Duas semanas após o término
15 de março de 2021
— Bem, você parece uma merda querida. Está tão pálida e parece ter emagrecido, normalmente as grávidas ganham uns quilos não?
A honestidade de Gabriel não era bem vinda ali. Na verdade, eu sabia que ele tinha razão, eu havia visto aquela mesma imagem em meu espelho no quarto enquanto me arrumava pra sair, precisa ir trabalhar e sabia que ter sido trocada por uma loira de esquina não seria uma boa desculpa pra faltar ao trabalho aquela quinta feira. Maire, minha chefe, jamais permitiu que eu me atrasasse ou faltasse, apenas por motivos de vida ou morte como costumava dizer.
A voz de Gabriel no celular quebrou minha inércia e profundidade no pensamento sobre meu corpo, sim, eu estava horrível.— Estou bem Gabe, você e Ashley se preocupam demais. Logo estarei ganhando tantos quilos que nem conseguirei andar direito.
— Bobagem ! Você tem toda essa cintura e pernocas grossas, é bem capaz de erguer um prédio se quiser. – Dessa vez, eu ri. — Que novidade coloral estaremos a ver hoje ?
Gabe odiava meu estilo. Na realidade, eu não tinha um estilo. Eu usava a cor que mais me agradava ou a roupa que me deixasse mais confortável e menos gorda. Eu continuei a me encarar no espelho enorme da parede ao lado da cama. Meus cabelos castanho escuro, quase pretos estavam enormes, na altura do meu bumbum, eram lisos como os de minha mãe, mas ondulados, meus olhos eram verdes puros e tinham algumas sardas espalhadas por minha bochecha e colo. Tinha seios muito grandes que me impediam de ver as pontas dos meus pés — e ok, talvez eu precisasse fazer uma redução mas cirurgias me deixavam angustiada —, meus quadris eram largos e eu precisava sempre procurar por tamanhos a partir de 42 para calças. Mas eu estava melhor aquele dia. O suficiente pra usar tons terrosos ao amarelo. Tinha uma calça de camurça em tom mostarda, usava uma regata justa preta por baixo da camisa de lã em tons de marrom branco e preto, além de minhas botas curtas pretas. No mais, catei uma jaqueta jeans e era isso, eu estava pronta.
— Theo?
A voz de Gabe me despertou. Eu estava acostumada a entrar em transes momentâneos do nada, o que fez Gabe e Ashley sugerirem que eu precisava de uma psicóloga, o que prontamente neguei. Eu me sentia firme o suficiente, mas sabia que a intensão era doce.
— Você sabe. A mesma calça de sempre. A mesma bota de sempre. Mas mudei o casaco. – Respondi casualmente enquanto pegava minha bolsa preta com um chaveiro de gato pendurado.
— Por Deus essa coisa de lã é horrível! Jogue isso fora Theo, eu juro que visto você muito melhor querida. Não se humilhe por causa daquele traste.
Senti meus olhos rolarem quanto saía da cama, indo pelas escadas após trancar o quarto. Eu havia arrumado o mesmo pela terceira vez aquela manhã, ainda odiando como tudo ainda parecia ... dele. Antes haviam tons de outono, cores quentes e terrosas que me faziam sentir como, não sei, casa. Moradia. Conforto. Haviam minhas almofadas fofas e redondas pelo chão do quarto e minhas cobertas fofas de lã, meus abajures de lavanda e pisca piscas presos nas paredes. Agora o quarto era todo branco, sem vida. Ele havia me feito mudar tudo pois sempre dizia que toda aquela "terra" doía seus olhos, ou que eu tinha um estilo eclético demais e estava ficando junto feio. Agora parecia dele. Tinha o cheiro dele, tinha os toques dele, cada detalhe. Eu me odiei e quis sentar no degrau e chorar, mas tinha que ir trabalhar.
— Eu vejo você no trabalho Gabe. – Desliguei antes que ele mencionasse Jason novamente. Jason era a palavra proibida, eu não dizia o nome dele nem deixava que me falassem, mesmo que o nome me viesse na mente as vezes. Eu sei, era deprimente.
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Avesso e Redenção - Blackburn
Fantasy+18 Theodora sonhava com a vida americana perfeita. Marido incrível, filhos adoráveis e uma casa confortável e grande para viverem. Porém, por uma gozação da vida, seu mais recente namorado lhe trai em seu aniversário, justamente no dia em que ela r...