VIII - REVELAÇÕES NA ESTRADA

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Acordei atordoada sem saber onde estava. Deitada sobre uma cama de casal em um quarto muito elegante, eu usava uma camisola rendada e um roupão de seda, ambos longos e vermelhos. Que roupas eram aquelas? Olhei ao redor, observando que toda a mobília era de couro marfim e havia uma reprodução da obra "O Grito", de Edvard Munch, ao lado da grande porta. Uma estante lotada de livros e porta-retratos com fotos de paisagens preenchia uma das paredes. Pareciam ser imagens autorais. Na mesa de cabeceira da cama havia uma bolsa de sangue e um bilhete.

Quando vi o sangue me lembrei do que tinha acontecido. O abraço traiçoeiro de Sebastian. Ele havia quebrado meu pescoço tão rapidamente que mal me dei conta. Se eu fosse humana teria morrido de imediato, mas sendo vampira isso no máximo me deixava inconsciente por alguns minutos. Eu já havia quebrado o pescoço uma vez, em um acidente, mas nunca haviam o quebrado de propósito. Provavelmente apaguei por horas, já que havia luz atravessando a cortina da janela. Um novo dia havia surgido.

Peguei a bolsa de sangue e comecei a beber. O líquido estava um pouco fresco, como se tivesse sido colhido há pouco tempo. Pensei em Sebastian. Onde ele estaria? Foi ele quem me levou para esse lugar em que eu estava? Com certeza só saberia a resposta lendo o bilhete. Desdobrei o papel e me deparei com uma caligrafia rebuscada, que me dizia: "Você não está mais em Santa Adelaide. Para a sua proteção, por favor, não vá embora. Sebastian e seus subordinados estão te procurando. A sua família está vindo para cá. Ficará segura aqui, comigo. Atenciosamente, Olavo Franz Navarro".

Impactada com aquelas informações, mil e um questionamentos bombardeavam a minha mente. O mais inquietante era: como poderia estar segura com o tio de Sebastian? Olavo não me passava nenhuma confiança. E se ele estava me ajudando por estar do lado de Leonor, aquilo significava traição para com Sebastian? Talvez Olavo fosse do tipo que não tomava nenhum lado até ter um interesse ou então tomava todos os lados de acordo com o seu interesse. Certamente era volúvel, traiçoeiro e interesseiro. Eu só não sabia quais as suas intenções em relação a mim.

Em todo caso, a trama do clã Navarro tinha mais fios e pontas soltas do que uma simples vingança de um vampiro contra a mãe e a irmã assassinas do pai. Era um enredo de altos e baixos, ancorado em um passado distante, do qual sempre surgiam novas revelações... Pelo menos para mim, aquela de quem foi escondida mesmo as informações mais básicas sobre a existência de Sebastian. A minha família, se é que ainda podia considerá-los dessa forma, deve ter suado bastante para fugir e conseguir me manter afastada do filho vingativo por mais de dois séculos. Muito admirável e, ao mesmo tempo, intrigante.

No entanto, mesmo sabendo da existência de Sebastian, consciente das suas intenções maléficas e lamentando a morte de Isabela, eu ainda me sentia no escuro, embora não totalmente. Mas havia um ponto cego em toda aquela história que insistia em não se mostrar. Eu tinha as minhas dúvidas quando me lembrava de que Sebastian teve todas as chances para me matar, mas tentou me convencer, me ameaçando de morte, a ficar ao seu lado. Em vez de arrancar a minha cabeça, ele apenas quebrou o meu pescoço. Era como se, no fundo, ele não quisesse me matar, ao contrário do que era dito. E aquela especulação sobre eu ter motivos para me vingar de Leonor... O que ele quis dizer com aquilo? Acreditando ou não, eu queria ouvir sua história.

Alguém bateu na porta do quarto, me arrancando das minhas teorias. Seria Olavo? Algum membro da minha família? Sebastian? Levantei-me da cama, caminhei até a porta e perguntei quem era. Se fosse para enfrentar alguém, eu queria ao menos saber com quem iria lutar. Então a voz suave de Leonor chamou o meu nome do outro lado da porta. Respirei fundo, aliviada. Ainda havia algum conforto em saber que era ela.

Abri a porta e impulsivamente abracei Leonor. Ela me apertou em seus braços. Olhando por cima do seu ombro vi Olavo com um sorriso no rosto, a poucos metros de nós, e afastei Leonor de mim. Com certeza eu não iria confiar naquele vampiro.

[EM REVISÃO] - Uma História Sombria de Amor (Trilogia Entre Vampiros - LIVRO I)Onde histórias criam vida. Descubra agora