Capítulo SETE

701 77 39
                                    


   Amanheceu depressa, o céu estava completamente encoberto por nuvens, aparentemente choveria, e as águas geladas das Terras Nórdicas não eram necessariamente algo muito agradável. A jovem sacerdotisa despertou de seu breve sono e deu de cara com um viking que ainda dormia em seu colo, ele era um homem bonito, os traços fortes eram harmônicos naquele rosto que mesmo jovem, parecia ser muito mais velho que ela. Havia algo sereno naquele homem enquanto dormia, mas Sakura não se permitiria sentir compaixão. Ele era o seu raptor, um assassino que comandava um bando de assassinos. E mesmo aquele homem aparentando uma idade aproximada a dela — senão a mesma —, a sua alma era velha e maldosa.

   Um leve arrepio subiu por sua espinha, ela foi terrivelmente grossa com um homem que não lhe devia favor, um homem que não servia de acompanhante ou era um servo, ele era o homem que decidia se ela viveria ou não, ele era o homem que queria estudá-la antes de a matar, ela não confiava nele, nunca confiou, mas também não duvidava.

   — O que tanto me olha sacerdotisa? — E perguntou ainda de olhos fechados.

   — Por que acha que estou te olhando? — Respondeu receosa.

   — Porque sinto sua respiração — Ele disse por fim se sentando e passando a mão nos grossos fios negros de seu cabelo.

   — Eu respiro, como qualquer outro ser vivo, não significa que eu estivesse te olhando.

   Sasuke a encarou, a boca chegou a tremer como se pretendesse responder algo, mas ele simplesmente ergueu os ombros e caminhou até a frente do drakkar, voltando a coçar a espalhafatosa juba negra e a olhar o horizonte apreensivo, o que poderia ter acontecido em sua mente enquanto ele dormia?

   O viking tivera uma recordação de sua infância, não como sempre acontecia em todas as noites. Diferente dos outros pesadelos que o assolavam como uma punição pela morte da mãe que o obrigavam a assistir a mesma morte repetidas vezes, desta vez ele a viu cantarolando e preparando o mingau de aveia salgada para ele e o irmão. Ele deveria ter pouco mais do que quatro anos e o irmão estava quase na idade de se apresentar ao lorde, mas ainda ostentava o divino apreço pelo desjejum feito pela mãe. Ele passou o dia aprendendo a caçar com o irmão, e ouvindo que logo seria o homem da casa e que deveria cuidar dela em seu lugar.

   Talvez devesse ter tido o comum pesadelo de sua morte ao invés daquela lembrança há tanto tempo esquecida.

   Coçou a cabeça mais uma vez, sentindo a garganta arranhar.

   Ele fitava o horizonte apreensivo com a breve chegada, a pilhagem sempre ia para o lorde, que Sasuke não conseguia imaginar mais lugares para enfiar tantos tesouros. Acabou voltando a olhar para a jovem que ao notar a colisão de olhares a mesma virou o rosto para o lado contrário, ela o estava analisando, o estudando, ela era uma mulher esperta, era uma mulher instruída que talvez não fosse a filha de deusa Atena, a maldita aberração que foi criado para destruir, talvez realmente fosse apenas uma mulher assustada reagindo de forma inconsequente frente ao perigo, não queria cometer o mesmo erro que tivera com sua mãe. Mas de qualquer forma, deveria tomar mais cuidado com ela, a inteligência é mais perigosa que qualquer arma, ainda mais quando em mentes erradas.

   Sua cabeça estava uma confusão, seu corpo vinha tendo reações desconhecidas e sua espada estava mais feroz do que nunca. Se ela realmente fosse a criatura que busca, então ele seria direto, sem ações de bom samaritano. Seria mais fácil matá-la dessa forma, sem gentilezas, sem atos que não visassem algo em troca.

   — Olá, está com fome escrava? — Esticou um prato com carne de sol e um largo torrão de pão de milho um viking com longos cabelos emaranhados em uma trança mal feita.

A Arma dos Deuses - Vikings [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora