Acordei aos poucos, como se estivesse sendo despertada de um sonho. O sono não foi brusco, mas gradual, como se meu corpo precisasse de mais tempo para se ajustar à realidade que, de alguma forma, se misturava com as sensações do mundo onírico. A primeira coisa que percebi foi o calor dos braços de Mariana envoltos em minha cintura. Ela estava ali, e sua presença era tão palpável que me fez sentir uma espécie de aconchego profundo, algo que eu não sabia que poderia ser tão reconfortante. Mexi-me ligeiramente, tentando ajeitar a posição, mas, no momento em que fiz o movimento, ela apertou ainda mais os braços ao meu redor, como se me pedisse silenciosamente para não sair de seu alcance. Fiquei ali, imóvel, aceitando o calor, a proximidade e a leveza daquela troca silenciosa entre nós. Era impossível sair dali sem que a acordasse, então resolvi ficar quieta, aproveitando aquele momento.
À medida que o tempo passava, minha mente começava a trabalhar, embora de forma lenta e gradual. Comecei a tentar analisar o que havia acontecido na noite anterior. Lembrei-me de cada detalhe com clareza, e uma onda de vergonha subiu rapidamente, invadindo minhas entranhas. Lembrei de nossos toques, das palavras trocadas em sussurros, e de como, de alguma forma, parecia que tudo aquilo estava acontecendo em câmera lenta, como se o tempo estivesse se esticando para nos permitir viver cada instante com a intensidade que não conseguimos encontrar na pressa do cotidiano. Mas logo que essa vergonha apareceu, ela se dissipou, dando lugar a algo mais suave, algo mais tranquilo. Como se as palavras que Mariana me dissera enquanto ela estava com os olhos fechados — palavras tão sinceras e cheias de significado — estivessem me confortando, dissipando qualquer insegurança ou medo que ainda restasse.
Não havia mais razão para me sentir desconfortável. Afinal, estávamos ali, uma ao lado da outra, e aquilo parecia o natural. Algo simples, mas tão verdadeiro. Isso me fez sorrir levemente, com uma sensação de paz crescente. Eu queria, no entanto, poder virar meu corpo completamente para observá-la melhor, mas sabia que qualquer movimento mais brusco poderia acordá-la, então optei por fazer tudo com cuidado, devagar. Mexi-me com a cautela de quem deseja admirar o outro sem perturbá-lo e, lentamente, virei para encarar Mariana.
O que vi foi algo tão delicado e belo que meu coração deu um salto no peito. O rosto de Mariana estava sereno, exalando paz de maneira quase palpável. Eu poderia passar horas apenas observando-a. Não precisava fazer nada. Não precisava dizer nada. Apenas estar ali, naquele instante, seria o suficiente. Mariana estava completamente imersa em seu sono, seu rosto relaxado e tranquilo, sem nenhuma máscara ou barreira. Ela parecia, naquele momento, tão vulnerável e ao mesmo tempo tão forte, como se estivesse completamente segura e protegida, não apenas no mundo dos sonhos, mas na realidade também, nos meus braços. A suavidade de seu rosto, a maneira como a luz da manhã tocava sua pele, era algo que me deixava sem palavras. Eu poderia simplesmente ficar ali, quieta, e me perder naquele momento por horas, sem nenhuma pressa.
A respiração suave de Mariana se fazia sentir em meu rosto. Cada suspiro que ela dava tocava minha pele com uma leveza, quase imperceptível. Não era uma sensação que eu estava acostumada, especialmente porque nunca havia me permitido ficar tão próxima de alguém dessa forma. Deitada ali, com ela, ao ponto de quase podermos sentir os corações batendo em sintonia, eu sabia que nada mais importava. O mundo lá fora não existia. Ali, naquele instante, éramos apenas nós duas.
Nunca havia me pego admirando alguém pela manhã, muito menos me vi em uma situação como essa, com alguém tão perto, com um abraço tão íntimo, e com a sensação de estar completamente entregue a esse afeto sem que houvesse qualquer tipo de desconforto ou resistência. Antes, eu teria me sentido sufocada com esse nível de proximidade. Sempre fui mais reservada, mais retraída, evitando qualquer tipo de contato físico que fosse mais intenso. O simples fato de alguém me abraçar tão fortemente como Mariana fazia teria sido suficiente para me fazer recuar, mas com ela, era diferente. Com ela, tudo parecia fluído, como se não houvesse mais nada a temer, nem mesmo a proximidade extrema que antes me causaria ansiedade. Eu estava ali, me permitindo estar perto, me permitindo ser tocada, ser amada.
Mariana suspirou profundamente, como se, ao fazer isso, estivesse expelindo qualquer preocupação ou peso que pudesse existir em sua mente. E aquilo me fez sorrir mais uma vez. Era um sorriso cheio de ternura, porque não queria quebrar a paz que estava se formando entre nós. Não queria que nada interrompesse a quietude que preenchia o ar. Minha mão, quase por instinto, desceu lentamente até o rosto dela, e comecei a acariciar sua pele com uma suavidade que eu mesma não sabia que possuía. Fui tão delicada quanto pude, com medo de acordá-la, de interromper aquele momento único. Meus dedos, então, tocaram uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto e a coloquei atrás da orelha, como se quisesse deixar sua beleza ainda mais evidente, sem nada que pudesse escondê-la. Acariciei a pele macia de sua bochecha e depois segui o caminho até seus lábios. O que me chamou a atenção, de forma inesperada, foi o quanto seus lábios eram carnudos e naturalmente rosados, com um formato perfeito. Nunca tinha parado para olhar tão de perto, e agora, ao observá-los, sentia uma vontade incontrolável de tocá-los, de sentir a suavidade deles contra os meus. Eu queria beijá-la, mas hesitei, não sabia se seria o momento certo.
No entanto, foi mais forte do que eu. Eu queria que aquele instante tivesse a intensidade que ele merecia, e por isso, de forma suave e quase imperceptível, dei um beijo leve, rápido, apenas nos lábios de Mariana. O toque foi tão suave, quase como um suspiro. Não sabia o que sentir. Só sabia que, naquele momento, aquilo fazia parte de mim, da nossa conexão. Quando me afastei, o ar ao redor pareceu ficar mais denso, como se o beijo tivesse deixado uma marca no espaço. Mariana suspirou longamente, e eu fiquei ali, quieta, observando seu rosto, esperando que ela não acordasse. Eu continuei acariciando sua bochecha, agora com mais carinho, com mais suavidade, como se, com aquele simples gesto, eu pudesse lhe mostrar todo o carinho que estava sentindo naquele momento.
Fechei os olhos novamente e me deixei imergir naquele mar de sensações. Eu não queria mais nada além de sentir aquilo, o toque de Mariana, o calor de seu corpo, a tranquilidade que ela me transmitia. E, ao fechar os olhos, comecei a pensar sobre tudo o que aquele toque representava. Nunca senti o toque de outra pessoa com tanta intimidade, com tanta profundidade. Algo tão simples, mas ao mesmo tempo tão transformador. Talvez fosse isso que a maioria das pessoas procurava, um toque que não fosse apressado, mas que fosse real, cheio de emoção, de significados não ditos. E eu estava ali, vivendo isso, sem pressa, sem expectativas. Era tudo tão genuíno, tão honesto.
A pele de Mariana era mais quente que a minha. O calor dela me fazia querer me aconchegar ainda mais, como se ela fosse a única fonte de calor que eu precisasse para me sentir completa. Era como se ela tivesse o poder de dissipar qualquer sensação de frio, tanto físico quanto emocional. E eu sentia isso, com uma intensidade que eu nunca soubera ser possível. Eu poderia me perder naquela sensação de aconchego e nunca mais voltar.
Mariana sempre foi carinhosa, desde o primeiro dia em que nos conhecemos. A forma como ela me tratava, como ela sempre demonstrava seu carinho sem reservas, fez com que eu me sentisse segura, me permitindo ser vulnerável. O toque dela me dava confiança, e, aos poucos, eu fui aprendendo a me expressar também. Antes, eu era tão fechada, tão reticente, mas com Mariana tudo parecia ser mais fácil. Ela me mostrava que o afeto não precisava ser algo grandioso ou cheio de palavras, mas que poderia ser simples, como um abraço apertado, um olhar carinhoso.
Afeto. Eu sempre tive dificuldades com essa palavra. Sempre associei o afeto ao medo de me machucar, ao medo de me entregar demais e me ver quebrada. Mas com Mariana, foi diferente. Eu pude sentir o verdadeiro significado do afeto. Era algo que vinha de dentro, algo que era transmitido através dos gestos mais simples, como um toque de mãos ou um olhar silencioso. Mariana me ensinou que o afeto verdadeiro não se faz de palavras vazias, mas de ações genuínas. Desde o início, eu senti isso com ela. E, agora, naquele momento, deitada ali ao seu lado, eu sabia que o afeto era algo que eu não queria mais deixar escapar. Ele era meu, nosso, e eu queria guardá-lo para sempre.
E assim, ficamos ali, no abraço silencioso e afetuoso, sem pressa de que o momento acabasse. Não precisava de palavras para que entendêssemos o que sentíamos. Estávamos ali, juntas, e isso era o suficiente.
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Pero te Extraño
FanfictionÀs consequências das más escolhas uma hora batem na sua porta com tamanha violência que você não vê outra forma a não ser se render. Ana ao perceber que às consequências das suas escolhas ao fim do batizado seriam desastrosas, caso não tomasse medi...