II - SEBASTIAN

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Três dias haviam se passado desde que saí de casa para correr e conheci Sebastian. Embora ele fosse um adolescente idiota e presunçoso, eu não conseguia parar de pensar nele. Era quase obsessivo o tanto de vezes que seu rosto passeava na minha mente. Quando fechava meus olhos excitava-me, lembrando do nosso beijo. Ao mesmo tempo, as suas palavras desprezíveis me irritavam, a ponto de quase desistir da ideia de não matá-lo. Eu não conseguia entender por que estava sentindo tanta atração e desejo por um tipo como aquele. Tenho certeza de que se pudesse sonhar, eu sonharia com ele. Ainda bem que vampiros não sonham.

Era um fato que Sebastian era muito bonito. Na verdade, ele se encaixava no padrão de beleza vigente: alto, corpo esguio, mas forte. A pele branca e pálida como se não pegasse sol nunca. Cabelo castanho-claro, liso, curto e penteado para trás. O ponto alto do seu rosto eram os olhos verdes penetrantes, mas seu sorriso também era arrebatador. Sobretudo por causa daquela covinha na bochecha. A sua voz era grave, mas rouca. A barba por fazer dava a impressão de que ele tinha mais de 18 anos, e talvez até tivesse. Eu não duvidava que o mísero galanteador fosse um mentiroso.

Foi legal brincar de cão e gato com ele. Seu beijo foi muito agradável. Eu desejei beber o seu sangue e também levá-lo para a cama. Pensei em procurá-lo, mesmo que tivesse que bater de porta em porta nos sobrados do condomínio. Mas é claro que estaria expondo a mim e a minha família se fizesse isso, ainda mais por um motivo tão ridículo. Só sei que Sebastian ocupava tanto os meus pensamentos que eu havia esquecido que estávamos na toca dos leões. Mas em uma tarde, fui relembrada disso ao ouvir acidentalmente uma conversa entre Leonor e Liza, na copa da casa, falando baixinho.

— Será que foi um erro termos vindo para essa cidade? –Leonor indagou, parecendo aborrecida. Ela socou uma bancada.

— Estamos testando uma nova estratégia. – disse Liza calmamente – Infelizmente precisaremos jogar com o benefício da dúvida para tentar nos proteger.

— Sim, eu sei disso! Fui eu quem sugeriu que viéssemos para cá. Encontrei referência a essa cidade em um fórum sobrenatural. Sabíamos que haveria caçadores, mas de alguma forma o nosso outro problema chegou aqui rápido demais. Como eles conseguiram nos rastrear? – ela estava atônita.

— Eu adoraria saber como eles fazem isso. – Liza continuava calma como sempre – Mas você tem certeza que eles já estão aqui?

— Claro! Eu a vi no centro da cidade hoje. Você acha que eu não reconheceria a minha própria...

Ela parou de falar quando eu abri a porta, impaciente para saber sobre o que exatamente elas estavam conversando.

— Qual é o nosso outro problema? Quem são eles?

— Cecília, minha querida! – disse Leonor com um sorriso de orelha a orelha – Desde quando está ouvindo a conversa? Isso é falta de educação.

— Falta de educação é o que fazem comigo! – não contive a raiva que se apoderou do meu ser – Eu vivo com vocês há séculos e parece que nunca sei de nada! Que segredo é esse guardado debaixo de sete chaves? Parece que sempre estamos fugindo. Fugindo de quem? Deles? O que pode ser pior que caçadores?

Leonor e Liza trocaram um olhar cúmplice. Droga! Eu deveria ter apenas ouvido a conversa escondida por mais tempo. As duas se retiraram da copa sem dizer uma palavra, me ignorando como se eu não existisse. Nem mesmo Liza parecia disposta a me contar algo. Tive a certeza de que aquela exclusão era pessoal. Aliás, todas as exclusões sempre foram pessoais, porque eu era a estranha transformada pelo marido da Leonor, não sendo digna de saber muita coisa além do básico sobre ser um vampiro e não causar problemas ao clã Navarro.

Apesar de ter sido acolhida como uma filha, o sentimento era de que "você faz parte da família, mas..." Depois do "mas" não vinha nada que prestasse. Eu ouvi histórias de outros vampiros com quem tínhamos contato no passado sobre terem planejado me matar. Alguns grupos do clã queriam se vingar de mim, me responsabilizando pela morte de Ivan. Ao que parece, ele era muito prestigiado. Inúmeras vezes, em encontros com membros do clã, afirmaram que eu não era como eles, que eu manchava o sobrenome Navarro, que eu não deveria ter sido aceita como parte da família. Esses vampiros me julgavam, me odiavam e queriam até a minha morte. Leonor, no entanto, sempre me defendeu e me protegeu com unhas e presas.

[EM REVISÃO] - Uma História Sombria de Amor (Trilogia Entre Vampiros - LIVRO I)Onde histórias criam vida. Descubra agora