“É muito triste saber que a filha vai ter o mesmo destino que sua mãe.”
Aquela frase ecoava em sua mente, várias e várias vezes, sempre e sempre, em um looping infinito, era a única coisa em sua mente.
Já estava ficando irritado e sua vontade foi dar um soco bem dado no queixo daquele maldito bombeiro, porque de todas as frases existentes no planeta Terra ele disse justamente essa?
“É muito triste saber que a filha vai ter o mesmo destino que sua mãe .”
Ecoou novamente, odiou aquela frase assim que ela saiu daqueles lábios rachados.
Parecia condenar a criança a uma existência miserável, uma vida solitária e triste, igual a de sua mãe abandonada por todos. Sem nada, não era de se surpreender que morreu salvando sua filha, afinal, era o seu único bem realmente valioso. Abandonada por seus pais, por seu amante, seja ele quem for e aonde estiver.
O maxilar travou, travou de tanta raiva, travou de ódio pela aquela frase, travou de ódio pela situação de merda que se encontrava.
“É muito triste saber que a filha vai ter o mesmo destino que sua mãe.” Maldito seja quem um dia sonhou em dizer uma frase assim, maldito seja quem um dia sonhou em condenar uma criança que mal tinha nascido, maldito seja quem um dia ousou dizer tais palavras, tais condenações, maldito seja, maldito seja, maldito seja.
Malditos sejam todos eles. Todos. Que todos queimem no fogo do inferno.
Fechou o punho com força, fervendo em ódio, fervendo. Deu uma última olhada na foto em sua outra mão, os olhos escuros da mulher pareciam fixados nos dele o olhando profundamente, como se soubesse quem ele era e no dilema que se encontrava. E apesar do sorriso largo, era frágil, frágil como cristal, o sorriso de quem havia sofrido muito e que sabia que aquele momento de felicidade logo se esvaeceria e a vida voltaria a castigar sem trégua alguma. Mesmo sem a conhecer soube que era uma boa pessoa.
Os passos se aproximando ressoavam pelo corredor vazio e escuro, em sincronia com o tic tac do relógio que agora passava das 23 horas, se o loiro não estivesse divagando os notaria, mas só percebeu que tinha outra pessoa ali quando a figura já estava perto. Se tratava de uma enfermeira baixinha e gordinha com uma prancheta em mãos e que não estava lá com um bom humor, totalmente compreensível depois de um dia daqueles.
-Boa noite senhor Bakugou. Vim aqui lhe atualizar sobre o estado da paciente e fazer algumas perguntas, apesar de já termos a ficha dela. - Usou um tom totalmente profissional. E a única resposta foi um aceno de cabeça e nada mais. -Bom… ela não tem nenhum ferimento, só respirou muita poeira. Um leve grau de desnutrição, mas nada muito preocupante e portanto amanhã ela já terá alta. Aqui na ficha não tem nenhum familiar que possa tomar conta dela… Sabe algum?- Foi completamente ignorada. - algum possível responsável? qualquer um? - Foi novamente ignorada. Quando a mulher ia insistir em suas perguntas, Bakugou resolve dizer alguma coisa.
-Quanto… Quanto tempo ela tem?- Os olhos voltados para a fotos em mão pareciam vagar perdidos em qualquer outra coisa, mal dava para dizer que ele realmente estava ali, de corpo, alma e espírito. A enfermeira deu um longo suspiro, estava completamente esgotada, mas ao notar que o garoto loiro não estava muito bem abandonou sua postura profissional para uma mais acolhedora e empática.
-Daqui a dois dias ela faz um mês… Foi nesse mesmo hospital que ela nasceu seu nome completo é Yoki Yakamoto, na ficha diz que não há ninguém que possa cuidar dela, mas ainda assim tenho que perguntar. O senhor conhece alguém que possa vir a cuidar dela? Um parente distante, um amigo da família?- A voz soou cuidadosa e com uma dose de carinho com as palavras que antes não havia.
O silêncio pesou durante alguns segundos e foi o suficiente para Bakugou pensar, pensar no que diria a seguir. Novamente o maxilar travou de raiva, mas dessa vez com raiva do que estava prestes a fazer, e jurou para si mesmo que da próxima vez que visse aquele bombeiro desgraçado ia o encher de porrada.
Mas não era de voltar atrás com suas decisões. Isso nunca.
Algo dentro dele tinha mudado não era mais a mesma pessoa de hoje de manhã, seu interior borbulhava, não de raiva e nem ele mesmo sabia o que raios aquilo significava, era algo bom que aqueceu seu peito e o encheu de força, uma força diferente, uma força e coragem que em toda sua existência jamais havia experimentado.
E pela primeira vez naquela noite estava totalmente ali, naquele momento, naquele instante, naquele minuto, de corpo, alma e espírito. Totalmente são de suas palavras, de suas escolhas.
-E-eu…- Engasgou com as palavras, uma parte dele dizia que estava ficando louco em realmente cogitar aquela hipótese, mas não era um covarde para recuar.
*******
O vento frio uivava fora do hospital, o estacionamento estava deserto sem nenhuma alma viva rondando o local, completamente silencioso além dos sons dos grilos e o do próprio vento.
Bom… Até que.
O barulho das portas sendo escancaradas acabou com o silêncio e o clima de paz foi desfeito. O loiro caiu de joelhos no asfalto e com isso alguns arranhões, mas agora não se importava com isso.
Estava tendo uma puta crise de ansiedade.
Finalmente a ficha caiu do que tinha acabado de fazer, se declarou como responsável de uma criança, não possuía o mínimo para poder lidar com uma responsabilidade daquelas se deixou levar pelos sentimentos e não conseguiu ficar indiferente diante da situação e nem ao menos sabia o porquê disso o real motivo de ter se sensibilizado tanto, com certeza não estava em seu normal. O estômago embrulhou faltava pouco para vomitar ali mesmo, até que um pensamento um tanto estranho surgiu em sua mente.
Ele seria papai?
Continua….
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OHANA
Fanfic- Nós não somos uma família. - Tem certeza? O Todoroki praticamente mora aqui, ele se tornou tão pai quanto você agora. Após o comentário o loiro olha para a pequena bebê nós braços de Shoto que parecia se divertir com ele. Isso era verdade? Tinham...