1- Michelle Estava Cansada

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Eu estava muito, mas muito cansada!

Sério, acordar todo dia (de segunda à sexta), às 5h da matina, chegar no trampo às 6h30, pegar o busão de volta às 17h30 e chegar em casa só às 19h é cansativo demais!

Só tenho o sábado para dar uma atenção maior à minha namorada e a mim mesmo. Praticamente não tenho tempo para mim. Às vezes, tiro o domingo para ir à praia ou algo assim, mas geralmente fico mais em casa aos domingos.

Eu amo ir à praia com a minha namorada, mas às vezes não nos sentimos muito bem, lá. Não pelo mar, claro. Mas pelas pessoas idiotas que não podem ver alguém "diferente" delas que já olham e agem como se fossemos de outro planeta. Isso sem contar todas as "piadinhas" que escutamos quando estamos juntas em ambientes assim. Até mesmo nos ônibus, quando estamos indo para algum lugar.

O pior é que, se você abrir a boca para falar, corre risco de morrer, ficar completamente machucada ou algo assim. No mínimo, as pessoas vão dizer que é "mimimi". Isso porque, sem dúvidas, não é com elas. A dor que não dói em nós, sempre é minimizada, não é mesmo?

E eu estava mesmo cansada. Cansada não só da minha rotina de matar, mas de, enquanto fazia todo esse percurso para chegar ao trabalho, sempre ouvir certas coisas que me machucavam muito!

As pessoas que dizem que não concordam com tal coisa mas respeitam, são as mesmas que gritam "e aí, sapatona! Você precisa de um homem como eu para voltar a ser mulher", no meio da rua, na frente de quem estiver lá, inclusive na frente de crianças.

Isso é respeito?

O que você entende por respeito mesmo, anjo? Você acha que respeita mesmo as pessoas?

Sabe os princípios básicos de respeito? Ou você é daqueles hipócritas que dizem "se o LGBT quer respeito, tem de se dar o respeito"? Você sabia que isso não passa de hipocrisia?

As pessoas, ao me verem beijando a minha namorada numa parte isolada da praia, disseram que nós deveríamos parar de nos beijar, falando: "nós respeitamos, mas vocês precisam se dar o respeito e pararem de se beijar, porque isso já é demais!"

Aí eu te pergunto: desde quando um beijo entre pessoas apaixonadas é uma ameaça à sua vida? Quando o beijo alheio passou a ser interesse de pessoas que não estão envolvidas no beijo?

Se o beijo não é em você, para quê se incomodar? Por quê?!

E eu estava cansada. Estava cansada de ouvir tantas coisas todos os dias, que fiz o que fiz.

Eu decidi fazer isso porque, além de eu amar a mim mesmo, também amava muito a minha namorada. Estávamos juntas a cerca de 4 anos, eu sei. Mas as pessoas lgbtfóbicas me impulsionaram ainda mais a fazer o que fiz. Eu pensei muito em mim e em minha namorada, além de passar horas daquele domingo pensando em tudo o que passamos juntas. Foram muitos episódios de preconceito e nós sempre estivemos em busca do equilíbrio.

Ela estava me ligando, mas eu não a atendia. Meus pensamentos estavam a todo vapor e eu já começava a planejar como eu diria aquilo à ela.

Então, mesmo cansada, eu saí, para umas lojas.

Depois, ainda na volta, ela continuava me ligando e eu não atendi.

Chegando em casa, fiz algumas coisas e tomei um banho. Resolvi ligar para ela, mas não fui a primeira a falar:

-Ei, amor! Por que você não me atendeu? Eu te liguei muitíssimas vezes!

Eu não disse nada. Depois de alguns segundos, percebi um tom diferenciado em sua voz:

-Michelle, eu preciso que me responda. Eu estou muito preocupada. O que aconteceu?

Então, respondi:

-Meu amor, vem aqui em casa, por favor. Precisamos conversar.

-Eu já estou a caminho, mesmo. Você não me atendia, resolvi ir ver o que houve.

-Ok- foi tudo o que eu consegui dizer.

As minhas emoções estavam a todo vapor. Era uma mistura de sentimentos, uma explosão de pensamentos e eu já estava tremendo. Mas estava decidida. Sim, eu faria isso.

Cinco minutos depois, ela chegou.

-Meu Deus! O que é isso aqui? -Pôs as mãos no rosto.

Eu estava de joelhos, na sala.

-Geovanna, meu amor, você aceita se casar comigo? -perguntei, chorando.

E ela, às lágrimas, disse:

-Sim, claro que sim! Foi por isso que você passou o dia sem me atender?

-Sim, meu amor. Eu pensei muito sobre tudo que passamos. E, a partir de hoje, já que você disse "sim" para mim, vamos fazer um combinado -coloquei a aliança em seu dedo-. Nós vamos exigir o respeito que merecemos. Não vamos tolerar mais esse tipo de tratamento que recebemos nas ruas. Vamos denunciar todos que nos fizerem mal, pois não fazemos isso com ninguém, então também não vamos mais deixar que isso aconteça com a gente.

-Concordo plenamente, meu amor.

Eu estava cansada, e isso me fez despertar, ao invés de descansar, como sempre fazia. Às vezes o cansaço pode estar querendo te provar. Ele quer ver se você vai reagir ou permanecer aceitando o que te oprime. Homofobia é crime!
Que possamos exigir o respeito que merecemos!

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