Capítulo 12 - Telas

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Não, isso não é um epílogo, AINDA! 


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Sete anos depois.


Jaehyun nunca soube o porquê do Taeyong ter decidido partir. Sentia seu coração rachar ao se lembrar daquele sorriso puro e brilhante, aquele sorriso que teve para si durante tão pouco tempo, mas que foi capaz de mudar sua vida e construir. Sentia falta dos fins de tarde, sentia falta das conversas e de não se sentir sozinho. Sempre que sua irmã ia o visitar na cadeia, Jaehyun fazia questão de a acompanhar em todas, mesmo sabendo que Taeyong nunca queria o ver. Sooyeon tentou explicar várias vezes que aquilo não só acontecia com ele, mas com todo mundo, com exceção da advogada e da psicóloga. No começo ficou chateado, mas com o tempo começou a entender melhor a situação do garoto e passou a respeitá-lo, mesmo que aquilo o machucasse.

Sentou-se no chão frio e limpo e passou a admirar seus quadros pendurados na parede de cimento queimado. Nunca gostou de pintar por pura obrigação, sempre achou esse ato forçado. Quando pintava era apenas uma forma de desabafar e mesmo que todos os seus sentimentos, muitas vezes, fossem constituídos de frustração, estresse, monotonia e saudades, suas obras eram dignas de museu. A dor é amarga, mas ainda é bonita. A verdade é que se você ainda sente dor, é porque está vivo e sendo forte.

Juntou suas forças e usou uma coragem que não sabia de onde vinha e se levantou, fazendo uma careta de dor ao pressionar seu dedo machucado contra o chão. Fez uma nota mental de que quando chegassem em casa, trataria de comprar comida no restaurante mais próximo e trocaria o curativo velho do dedo por um mais novo.

Sua vida depois da faculdade continuava monótona, tinha deixado de lado a mania de programar o seu dia em folhas coloridas e apenas seguia em frente. Era sempre a mesma coisa sem graça e cansativa: acordava cedo, passava as manhãs e tardes nas obras e tirava a noite para ter seu tão merecido descanso. Muitas vezes, quando sua cabeça estava cheia de mais do cotidiano exaustivo, ele não media esforços para correr em direção ao porão da casa, onde pintava a noite toda, em certo desabafo. Depois, de manhã cedo, se amaldiçoava por não ter descansado o bastante e passava o dia como um zumbi digno de filme de terror.

Passou seus dedos pela tela de coloração acinzentada e deixou escapar um pequeno sorriso. Era uma tela especial, uma das primeiras após a faculdade. Olhou para o relógio em seu pulso e suspirou cansativo. Pelas suas contas, em menos de três horas a escola já iniciaria a sétima exposição de arte e fotografia do campus dois e mesmo que não estudasse lá a um bom tempo, Tiffany sempre o convidava. Sentia-se em casa com seus pensamentos.

Foi dando pequenos passos para trás, tendo uma visão perfeita de seus quadros bem posicionados na parede cinzenta com a pouca iluminação das lâmpadas amareladas, até sentir algo sólido se chocar contra suas costas, o fazendo parar. A coluna fria atrás de si o fez encolher os ombros e enfiar as mãos gélidas no bolso do moletom. Estava nervoso, assim como se sentia todos os anos participando da exposição, mas naquele momento em particular, sentia algo em seu estômago e tinha a absoluta certeza que não era fome. Sem ao menos perceber, vai-se encaixando seus fones em seus ouvidos, primeiro o direito e logo em seguida o esquerdo – como sempre fazia na mesma ordem -, dando play em uma música já bastante conhecida. Fechou seus olhos e balançou a cabeça lentamente, de acordo com a melodia doce da música.

- Jaehyun?

O jovem engenheiro abriu os olhos de supetão ao ouvir uma voz o chamando de longe, pedia pacientemente para que seu coração pudesse manter seus batimentos calmos e estáveis, como um coração normal, sem risco de ter um ataque cardíaco. E tudo isso tinha uma explicação: esperança. Esperança de poder ouvir aquela voz novamente, o chamando pelo nome.

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