Taehyung

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Taehyung

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Taehyung

Eu sei que eu nem sempre fui um bom namorado e grande parte do desgaste do nosso relacionamento aconteceu por minha causa. Eu sei que Solana não decidiu terminar o nosso relacionamento de quase três anos porque estava cansada de mim ou queria alguém novo. Solana só queria o Taehyung que é tão apaixonado por ela quanto é pelo After Hours do The Weeknd, pelos filmes do Jordan Peele e por tocar Stevie Wonder no piano. Ela não tinha ciúmes das minhas paixões materiais porque sabia que era e na verdade, ainda é, a maior delas.

Quando ela me coloca na caixinha de escroto, ela só reafirma o que eu já sei e o que eu estava tentando negar a mim mesmo no último mês. Eu consigo jogar qualquer jogo de ego mas ser rotulado assim por ela, me faz sentir vontade de chorar. Eu não consigo odiá-la por isso porque sei que fiz pior e porque eu nunca seria capaz disso.

— Certo — É a única coisa que consigo dizer. Guardo a caixinha de boquilhas de saxofone que eu tinha tirado da caixa — Acho que... Eu vou verificar em casa mesmo.

Solana parece confusa mas não diz nada. Torço para que ela diga algo mas ela só assiste tudo silenciosamente. Me levanto e pego a caixa do caixão. Me esforço para sustentar o peso nos meus braços e não consigo deixar de pensar que eu representei o mesmo na vida dela.

— Tchau — digo com um tom de voz baixo e arrastado. Ela não responde. Me dirijo até a saída sem olhar para trás.

Assim que passo pela porta, sinto lágrimas rolarem de meus olhos. A brisa suave e gélida faz com que as gotas espessas que escorrem dos meus olhos sequem enquanto ando.

Sinto a caixa ficando mais pesada a cada passo e sinto o meu corpo amolecendo, como se estivesse suplicando para parar. É como se meu coração partido estivesse afetando todos os meus órgãos.

Caminho por mais alguns metros até chegar a um pequeno parque com um chafariz bem ao centro. Me sento em um dos bancos de cimento perto do chafariz. Deixo a caixa de papelão ao meu lado e me concentro em todas as emoções dentro de mim. As lágrimas continuam rolando enquanto observo o repuxo a minha frente.

De repente, uma memória recente surge na minha mente. No flashback de apenas seis meses atrás, estou com a Solana. Estamos andando em silêncio, nos evitando depois de uma briga que tivemos duas quadras atrás. Ela vê o chafariz e vai até ele, sem me dizer nada; apenas se senta e tira uma foto de si mesma. Penso em ir embora mas fico quando percebo que estou fascinado. Sinto como se estivesse diante de Afrodite em sua forma humana em plena luz do dia. Sinto vontade de tirar uma foto no momento exato em que o sol toca em sua pele. Sinto vontade de dizer a ela o quanto ela é linda e o quanto tenho sorte por tê-la. Sinto vontade de me desculpar, dizer a ela o quanto eu a amo e o quanto quero arrancar sua regata verde escura e o resto de suas roupas quando chegarmos em casa. Mas não digo nada. Só a espero e continuo com o rosto fechado o resto do dia.

Meu peito começa a apertar com a lembrança. A culpa faz meu corpo formigar e soluços passam a acompanhar o choro.

Me sinto mais filho da puta ainda quando penso que mesmo depois de tê-la perdido, de ter chorado e me culpado, eu continuei preferindo o ego. Hoje teria sido uma oportunidade de mostrar arrependimento. Mesmo que a saída do pedestal não a fizesse voltar atrás, eu queria que ela visse meus olhos com sinceridade pela última vez. Eu não queria machucá-la ainda mais, mas quando a vi desdenhosa, meu ego não quis ficar para trás.

Abaixo a cabeça, ainda com as lágrimas escorrendo sem parar. Tento puxar na memória em que momento começamos a dar errado. Tento lembrar de quando um beijo que logo se transformava em sexo passou a ser um selinho que mais parecia uma obrigação. Tento lembrar do momento em que trocamos o karaokê com músicas do Ne-Yo durante a ida a algum lugar por uma viagem silenciosa com energia caótica. Tento lembrar de quando decidimos que ir a uma loja de vinil juntos não era mais tão divertido quanto ir sozinhos.

Quando penso em cada uma dessas coisas, as cenas em que eu me mostrava cansado ou bravo quando Solana queria continuar com nossas exclusividades voltam a circular na minha mente. Por mais que eu tenha pensado em todas essas coisas nas últimas semanas, pensar em tudo de uma vez me traz ainda mais angústia.

Sinto o meu telefone vibrar no meu bolso. Levo alguns segundos para parar de chorar e atender a chamada.

— Alô?

— Taehyung? — Mesmo que faça algumas semanas que não ouço a voz de Solana ao telefone, a reconheço no momento que ela diz o meu nome. Meu coração passa a pulsar mais forte.

— Solana? — pergunto. De repente a ideia de receber uma ligação dela parece irreal que insisto na confirmação.
— Uhum. Yoongi me deu o seu número. Ele acabou não aparecendo para falar a verdade. — diz e um sentimento de deja vu preenche minha mente. É como se ela estivesse me ligando para ir buscá-la em algum lugar depois do seu melhor amigo ter esquecido do compromisso deles pela milésima vez. Yoongi se esquece tanto das coisas que chega a ser engraçado.

— Quer que eu vá te buscar? — O tom da pergunta soa genuíno.

— Você não está de carro, Taehyung — O fato de ela perceber que eu não estou de carro me dá uma sensação genuína de felicidade.

— Verdade... Por que me ligou?

— Merda. Odeio dizer isso mas posso ficar com o disco do James Brown? — pergunta com o tom de voz relutante. Percebo o quanto é difícil para ela dizer isso e que mesmo que ela tenha me ligado, não significa que ela me odeie menos.

— Hum, claro — digo baixinho.

— Pode me mandar pelo correio. Te passo o endereço se já estiver esquecido.

— Eu não esqueci — Falo imediatamente.

— Hum, então pode mandar. Até mais, digo, tchau.

— Solana, espera. Se quiser vir buscar agora, pode vir.

— No seu apartamento? Eu não acho que seja uma boa ideia.

— Ainda não fui para casa. Estou numa praça próxima ao bar.

Solana fica alguns segundos em silêncio, como se estivesse pensando.

— Certo. Acho que sei qual é. Estou indo.

good days [kim taehyung]Onde histórias criam vida. Descubra agora