04 de Junho de 2021
Querido leitor,
Às vezes me pego imaginando como seria escapar daqui. Dormir como uma terráquea e acordar como cidadã da cidade lunar. Ou de outro sistema. Ou de outra galáxia. Existirá uma realidade distinta da que conheço fora daqui? Existirá magia e um lugar no qual as estrelas silenciam todas as demais belezas? Existirá amor em algum lugar? Um amor que valha a pena se submeter? Existirá um mundo sem fome, sem doenças, sem conflitos, sem preconceito? Talvez a utopia seja falsa mesmo no Mundo das Fadas. Talvez jamais a existência venha a ser tão pacífica dessa forma. Talvez estejamos condenados a viver em inconstâncias. Ou talvez haja algo melhor que um dia nos encontrará, daqui a muito tempo. A verdade é que não sei, nada sei. Em noites frias como a de hoje, eu me sinto sozinha. Sinto a falta do calor humano, de um abraço verdadeiro; de alguém para compartilhar algo genuíno. Em outros momentos, quero que tudo acabe, que simplesmente possamos nos fundir em algo distinto de tudo o que conhecemos. Há momentos em que a solidão é vasta demais, me engole e me faz querer desistir de tudo o que já conheci. Mas também há vidas que quero viver, conhecer e experimentar. Não sei se serei capaz de tudo e de tanto. Não sei nem mesmo se sobreviverei a essa distopia. Talvez amanhã eu não acorde mais. Ou talvez eu viva para sempre, de maneiras tão intensas que me farão me sentir imortal. Talvez eu alcance meus sonhos e possa concretizar o que quer que seja que eu tenha sido destinada. Talvez eu ainda assista a Aurora Boreal com alguém que me ame ao meu lado. Talvez eu viaje o mundo estudando, sendo fruto de todo meu esforço. Talvez eu seja uma madrinha maravilhosa e possa ensinar meus afilhados a amarem a vida. A sonhar. Talvez eu possa retornar todo o carinho que um dia me ofereceram. Ou talvez não. Talvez eu não passe de pó e cinzas e dor. Uma névoa de inverno, passageira e esquecível. E não é isso que somos? Humanos, reféns do tempo? Construindo, criando, destruindo, desejando, sonhando, trabalhando e se doando, mesmo quando não vivemos para sempre? Mesmo quando somos criaturas destinadas a desaparecer... É essa efemeridade que me fascina. Que me assusta, de fato, e às vezes me faz querer me esconder em um canto escuro, sozinha, onde nenhum medo me alcançará. Mas é também ela a responsável por querer me fazer viver, ver a vida de formas diferentes. É isso que a torna preciosa, afinal. Ser passageira. Se o fim do mundo estivesse próximo, onde eu escolheria estar? Bem, em muitos lugares. Em lugares que me aproximariam da utopia da minha mente apaixonada por fantasia. Em lugares que eu me sentisse mais próxima das estrelas, amada, desejada. Me sentisse completa, sozinha. E, acima de tudo, acho que ainda escolheria estar comigo mesma, sendo quem eu sou, refletindo sobre minha passagem por esse planeta gigante. Sendo uma partícula na vastidão do Universo. Se o fim do mundo estivesse próximo, eu gostaria de saber que tudo valeu a pena. Porque valeu. Porque cada suspiro, cada dor, cada precipício, cada avalanche e cada obstáculo. Todos os choros, toda a solidão, toda escuridão e pensamentos obscuros. Tudo contribuiu para que eu me encontrasse em um processo de desconstrução. É o que somos: ruínas aprendendo a semear. Então, eu lhe pergunto:Se o fim do mundo estivesse próximo, onde você gostaria de estar? O que gostaria de fazer? Quem gostaria de ser?
E por que não faz tudo isso enquanto tem certeza de estar vivo?
Com amor,
A escritora que tentou alcançar às estrelas e retornou de mãos vazias.
-porque a beleza não pode ser tocada, apenas apreciada
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O Diário de Devaneios Estrelares
PoesíaSobreviver entre as chamas da dor é um caminho pedregoso e vicioso. Primeiro, o calor te consome, te transforma em algo novo e antigo, te entorpece do prazer de se sentir acomodado em um lar. Mas então, ele se transforma em fogo, e o fogo desfaz pel...