Pequena

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-Yoki… - Sussurrou.
 
A criança em seus braços ainda esperneava, quase como se entendesse o que acabara de perder, sua mãe, sua casa, seu amparo e sua família, tudo isso em um único só dia. Katsuki fez o caminho de volta com muito mais cuidado, e encontrou um bombeiro que se encarregava de dar os primeiros  socorros a uma pessoa sentada no chão com a pele cinza de tanto pó e sangue escorrendo pela testa. 
 
 -Eu quero que acompanhe a luz, certo? - O paciente assentiu, com uma lanterna acesa à frente do rosto do homem machucado movimentou em linha reta para a direita e para a esquerda e que sem nenhuma dificuldade fez o pedido. - Que dia é hoje? - Perguntou analisando as pupilas do senhor, aparentemente estava tudo certo. 
 
-... Quinta eu acho… - Não era de se surpreender que o paciente estivesse atordoado, mas ele estava certo. Fez um curativo em sua testa e colocou uma tipoia no braço esquerdo. 
 
-É, hoje é quinta. Por favor senhor, eu peço que se sente com os outros naquela direção. - Apontou na direção onde estavam os levemente feridos estavam sendo atendidos e depois seriam levados ao hospital, naquele tipo de situação todo cuidado é pouco, então apesar de demonstrarem não estar tão feridos não podiam deixar nada passar, como por exemplo uma hemorragia interna. 
 
O bombeiro se levantou e olhou para Bakugou em pé a sua frente, em completo choque com o que presenciava, o homem com no máximo trinta e cinco anos se aproximou pondo a mão no seu ombro só então despertando-o de seu transe, o mais velho já estava meio que acostumado com aquele tipo de situação, ao decorrer de sua carreira já tinha visto muitas coisas chocantes, e não podia se deixar abalar com elas pois caso isso acontecesse outras vidas estariam em risco.  
 
-Está tudo bem? - Perguntou em um tom cauteloso. 
 
-Sim… - Respondeu ainda sem chão, a imagem do corpo soterrado e a poça de sangue estava gravada em sua mente, aquilo mexeu consigo mais do que imaginou e agora estar cercado por dezenas de pessoas feridas e em pânico não o ajudava nem um pouco. 
 
-Olha só o que temos aqui. - Disse bem humorado e sorrindo pegando o bebe dos braços do loiro, esse que se perguntava como era possível alguém sorrir na situação que se encontravam. Mas lá estava ele sorrindo como se fosse uma bela manhã de domingo, enquanto examinava a criança, exteriormente não tinha nenhum ferimento, porém, como eu disse todo cuidado é pouco, ainda mais se tratando de uma criança tão pequena, e por esse fato ela era uma prioridade, assim como idosos e mulheres grávidas.
 
 -Bom… aparentemente ela está bem.- Falou mas não sabia se tinha sido escutado, pois Bakugou carregava um olhar perdido. -Ei, garoto. - Chamando sua atenção. 
 
-Você gostaria de acompanhar nossa pequena Yoki até o hospital? - Disse gentil. 
 
-M-mas…- Foi interrompido. 
 
-Não se preocupe, garoto, está tudo sob controle agora e você não me parece bem… Vá descansar. - Devolveu a recém nascida ao seus braços. -Entre naquela ambulância. - Indicou. Antes de se virar e ir embora, ele precisava saber de algo. 
 
-Eu… eu… - Incerto de suas palavras. 
 
-Você?... - O incentivou a continuar. 
 
-Eu preciso saber se ainda resta algo que seja dela, a mãe dela está… está…- Por algum motivo não conseguia concluir a frase, mas não foi preciso nenhuma palavra a mais para que fosse compreendido. 
 
-Ah! Entendo, vamos fazer uma varredura, e eu vou procurar se ela tem algum parente próximo que possa cuida-lá. - Deu um sorriso sem dentes, um sorriso falso, mas que tinha intenções honestas. 
 
-Vai mesmo?  
 
-Vou, é uma promessa garoto. -Falou fazendo um xis do lado esquerdo do peito. - Agora vai. 
 
E assim fez como ordenado, entrou na ambulância onde tinha idosos, gestantes e crianças, nem preciso dizer que foi uma viagem deprimente com um clima horrível e um silêncio pesado. 


 
Já se tinha passado algumas horas, estava de noite e nosso jovem herói ainda se encontrava no hospital, na maternidade especificamente. Olhava a pequena Yoki pelo vidro, entubada, ela havia respirado muita poeira e estava sob observação e aquilo o deixava nervoso e extremamente ansioso, nem sabia o motivo de ainda não ter ido para casa como fora mandado, mas algo nele sentia como se fosse responsável por ela, como se fosse seu dever estar ali. Então ali ficou. 
 
Sentiu uma aproximação, mas nem se deu o trabalho de ver de quem se tratava, pouco se importava na verdade, a menos que fosse a enfermeira com boas notícias, fora isso não queria nem saber. 
 
-Ainda aqui garoto? - Novamente a voz bem humorada, porém tinha um fundo de tristeza, e ele notou, mas esperou do fundo de seu coração que fosse coisa de sua cabeça. Não respondeu e o bombeiro nem se importou com isso devido às circunstâncias. -Sabe… eu odeio ser portador de más notícias. - E nesse momento ganhou a atenção do loiro com uma expressão nada boa. 
 
-No local que você encontrou o corpo, eu procurei documentos para contatar a família ou amigos próximos, mas…- Deu um suspiro triste. - Não encontramos nada. A mãe dela era uma pessoa muito sozinha, cresceu em um orfanato, não tem pais biológicos ou adotivos e nem sinal do pai… É muito triste saber que a filha vai ter o mesmo destino que sua mãe . Toma, acho que você vai gostar de entregar isso pessoalmente. - Entregou uma foto de polaroide, nela uma mulher de longos cabelos negros em uma cama de hospital, que mesmo com enormes olheiras continuava bonita e no rosto sustentava um grande sorriso, seus braços acolhiam o recém nascido e no verso da foto continha a seguinte mensagem:
 
O dia mais feliz da minha vida, quando eu finalmente pude te ter em meus braços, minha pequena.
 
Com todo amor do mundo, para sempre                            
Mamãe.

 
Aquilo o quebrou de mil maneiras diferentes, não conseguiu impedir que uma lágrima escapasse de seus olhos. Voltou seus olhos para o bebê do outro lado do vidro e então uma pergunta ecoou em sua cabeça. 

 
E agora?
 

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