Capitulo 4 - Por que ela age assim?

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Parei em frente ao grande prédio, os vidros fumê e a fachada na frente em um roxo neon "Lux Fight" não deixavam os visitantes perceber os horrores que aconteciam ali. Desci da moto e amarrei o cabelo em um rabo de cavalo alto. Suspirei e caminhei em direção à entrada.
Bati três vezes na pequena abertura da porta, logo surgiu um par de olhos velhos e castanhos.
-Qual a senha?-.A voz se materializou lá dentro.
-Pudim? Não sei se o velhote não mudou a senha, ele vivia mudando.-.Dei de ombros e os olhos se afastaram, logo em seguida fechando a pequena abertura.
A porta foi aberta e eu caminhei pelo corredor apertado, escuro e que fedia a suor de homem.

Até chegar ao ringue, as centenas de pessoas gritavam eufóricas pelos dois lutadores que estavam no ringue quase matando um ao outro. Lux não era uma boate como muitos pensavam. Era um clube de luta, um dos proibidos, mas o dono conseguia burlar todas as regras apenas com o dinheiro que ele ganhava em uma ou duas noites. Apertei a mochila em meu ombro e caminhei em direção ao vestiário. Me sentei no banco e comecei a enrolar as faixas na mão.
-Não sabia que permitiam mulheres aqui.-.Um grandão falou ao amigo, rindo. Eu dei um sorriso falso e assenti, dando continuidade ao o que estava fazendo.
Terminei de enrolar e me levantei, tirei a camiseta preta e a joguei dentro da mochila, enrolei uma outra faixa em meus peitos, pois era o que eles achavam que era meu ponto fraco.
Coloquei o top por cima e ajeitei a bermuda em minha cintura. Meu celular tocou e na tela iluminada apareceu a mensagem de Miguel.
Onde você está?
Apenas olhei a mensagem e revirei os olhos.
-Sabia que você voltaria, mais cedo ou mais tarde.- A voz dele ecoou pelo vestiário, me virei dando de cara com o velhote, a barba grande e branca, e a careca brilhante eram sua marca registrada. Tinha um sorriso alegre e um olhar paciente.
-Lux! Velhote!-.Sorri a ele indo ao seu encontro. O abracei forte e inalei seu odor de cera com madeira velha, que me trazia milhares de memórias.
-Velho? Eu não sou velho.
-Não. Com certeza não. -.Falei ironicamente.
-Você vai lutar?
-Sim.
-Você sempre faz isso não é Isabel? Arruma problemas aí fora e vem aqui descontar no primeiro pobre coitado que achar. O que aconteceu dessa vez?-.Ele me lançou seu olhar cansado e se sentou no banco velho e sujo do vestiário.
-Você precisa de uma reforma aqui.-.Falei olhando em volta, os armários sujos e quebrados, os bancos velhos, o chão que um dia fora branco, agora estava marrom e com varias rachaduras.
-Eu sei. Mas desde quando você saiu a grana ficou curta. Você me arrumava muito dinheiro.-.Ele falou um tanto quanto tímido, eu dei de ombros e me encostei em um armário, cruzando os braços na frente do peito.
-Eu conheci um garoto...
-Como é Isabel?! Primeiro foi aquela vagabunda asiática, e agora vem o que?! Russo?-.Lux gritou e eu ri alto.
-Não nesse sentido. Ele é estranho. Me deixa curiosa sobre algumas coisas. Mas não vou me apaixonar tampouco pretendo me aproximar dele. Ele fez alguns negócios com Joacquin.
Ele assentiu e se levantou.
-Vamos. Tem um homem me dando problema aqui, vou te mostrar.-.Lux falou e me arrastou para o salão onde aconteciam as lutas.
Ele apontou ao homem, era alto, não bombado e feio como os outros, era apenas musculoso, os cabelos eram negros e bagunçados e o olhar traiçoeiro.
-Ele era um dos melhores no país dele, e agora veio pro nosso encher o saco-.Lux falou e em seguida virou as costas me levando em direção ao ringue.
-Seja cautelosa com ele. Lembre se: não sinta compaixão, não tenha piedade e não seja burra.
-Você sempre me fala isso.
-E você sempre faz ao contrária sua estúpida! Entra logo nessa merda.

Grosso como de costume. Eu ri sozinha e me deparei com aquele mesmo garoto, ele foi anunciado como Snake. Revirei os olhos quando escutei o nome que Lux me anunciou "Luxinha" olhei para ele com uma das sobrancelhas arqueadas.
-Nao poderia ser outra coisa?-.Resmunguei sozinha.

O sinal tocou, e eu continuei parada no mesmo lugar. Regra número um para sobrevivência: nunca de o primeiro soco, em hipótese alguma.
E ele então veio. Ele desferiu vários socos em minha direção, eu apenas desviava de todos com cautela. Não iria dar o braço a torcer.
Quando ele deu o último, peguei seu braço por cima do meu ombro e o puxei para mim, dando uma sequência, primeiro na barriga em seguida no pescoço e por último na cara. Ele recuou pra trás e me encarou com um olhar amedontrador, se olhar matasse...
Ele parecia furioso consigo mesmo, frustado.
-Isabel! Não faça nada que vá nos prejudicar!
Lux gritou me tirando a atenção, foi quando Snake acertou um soco forte em meu rosto, quase fui ao chão, mas balancei a cabeça de leve e o vi sorrindo na minha frente, filho da puta!
Passei o dedo no canto da boca, e vi o sangue.
Corri em sua diração e o chutei forte na barriga, comecei a desferir varios socos em sua cara, dei uma volta rapidamente e chutei seu rosto de costas, ele caiu no chão. Subi em cima do seu peito, segurando seus braços com os joelhos e comecei a desferir mais socos em seu rosto, até começar a sentir o sangue respingando em meu rosto.
-Isabel! Chega!-.Lux gritou, mas tudo começou a ficar em câmera lenta, eu já não escutava direito, continuei ali em cima até ele conseguir tirar um dos braços e me empurrar no chão. Ele conseguiu me acertar outro soco, dessa vez mais forte que o primeiro, o chutei na barriga e pulei em cima dele, o fazendo cair novamente, me levantei e botei seu braço entre as pernas, se eu não estivesse tão desligada, eu teria visto que a mão dele bateu no tatame infinitas vezes, se eu não tivesse tão....
O estralo me fez voltar a mim, seu braço quebrado ainda estava no meio das minhas pernas, soltei e me virei a Lux que mantinha o olhar desesperado em mim. Engoli em seco e sai do ringue.
-Problema resolvido. Ele não vai lutar por alguns anos.-.Falei sem olhar para Lux, apenas tirando o sangue e suor do rosto com minha pequena toalha rosa.
-Você acha que eu não sei o que aconteceu ali?-.Ele falou baixo.-Diga Isabel! Você iria matá-lo!
-Nao não iria, se não ele já estaria morto.-.Falei dando de ombros.
-Quantos homens você já matou aqui?
-E quantos deles mereceram Lux? Me fala! Você sabe que são todos iguais, sedentos por carne e luxúria! Todos são assim!
-Já chega Isabel!
-Tem razão, tenho uma luta, depois disso não volto mais. Resolva seus problemas sozinhos.
-Ninguém pediu sua ajuda aqui, Isabel.
O olhei incrédula. Como poderia? Depois de ter me mostrado aquele homem e reclamado dele. Como...
Subi bufando no ringue novamente, dessa vez tive uma pequena surpresa. Zeki, me encarava com os olhos sedentos por sangue. Ele estava apenas com uma bermuda e as faixas pretas enrolada nas mãos. Limpei a garganta e ele me olhou com um brilho nos olhos.
-Pequena Isabel. Que bela surpresa.
-Quer dizer que você vem a cidade dos outros para brigar em um clube velho e fedorento?
Ele sorriu ladino e deu de ombros
-Talvez... quem sabe? Se minha adversária estiver a altura, eu corro os riscos.-.E ele piscou. Foi quando o sino tocou. Continuei parada, não podia acreditar que ele era meu adversário. Esses homens me seguem?
Ele também ficou parado, me olhando de baixo pra cima.
-Estou esperando.-.Ele falou com um sorriso malicioso nos lábios.
-E vai continuar.-.Pisquei a ele, que sorriu em resposta.
"vamos logo com isso!" A plateia gritava, olhei em direção ao grito, e logo ao lado vi Aslan comendo um salgadinho e me encarando. Eles realmente devem me seguir, não tem outra explicação.
-Por que você? E não Aslan?
-Aslan é mais o cérebro, ele não acha interessante usar a força bruta, como eu acho.
Os quietos são os piores... pensei comigo mesma.
Logo Zeki veio para cima, com uma fúria e força imaginável. Seu corpo não era tão musculoso, mas parecia forte.
Desviei de dois socos, mas ele era muito rápido, quando me acertou um fui parar nas cordas de proteção. Senti o sangue escorrendo pela minha bochecha.
-Você tem coragem de bater em uma mulher?-.Franzi o cenho, ele riu e veio pra cima novamente, segurei seu punho com força e consegui acertar dois socos em seu rosto.
Depois de algum tempo, nos dois ja estávamos exaustos. Limpei o sangue que escorria na boca com as costas da mão e me posicionei novamente.
-sem piedade..-sussurrei a mim mesma e fui pra cima novamente, consegui derruba-lo no chão, e comecei a desferir socos em seu rosto, ele bateu a mão no tatame e eu levantei. Pra mim já chega disso.

Sai do ringue e me limpei com a toalhinha, que já estava coberta de suor e sangue.
Lux não estava mais lá, e eu já imaginava isso, era um velho difícil.

Me sentei a mesa de jantar e todos viraram em direção à mim. O olho roxo, um corte no canto da boca e um arranhão na bochecha.
-Você estava no Lux novamente Isabel?-.Joacquin me perguntou mas logo foi repreendido por Ivette.
-Deixe ela mi amor, está apenas se divertindo.
-Levar socos na cara e mandar pessoas para o hospital não é divertimento.-.Joacquin retrucou cortando o bife com tanta força que eu achava que ele iria cortar o prato junto.
-Eles nem vão para o hospital-.Dei de ombros.
-Ah é claro, tem aqueles você manda direto para o cemitério!-.Joacquin falou irritado e eu franzi o cenho. Ivette o cutucou e pediu paciência quase em um sussurro.-Eu só não entendo, por que ela age assim?-.Joacquin falou baixo e suspirou.
Me levantei, peguei meu prato e fui para a piscina.
Sentei na cadeira a beira da piscina e comecei a comer em silêncio.
-Por que você sempre foge?-.Miguel me perguntou se sentando ao meu lado com o prato no colo.
-Não é minha praia ficar discutindo sobre coisas que já aconteceram. Se já passou, pra que ficar dando replay? Não vai mudar nada do que aconteceu.
Ele assentiu.
-Tem razão.
-Sempre.

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⏰ Última atualização: Mar 05 ⏰

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