Prólogo

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  Dia do término
01 de Abril de 2021

— Onde você disse que estaria? – perguntei. Apenas perguntei. Respirando fundo e com a voz controlada.

— Em um jantar de negócios querida. Sabe, coisa importante. Por quê?

Sua voz soava metódica e comum. Controlada. Eu estava irritada. E magoada. Eu sabia que ele não estava naquele jantar de negócios. Eu sabia mesmo que ele não havia ido a nenhum restaurante. Claro, ele estava do lado de fora de seu carro, um Audi A8, lindo e preto. E acompanhado. Ele estava acompanhado de uma loira que eu nunca havia visto, mas isso não me importava.

Seu vestido roxo estava mostrando exatamente quase tudo de suas pernas enquanto se entregava em Jason, o rosto grudado em seu pescoço enquanto a mão dele repousava em sua bunda. Aquela era a pior cena possível para se estar vendo em uma sexta feira a noite, escondida em um beco escuro com dois amigos que faziam de tudo pra manter o silêncio. Eu me sentia como uma adolescente mesmo aos 23 anos, me senti suja também. As mãos que ele usava pra me acariciar a noite agora estavam em outra mulher. A ficha ainda não estava caindo, eu não quis acreditar.

— Tem ... tem certeza de que está nesse jantar? Eu queria ter ido. – Também queria estar mais aquecida ao invés de estar usando somente uma calça jeans preta e uma camisa cinza qualquer.

— Vamos lá amor, seu lugar é em casa e quentinha. E o bar está agitado hoje.

Bar ... É claro.

— Achei que tivesse ido em um restaurante. – Ergui as sobrancelhas  pedindo silenciosamente para que Ashley Green e Gabriel Thompson ficassem em silêncio quando ameaçaram ir até Jason. Sua cara nem ardia de vergonha.

— Ah bem, sim sim estou em um restaurante óbvio, não sei porque falei bar. Deve ser a hora e o cansaço. – Mentiroso mentiroso mentiroso. — Olhe, eu preciso desligar ok? Tem amigos vindo pra sentar.

E por "amigos" ele quis dizer "Vou trepar com essa loira neste motel como fazia com você em casa e volto logo."
As lágrimas saiam rolando por meu rosto que estava ficando rechonchudo, hormônios. A garota loira de cintura de modelo o agarrou pela cintura o puxando para um beijo descarado, no meio da rua! Por Deus eu queria estapear os dois. Eu não aguentava mais daquilo.

Eles sabiam e me alertaram...

Gabe foi o primeiro a perceber que Jason não cheirava a coisa boa. Nós estávamos namorando já faziam quase 5 anos. Estávamos tão bem... Nós tínhamos planos, bom, pelo menos eu tinha. Casar, construir nossa casa aos poucos e ter nossas miniaturas correndo pelo jardim. Um sonho que me encorajou por noites a dar minha virgindade para Jason, agora eu me sentia suja demais, queria tomar banho, queria não ver aquela cena dele cruzando a rua com a garota para entrar no motel. Inspirei e inspirei, expirei, as mãos de Ashley foram a minha e encerraram a ligação. Eu sabia que meus dedos tinham congelado onde estavam, segurando com força o celular. Aquela confirmação era... Caramba, dolorosa, era como se meu coração tivesse inchado e virado uma grande bola prestes a explodir, o ar então parecia ser pouco e eu sabia que iria hiperventilar.

— Theo querida... Nós podemos... podemos ir embora. O Gabe e eu podemos dar conta dele, ou, não sei, podemos só te levar pro nosso apartamento. Se ele bater jogamos ele no caminhão do lixo. – A voz de Ashley era um vento quente em minha cabeça. Longe demais pra me alcançar. Gabe estava mortalmente quieto e me dando aquele olhar. Pena. Eu odiei ver a pena em seus olhos.

Eu não pensei, eu fui. Eu fui atrás dele. Não, eu corri atrás dele. Como sempre fiz. Pela última vez.

Nós iríamos casar em breve...

Nós iríamos construir nossa casa em Nova Orleans...

Nós iríamos ter um bebê... Nós iríamos ter um bebê! E ele estava com ela.

A decepção escorria em forma de lágrimas em meu rosto que eu podia apostar, estava vermelho e inchado, até que o alcancei, havia fúria em meu olhar enquanto ele se virava com... A surpresa. E o medo. O medo porque ele sabia que havia perdido. Fim de jogo Jason.

Ele, pela primeira vez, não parecia ter palavras para o que estava vendo. A loira ao lado dele parecia igualmente chocada, então isso só podia sugerir que ela sabia que tinha destruído tudo. Aquela ganhou um novo apelido. Loira magrela destruidora de lares. E bem, talvez ela tivesse conseguido por ser magrela. Talvez se eu fosse magrela teria o segurado mais. Talvez fosse por isso que Jason me sempre surgia com uma nova dieta maluca que me deixava na maioria das vezes com fome. Eu estava um caco. E cansada. Eu estava cansada.

— Então é aqui o restaurante? Ou bar? E só posso sugerir que essa deve ser o amigo com quem você iria negociar. Mas o que? Seria uma troca de saliva interessante pra você negociar não? – Nem eu mesma reconhecia o sarcasmo e a dor em minha fala. Havia tanto ódio. Tantos anos jogados fora.

— N-não é isso que você está pensando Theo... Eu, olha, deixe-me explicar. Não é o que você pensa.

— Você já disse isso. E, no entanto, eu não consigo imaginar o que mais dois adultos estariam à fazer em um motel às 21:13 da noite. – Revirei os olhos sentindo mais lágrimas caindo em meu rosto, mesmo que eu tivesse abrindo um sorriso. Amargo e feio. — Espera, não, eu sei o que vieram fazer. Foi a mesma coisa que nos fizemos durante quase 5 anos de namoro, a mesma coisa que me fez pensar em ter tudo com você. A mesma coisa que me fez engravidar de você seu, seu... Seu animal! Como você pôde?!

Àquela altura eu sabia que várias pessoas assistiam, eu sabia que havia entrado em prantos e chorado alto enquanto ouvir murmúrios, risos e palavras de piedade. Eu odiava aquilo. Eu odiava todos eles, eu odiava Jason. Odiava seus toques e juras de amor falsas, odiava a loira ao seu lado rindo do meu desespero, eu me odiava. Me odiava por ter continuado, me odiava por não ter ouvido quando Gabe me disse pra ficar esperta e ver o que ele faziatão tarde. Deus por quanto tempo ele fazia isso?

— Theodora pare com isso esta fazendo uma cena! Não estávamos fazendo nada demais amor...

Ele ainda tinha coragem de mentir, de me chamar de amor? Na frente de todos?

— Oras por favor seu cafajeste! – A voz de Ashley finalmente veio alta, enquanto um resignado Gabriel me puxava pra trás, ou tentava. —  Nós estávamos vendo você se agarrando com essa loira oxigenada dentro daquele carro desde que você chegou! Uma pena que você não tenha desligado seu GPS querido.

O rosto de Jason se encheu de fúria e vermelhidão, então eu tive medo e puxei a mão de Ash, ignorando seu olhar exasperado. Jason gritava muito e socava as coisas quando ficava muito irritado.

— Não me chame de amor. Eu nunca fui um amor pra você Jason. Nunca fui nada além de um brinquedo. Não volte, por favor. Continue com sua garota. Eu vou pra casa da Ash e não quero que me ligue. Não quero que lembre de mim. Não quero que pense em meu cheiro. Por favor, esqueça de mim como você sempre fez.

— Theodora... pela porra! – ele parecia desesperado agora, passando a mão irritado por seu cabelo loiro perfeito. — Você é minha!

Agora ele estava gritando isso. E eu não conseguia concordar. Eu não era dele. Eu nunca fui. E isso estava doendo tanto agora que precisei me apoiar em Gabe.

— Vamos lá Theo, vamos embora. Você precisa tomar um banho e comer algo.

A voz de Gabriel era suave em meu ouvido. Nós andávamos até o calçamento da outra rua enquanto Gabe destravava seu carro e me ajudava a sentar no banco do passageiro. Dormir. Eu só queria dormir. Não tinha fome ou energia suficiente pra nada além disso.

Era isso. Uma história de 4 anos e meio tinha acabado. Nos tínhamos acabado. Eu estava destruída.

Avesso e Redenção - BlackburnOnde histórias criam vida. Descubra agora