

"Pela Última Deusa! Nós estamos vivendo juntos há meses e você me diz que tem medo de mim?? Me faz pensar então o tipo de pessoa que você é"

"Eu obviamente estava errado e falhei com você. Eu não sei mais o que dizer"

E não sabia. Porque o que tinha acontecido era tão sério, mas também porque ainda não conseguia entender e prever as reações de JK. Era como se a relação deles estivesse fadada a fracassar e o pouco que alcançavam a escorrer continuamente pelos dedos.

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