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"Em Meio"

"Por detrás de cada raiva existe a ilusão de se estar fazendo bem para quem quer que seja"

- O quê? - ela falou sentada na borda da minha cama e só aí notei sua presença. Ela olhava para mim desconfiada e um pouco atónita.

Olhei para ela estupefacta e engoli em seco enquanto me levantava pra adoptar uma posição melhor em minha cama.

- Mamãe, eu não quis dizer... - ela me cortou.

- Porquê você nunca me fala a verdade? - virou o rosto para outro lado por alguns segundos. - Com exceção do que disseste há uma hora. - sorriu friamente. E continuou voltando seu olhar pra mim - Tu nunca és sincera comigo.

Engoli em seco umas tantas vezes, baixei a cabeça, levantei-a em um impulso e balbuciei algumas palavras imperceptíveis.

- Eu não minto para você. - disse após recuperar a lógica frásica. ela arqueou a sobrancelha. - O tempo todo. - terminei e engoli em seco novamente.

- Então, vamos começar do princípio filha. - ela suspirou.

Pelo menos me chama de filha enquanto fala, quer dizer que as coisas não estão tão ruins assim para o meu lado, está... no mínimo razoável.

- O que você quer saber de mim? Ou melhor o que você realmente pensa de mim? - mordeu o lábio inferior, arfou e fechou os olhos por uns milésimos de segundos. - Eu não escolhi não fazer... nada. - terminou com um tom pesado.

Merda. Deu merda.

- Mãe... você não precisa...

- Sim, eu preciso, Olly. - arqueou as sobrancelhas. - Você entende a gravidade disso? Você disse a verdade e me magoo. - sorriu ironicamente. - Está tudo errado, Olly! - uma lágrima solitária explorou sua pele me fazendo instintivamente negar com a cabeça uma e outra vez.

Merda grande, muita merda.

Engoli em seco e a abracei por trás, ficando de joelhos na minha cama. Meu queixo apoiado em sua cabeça. Era a única que me veio em mente fazer. Confortá-lá por pouco que seja, era o mínimo que poderia fazer.

- Desculpa, mãe. Desculpa mesmo. - eu implorava desculpas à ela, choramingando.

- Eu só quero ser uma mãe diferente, sabe?! - suas palavras estavam misturadas com o som do choro. - Eu vou te dizer... - cortei ela.

- Eu não quero saber de nada, mãe. Eu estava nervosa e acabei falando asneiras, eu não quero te ver do jeito que tu estás nunca mais. Independente do que se passa realmente com você, eu não quero saber, mãe. Eu só quero que me perdoes. - beijei sua cabeça. - Desculpa. - soltei um ar pesado.

Eu não estava chorando mas vê-lá daquele jeito me dava um nó imenso na garganta, parecia como se cada lágrima dela enchesse o glaciar que se estava formando em minha garganta.

- Tudo bem, Olly. - suspirou, sacudiu ligeiramente a cabeça para que eu a soltasse. Conversamos noutro dia.

Colocou a mão em seus joelhos e num impulso se levantou e se dirigiu para fora do quarto deixando uma pulga atrás da orelha, ela me perdoou ou não? Deitei-me em uma posição fetal e esperei o sono enfim chegar e tirar-me desse dia longo demais para minha percepção.

***

Olhei de soslaio pela janela e vi o céu todo nublado o sol quase não parecia só se notava a sua presença pela luz que emitia. Me espreguicei e revirei os olhos de seguida.

Mais um dia, menina!

Olhei para o relógio que se encontrava em cima da cômoda ao lado da minha cama e o mesmo marcava 7:30'. Ainda bem que é sábado, sem escola.

Cobri o rosto com o cobertor mais uma vez, logo descobri-me completamente e segurei no meu celular.

Mensagem: Hugo.

Claro, a mensagem do Hugo. Não sei o que vou encontrar mas espero que seja um bom pedido de desculpas.

Hugo: Quando vou te ver de novo?

O quê? Como assim? Eu envio um monte de mensagens e ele apenas me responde isso? Só isso? Qual é o problema dele? Deve estar louco no mínimo só pode.

Argh!

Olly: Nunca, e quanto ao pedido de desculpas que não pediste, enfia no cú. Você é um idiota escroto, é isso que você é. Demore o tempo que precisar pra responder essa mensagem, agora pouco importa.

Não reli a mensagem e apenas envie.

Hugo: Esse humor logo pela manhã?

Olly: Que humor? Para de me enviar mensagens, essa é a última que respondo.

Hugo: Tudo bem.

Ele é tão idiota. E ele não vai fazer mais nada? Vai aceitar assim de boa? Sem mais nem menos. Tudo bem? Sério, tudo bem? Só isso, tudo bem. Mas... tanto faz, não preciso dele mesmo. Eu o conheci a pouco tempo não muda nada na minha vida, é só um menino escroto.

Levantei da cama e fui directo para cozinha, encontrei os meus pais e o Claúdio sentados a tomar o pequeno-almoço.

- Bom dia! - cumprimentei-os.

- Só agora, menina? - arqueou as sobrancelhas enquanto olhava para mim.

- Hoje é sábado, pai.

- Como você dormiu? - meu pai sempre me pergunta isso, todo dia. Quando ele fosse trabalhar mais cedo passava em meu quarto pra me cumprimentar e perguntar se dormi bem.

- Dormi bem e vocês? - respondi como se fosse para todos.

- Bem. - responderam em uníssono.

Sentei-me à mesa e me servi. Comi pão com ovo e leite com café. Na maioria das vezes eu preferia chamar de café com leite porque eu prefiro café à leite e na maioria das vezes há mais café do que leite em meu recipiente.

Fui a última a sair da cozinha e me dirigi para o meu quarto. Peguei o meu telefone na tentativa de encontrar uma mensagem do Hugo mas... nada. Como eu pude confiar em um rapaz como ele? Tudo bem, que sou um pouco idiota mas exagerei com ele.

***
Oi, como vocês estão? Eu estou muito bem?
O que vocês estão achando? É a primeira vez que coloco uma notinha nesse livro Ahaha erro meu. Me digam o que vocês estão achando, ideias, sugestões. Eu vou amar ler cada uma. Bjos da Sty.

Doce Meio Amargo Onde histórias criam vida. Descubra agora