All The Same Reasons

Foi o que você ouviu

Lan Wangji observou os cadáveres ferozes se chocarem em uma dança mortal contra o braço. Sempre que via que o braço estava prestes a dominá-los, ele tocava notas suaves em seu guqin para dar ânimo à família Mo morta. Ele tinha anos de prática, então tocar silenciosamente, direcionando-os a um público específico, não era nada difícil.

No entanto, o braço parecia reagir à sua música também. Ele observou o braço recuar para a defesa enquanto ele tocava suas mudanças, apenas retornando ao ataque quando ele parava. Ele teria continuado a tocar para manter o braço afastado, mas temia que os dedos de Mo Xuanyu não consigam continuar. Sem mencionar que alguns dos discípulos podem pegá-lo brincando e reconhecerem que é ele quem controla os corpos ferozes.

Se eles descobrirem que eu estava praticando o cultivo demoníaco, ou pior, descobrirem quem eu sou...

Primeiro imagens de sangue, depois raiva, e então a paisagem repentina de uma cabana cercada por gencianas enviaram um arrepio por seu corpo. Apenas se imaginando naquela sala novamente–

Não, ele repreendeu a si mesmo. Foco. Naquela fração de segundo de terrível pavor, o braço agarrou a garganta de Mo Ziyuan – os dedos enfaixados de Lan Wangji estavam brincando–

Quando o som da flauta desceu, Lan Wangji não entendeu bem o que era. Tudo pareceu congelar, os discípulos, os cadáveres, o braço, uma estranha pintura de quietude contra a música fluida. Lan Wangji ficou ali sentado, mudo, por um momento, ouvindo a música etérea que parecia ecoar pelo pátio, infiltrando-se em seus ossos.

Quando ele reconheceu o instrumento, sua respiração engatou.

Quando ele percebeu quem deveria estar tocando, sua mente pareceu apagar, antes que ele perdesse o controle de tudo de uma vez.

Algo parecia ter agarrado todos os seus pensamentos e os embaralhado. Seu corpo inteiro tremia, ele estava com frio e calor ao mesmo tempo, tudo o que passava por sua cabeça eram memórias, pensamentos, sonhos, anseios, fantasias, pesadelos, delírios dele ele – ele, seu corpo inteiro está tremendo e ele não pode controlar suas mãos–

A explosão ímpia de notas guqin foi a prova disso. Um violento espasmo de música (se é que poderia ser chamado assim) ricocheteou no Pátio Oeste e em torno do pátio. Os cadáveres ferozes e o braço foram atirados para diferentes lados do círculo da espada em meio aos gritos confusos dos discípulos. Os dedos de Lan Wangji estavam sangrando de novo, mas ele mal percebeu, seus olhos fixos na figura que estava recortada contra a lua.

Foi quase como se ele emergisse do céu noturno. Cabelo preto comprido fluía, solto, atrás dele como um trem, mantos negros ondulando ao seu redor. Seus olhos estavam baixos, uma flauta em seus lábios, a lua manchando seu cabelo prateado e preto. Ele pousou levemente no Pátio, e de repente, sob o luar, havia manchas de cor nele: uma fita vermelha emaranhada em seus cabelos, uma borla roxa em seu cinto, uma borla vermelha em sua flauta e outra na espada ao seu lado lado. Os cadáveres ferozes estremeceram sob sua música e desabaram, enquanto o braço se debatia fracamente no chão.

Lan Wangji sentia que não conseguia respirar. Muitas emoções foram se instalando nele (alegria, tristeza, medo, desesperança), até que ficaram desordenadas em uma pilha de confusão na boca do estômago.

A música parou. E a figura que pousou no Pátio, que havia parado de tocar, agora erguia os olhos, encarando Lan Wangji com curiosidade.

Ele estava ali.

Ele estava bem ali.

Lan Wangji sentiu seu sangue esfriar, ouviu seu batimento cardíaco trovejando em seus ouvidos, tão alto que quase não conseguiu falar: